As luzes vermelhas estão acesas no quadro geopolítico de 2013
China e EUA disputarão Ásia; Europa seguirá em crise; Israel tentará bombardear Irã
Agência Efe


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Diante do “eixo xiita” (Hezbollah libanês, Síria e Irã), os Estados Unidos constituíram, na região, um amplo “eixo sunita” (desde a Turquia e Arábia Saudita até o Marrocos, passando pelo Cairo, Trípoli e Túnis). Objetivo: derrubar Bashar al Assad e despojar Teerã de seu grande aliado regional – antes da próxima primavera. Por que? Porque em 14 de junho haverá, no Irã, haverá eleição presidencial (2). Nelas, Mahmud Ahmadinejad, atual mandatário, não pode concorrer, já que a Constituição não permite exercer mais de dois mandatos. Ou seja, durante o próximo semestre, o Irã estará imerso em ácidas disputas eleitorais, entre os partidários de uma linha dura diante de Washington e os que defendem a via da negociação.
Diante desta situação iraniana de certo desgoverno, Israel estará em ordem de marcha para um eventual ataque contra as instalações nucleares de Teerã (3). No Estado judeu, as eleições gerais de 22 de janeiro produzirão provavelmente a vitória da coalizão ultraconservadora que reforçará o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, partidário de bombardear o Irã o quanto antes.
Este ataque não pode ser executado sem a participação militar dos Estados Unidos. Washington irá aceitá-lo? É pouco provável. Barack Obama, que toma posse em 21 de janeiro, sente-se mais seguro depois da reeleição. Sabe que a imensa maioria da opinião pública estadunidense (4) não deseja mais guerras. O front do Afeganistão segue aberto. O da Síria, também. Outro pode abrir-se no norte do Mali. O novo secretário de Estado, John Kerry, terá a delicada missão de acalmar o aliado israelense.
Enquanto isso, Obama olha para a Ásia, zona prioritária desde que Washington decidiu a reorientação estratégica de sua política externa. Os Estados Unidos tratam de frear, ali, a expansão da China. Cercam-na de bases militares e apoiam-se em seus parceiros tradicionais: Japão, Coreia do Sul e Taiwan. É significativo que a primeira viagem de Barack Obama, depois de sua reeleição, tenha sido para Mianmar, Camboja e Tailândia. São três membros da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), uma organização que reúne aliados de Washington na região e cuja maioria dos membros tem problemas de limites marítimos com Pequim.
A China designará Xi Jinping presidente, em março próximo. Seus mares converteram-se nas zonas de maior potencial de conflito armado da área Ásia-Pacífico. As tensões de Pequim com Tóquio, a respeito da soberania das ilhas Senkaku (Diaoyú, para os chineses), podem agravar-se depois da vitória eleitoral, em 15 de dezembro último, do PLD (Partido Liberal-Democrata), cujo líder e novo primeiro-ministro, Shinzo Abe, é um “falcão” nacionalista, conhecido por suas críticas à China. Também a disputa com o Vietnã, sobre a propriedade das ilhas Spratley, está subindo perigosamente de tom. Sobretudo, depois que as autoridades vietnamitas colocaram oficialmente o arquipélago sob sua soberania, em junho passado.
A China está modernizando a todo vapor sua marinha de guerra. Em 25 de setembro último, lançou seu primeiro porta-aviões, o Liaoning, com intenção de intimidar seus vizinhos. Pequim suporta cada vez menos a presença militar dos Estados Unidos na Ásia. Entre os dois gigantes está se instalando uma perigosa “desconfiança estratégica” (5) que, sem dúvidas, marcará a política internacional do século XXI.
(1) Ler o dossiê “France and the euro. The time-bomb at the heart of Europe”, The Economist, Londres, 17 de novembre de 2012;
(2) No Irã, o presidente não é o chefe de Estado. Este papel é exercido pelo Guia Supremo, com mandato perpétuo, função exercida atualmente por Ali Khamenei;
(3) Ler, em Outras Palavras, “Ignacio Ramonet vê o xadrez das ameaças ao Irã”;
(4) The New York Times, Nova York, 12 de novembro de 2012;
(5) Ler, de Wang Jisi y Kenneth G. Lieberthal, “Adressing U.S.-China Strategic Distrust”, Brookings Institution, 30 de marzo de 2012.
(*) Ignacio Ramonet é jornalista. Texto publicado em português no blog Outras Palavras. Tradução; Antônio Martins.























