Até David Cameron pede que Angela Merkel apoie crescimento da Europa
Premiê britânico partilha do mesmo credo ideológico da chanceler alemã mas defende estimulo à economia que piora a cada semana
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*Texto originalmente publicado na Carta Maior | Tradução: Katarina Peixoto
O primeiro ministro britânico David Cameron apoiou a atribulada chanceler alemã Ângela Merkel dizendo que nenhum país é responsável pela situação do euro e que um aprofundamento da união é a estratégia adequada para sair da crise. Em uma cúpula em Berlim com a chanceler alemã, Cameron deixou claro que o Reino Unido se manteria fora da zona do euro, mas reafirmou que o êxito do euro é fundamental para evitar o maior perigo que enfrenta hoje a economia mundial. “É preciso agir com urgência armando uma sólida couraça protetora e recapitalizando os bancos, mas também com um plano crível para lidar com o déficit e a dívida. Os países da eurozona precisam aprofundar sua integração”, disse o primeiro ministro britânico.
Merkel e Cameron compartilham um mesmo credo ideológico. Na contracorrente do keynesianismo que postula a necessidade de estimular a economia gerando emprego como saída da recessão, o primeiro ministro britânico e a chanceler alemã apostam na redução do déficit fiscal para gerar confiança nos mercados financeiros e crescer pela via dos investimentos.
O debate não é novo. Na eleição de 1932, foi travado pelos republicanos de Herbert Hoover com os democratas de Franklin Roosevelt que terminaram tirando os Estados Unidos da recessão com um “New Deal” de corte keynesiano. A Argentina dos primeiro meses após o fim da convertibilidade peso-dólar se debateu entre o programa de austeridade proposto pelo FMI e a necessidade de reativar uma economia devastada.
O problema de Angela Merkel hoje é que Barak Obama teme que a incipiente recuperação econômica que obteve com seu tímido keynesianismo seja anulada por uma crise da eurozona e complique sua reeleição este ano. Obama ganhou, nas últimas semanas, um aliado no coração da zona do euro: o presidente francês François Hollande. Na Cúpula do G8 em Camp David, no mês passado, e na cúpula informal de Bruxelas, há duas semanas, a chanceler alemã pareceu claramente isolada.
David Cameron, por sua vez, está numa posição delicada. No Reino Unido, ele impulsiona a austeridade e rechaça os chamados da oposição trabalhista para um plano B keynesiano diante da recessão, mas na Europa defende que a Alemanha estimule a economia que piora a cada semana desde o começo da crise da dívida soberana em janeiro de 2010. A eurozona é fundamental para a economia britânica: absorve quase a metade de suas exportações. O primeiro ministro culpou o euro pela segunda recessão que o país sofre em três anos.
A chanceler alemã enfrenta uma dicotomia similar. A pressão externa para que afrouxe o cinto da austeridade contrasta com sua opinião pública que se opõe a financiar novos resgates. Enquanto a maioria dos países da eurozona, liderados por François Hollande, defendem um eurobônus para neutralizar a pressão dos mercados, na Alemanha as pesquisas indicam que 80% da opinião pública se opõe a esta medida. Merkel tem um problema: todos estão esperando algo da Alemanha. Obrigada a mostrar algum plano, nesta quinta-feira insistiu em Berlim que quer aprofundar a união, tanto em nível bancário como político. “Não é possível pensar que com uma medida audaciosa conseguiremos superar a crise do euro. Estes problemas vêm de muitos anos e são necessárias muitas medidas para que o sistema funcione”, disse Merkel.
Uma união bancária implicaria uma supervisão pan-europeia e um fundo unificado para lidar com uma crise no financiamento dos bancos. Uma união política implicaria completar o processo iniciado em dezembro com a assinatura do tratado de unidade fiscal que comprometeu os países europeus com um equilíbrio orçamentário. O problema é que ambas as medidas, mesmo que sejam a solução de que precisa o euro para sobreviver, demandam tempo e a crise da dívida na eurozona vem esperando há mais de dois anos que Merkel ofereça uma liderança clara em meio à tormenta.
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