Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Faleceu nesta sexta-feira (05/09), aos 75 anos, o diretor e roteirista Silvio Tendler, autor de célebres documentários e filmes de ficção, que renderam a ele o apelido de “cineasta dos sonhos interrompidos”.

O artista estava internado no hospital Copa Star, em Copacabana, e a notícia de sua morte foi tornada pública através de um comunicado divulgado pela produtora Caliban, fundada pelo próprio cineasta.

A nota diz que Silvio “deixa uma filha, um neto, mais de cem obras, incontáveis amigos, centenas de ex-alunos, uma legião de fãs e a semente da justiça social plantada em todos nós”.

Silvio Tendler iniciou sua relação com o cinema nos Anos 60 como integrante do Movimento Cineclubista do Rio de Janeiro. Formado em História pela Universidade de Paris VII, e mestre em cinema pela Sorbonne, ele realizou suas primeiras obras de sucesso nos Anos 80, entre elas Os Anos JK (1980), O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981) e Jango (1984).

Já no Século 21, produziu alguns dos seus documentários mais premiados e reconhecidos, como Glauber o Filme: Labirinto do Brasil (2003) e a série conhecida como Trilogia da Terra, formada pelos filmes O Veneno Está na Mesa (2011), O Veneno Está na Mesa 2 (2014) e Agricultura Tamanho Família (2014).

O velório acontecerá no domingo, dia 7 de setembro, às 11h, no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro – cidade onde ele nasceu e morreu.

Silvio Tendler viveu no Chile entre 1970 e 1973, antes de iniciar sua carreira de cineasta
Caliban Produções

Retorno ao Chile

Silvio Tendler foi um dos brasileiros exilados em Santiago, que viveram dois golpes: o de 1964 no Brasil e o de 1973 no Chile.

Aos 20 anos de idade, ele se mudou para o país andino no final de 1970, logo após a eleição e posse do presidente socialista Salvador Allende. “Desembarquei no Chile em 10 de novembro, seis dias depois da posse do Allende. Eu tinha 20 anos de idade e senti que se abriram as portas do paraíso. O Brasil era uma ditadura sanguinária e ali eu encontrei um povo com alegria, entusiasmo e fé no socialismo”, recorda.

Essa experiência foi contada por uma reportagem de Opera Mundi publicada em 2023, em meio aos eventos que rememoraram os 50 anos do golpe de Estado que instalou a ditadura de Augusto Pinochet no país.

Tendler foi um dos integrantes da caravana que reuniu centenas de outros sobreviventes que viveram a experiência do golpe em 11 de setembro de 1973. Ele chegou a reunir material audivisual daquela viagem, com depoimentos dos ex-exilados brasileiros no país.

Leia mais do especial de Opera Mundi:

‘Acertar as contas com o passado’: brasileiros que viveram golpe no Chile retornam 50 anos depois

O golpe no Chile pelo olhar brasileiro – capítulo 1: ‘não queremos sua sociologia aqui’

O golpe no Chile pelo olhar brasileiro – capítulo 2: ‘um sonho pisoteado pelo fascismo’

O golpe no Chile pelo olhar brasileiro – capítulo 3: ‘escapamos da Caravana da Morte’

O golpe no Chile pelo olhar brasileiro – capítulo 4: ‘memória é alavanca ao futuro’

O cineasta enfatiza o fato de sua mudança para o Chile ter sido uma escolha pessoal: “eu nunca me defini como exilado. Depois do Chile, eu vivi na França, onde também me deparei com o rescaldo do movimento de maio de 1968. Conheci grandes cineastas, grandes artistas. Também era um universo libertário. Me considero mais como um ‘globetrotter da revolução’”.

Tendler também relatou que “nunca tive coragem de pegar em armas, sempre disse (a amigos) que não consigo segurar um revólver e apontar para outro ser humano, e também não queria ir pra contracultura. Os amigos que largaram o movimento armado foram para o mundo das drogas, muito ácido e tal. Nenhuma das duas coisas era a minha onda, nem luta armada nem gererê”.

Leia a íntegra da reportagem sobre o retorno de Silvio Tendler ao Chile 50 anos após o golpe de 1973 clicando neste link.