A ilusão do ‘Grande Israel’ é uma ameaça existencial e um perigo à paz e à segurança internacionais
Com sua cooperação e apoio a Israel, potências ocidentais não são apenas cúmplices; estão representando uma ameaça à paz e à estabilidade regionais e globais
Às vésperas da Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), a mais grave ameaça existencial que paira sobre a região e o mundo islâmico pesa sobre a consciência da humanidade mais do que nunca. É a entidade sionista, que continua sua implacável campanha de terra arrasada em Gaza, cometendo massacres horrendos contra mulheres e crianças, além de deslocar repetidamente a população. Transformou a fome e a inanição em uma nova ferramenta desse genocídio, centros de distribuição de alimentos em armadilhas mortais para mulheres e crianças famintas, sublinhando o fato de que este é um dos episódios mais sombrios da tragédia humanitária da era moderna.
Esta guerra contra a Faixa de Gaza não é apenas um conflito militar passageiro ou uma crise humanitária comum: trata-se de um genocídio sistemático, pleno e explícito, destinado a alcançar a limpeza étnica em meio ao silêncio cúmplice dos Estados Unidos e do Ocidente em geral.

O ministro de Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi.
(Foto:
Hamed Malekpour / Mehrn News / Wikimedia Commons)
Os crimes da entidade sionista de forma alguma se limitam a Gaza. Sua expansão de assentamentos na Cisjordânia está se acelerando, e o terror de colonos armados contra os palestinos está se intensificando. Paralelamente a essa investida de anexação, Israel intensifica a judaização de Jerusalém, viola constantemente cessar-fogos com o Líbano, ataca a infraestrutura do Iêmen e mina os pilares do Estado sírio ao fomentar conflitos internos para dividir o povo sírio. O Irã tornou-se seu mais novo alvo após a guerra que ceifou a vida de mais de mil dos meus compatriotas. Devemos também mencionar as declarações públicas dos líderes dessa entidade e seus mapas distorcidos do que chamam de “Grande Oriente Médio”. Eles se vangloriam abertamente de suas intenções expansionistas e ameaçam seus vizinhos, não restando dúvida de que esse tumor maligno está se espalhando pelo corpo da região.
Seus planos de ocupar integralmente a Faixa de Gaza e deslocar à força sua população para áreas remotas não passam de mais um elo na cadeia de esforços para exterminar o povo palestino. Essas ações, juntamente com as declarações feitas por criminosos de guerra sionistas (muitos dos quais são procurados por tribunais internacionais), demonstram que essa entidade artificial está determinada a realizar uma limpeza étnica. Seu objetivo é o apagamento total e irreversível de Gaza e de sua identidade política, bem como da causa palestina em sentido mais amplo.
Enquanto engendra tragédias, promove guerras e aventuras temerárias em Gaza, no Líbano e em outras partes da região, a ocupação busca dilacerar a Síria com seus ataques à infraestrutura vital do Estado e com o caos que promove em Sweida.
Isso levanta uma questão essencial e decisiva: depois da Síria, qual país da região será o próximo alvo da agressão ou ocupação militar de Israel? É possível sequer vislumbrar os limites das insaciáveis ambições expansionistas dessa entidade?
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As recentes declarações do primeiro-ministro dessa entidade, em meio à sua busca expansionista e beligerante por um “Grande Israel do Nilo ao Eufrates”, não são meras palavras ocas. Elas expõem, de forma explícita e inequívoca, sua estratégia política: violar a soberania nacional, a integridade territorial e a segurança de Estados independentes em toda a região. Suas afirmações incendiárias configuram uma flagrante violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, revelando os planos dessa entidade de dominar o mundo islâmico como um todo.
Com sua cooperação e apoio a essa entidade criminosa, certas potências ocidentais (particularmente os Estados Unidos) não são apenas cúmplices; estão representando uma ameaça à paz e à estabilidade regionais e globais. Os vetos norte-americanos no Conselho de Segurança o paralisaram, impedindo-o de cumprir seu dever de pôr fim à agressão israelense e responsabilizar os perpetradores.
Esta Reunião Extraordinária da Organização para a Cooperação Islâmica ocorre em um momento em que a situação na Palestina ocupada ultrapassa o nível de catástrofe; não há palavras para descrever uma tragédia humanitária e moral dessa magnitude. As estatísticas são chocantes e vergonhosas: mais de setenta mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, perderam a vida ou permanecem soterradas sob os escombros acumulados ao longo dos últimos dois anos, e mais de cento e setenta mil ficaram feridas.
Segundo as Nações Unidas, Israel mata em média trinta e oito crianças palestinas por dia. Noventa por cento de Gaza tornou-se inabitável, e Israel iniciou oficialmente sua campanha para ocupar militarmente a cidade e deslocar sua população desabrigada para o sul da Faixa.
Fortalecido pelo apoio maciço do Ocidente, o primeiro-ministro dessa entidade criminosa fala abertamente de um mandato para estabelecer o “Grande Israel” — um projeto sinistro que implica a ocupação e anexação de terras árabes e islâmicas.
Diante desse cenário, ilusões e complacência não são admissíveis. A Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da OCI deve tornar-se um ponto de inflexão. Deve refletir e reforçar a determinação comum das nações islâmicas de enfrentar as ambições insaciáveis de Netanyahu e de seu círculo, e de pôr fim ao massacre de inocentes, aos ataques contra países islâmicos e à busca pela anexação. Não podemos apenas declarar nossa solidariedade ao povo palestino ou expressar preocupações. Esta reunião constitui um verdadeiro teste histórico para a Ummah islâmica; pode ser uma rara oportunidade de construir uma frente regional e global capaz de resistir à agressão israelense.
Para além de declarações e condenações, a reunião deve gerar um impulso político e diplomático sério, forjando uma forte coalizão global que obrigue a entidade sionista a encerrar imediatamente sua campanha genocida e abandonar seus projetos expansionistas, separatistas e coloniais.
A busca por responsabilização jurídica é igualmente essencial. Os processos devem ser acompanhados em instituições internacionais, incluindo a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional, para julgar os líderes dessa entidade criminosa e impor sanções militares e econômicas abrangentes contra ela.
Paralelamente a essas medidas, deve-se estabelecer um corredor humanitário seguro, supervisionado pelas Nações Unidas e pela Organização para a Cooperação Islâmica, a fim de garantir a provisão imediata e incondicional de alimentos, remédios e combustível à população sitiada — trata-se de uma obrigação moral e legal urgente.
A República Islâmica do Irã considera esta reunião um passo necessário para um esforço coletivo destinado a desenvolver e implementar medidas eficazes, urgentes e dissuasivas. Como representantes das nações islâmicas, temos uma responsabilidade religiosa e humanitária (bem como nossas obrigações legais, nos termos da Carta das Nações Unidas, da Convenção para a Prevenção do Genocídio e das quatro Convenções de Genebra de 1949) de apoiar medidas decisivas e sérias em favor de nossos irmãos e irmãs em Gaza e na Cisjordânia, interromper o genocídio em curso, responsabilizar os criminosos e erguer uma barreira contra as ambições expansionistas dessa entidade fora-da-lei que ameaça o mundo islâmico.
Hesitação ou negligência terão um custo devastador para a Ummah islâmica, assim como cair nas promessas vazias de iniciativas como os chamados “Acordos de Abraão”. Silêncio e inação diante das atrocidades e crimes cometidos pela entidade sionista — postergar o enfrentamento das políticas e ações de cunho nazista do Hitler de hoje — não constituem apenas uma traição ao povo palestino oprimido, mas também aos próprios alicerces da moralidade, da civilização humana e da segurança regional.
A era dos slogans, declarações, condenações e preocupações acabou. Agora é tempo de unidade e solidariedade, em palavra e ação. O mundo islâmico deve agir com decisão e fortalecer a cooperação e a coordenação integrais. Devemos salvar vidas inocentes em Gaza e proteger o mundo islâmico, pois a história nos julgará.
Provemos que a Ummah islâmica, em um dos momentos mais dolorosos e decisivos de sua história, conseguiu defender os oprimidos e conter seu opressor.
A preservação do mundo islâmico, da segurança nacional e da soberania dos Estados da região, bem como nossa sagrada busca por um Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital, depende das decisões firmes e resolutas que a Organização para a Cooperação Islâmica deve tomar diante da ameaça existencial representada por esse poder ocupante genocida.
(*) Abbas Araghchi é ministro de Relações Exteriores do Irã.























