Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O governo de Cuba anunciou o falecimento da revolucionária norte-americana Joanne Deborah Byron, mais conhecida como Assata Shakur, nesta quinta-feira (25/09), aos 78 anos, em Havana. De acordo com o comunicado do Ministério das Relações Exteriores do país, a morte decorreu de “problemas de saúde e idade avançada”.

Figura emblemática da luta pela emancipação dos afro-americanos, Shakur integrou o Partido dos Panteras Negras. Já nos anos 70, tornou-se líder do Exército de Libertação Negra, um grupo revolucionário de guerrilha urbana. Posteriormente, foi perseguida pelo FBI e presa em uma emboscada policial, chegando a receber sentença de prisão perpétua.

“Aproximadamente às 13h15 do dia 25 de setembro, minha mãe, Assata Shakur, deu seu último suspiro terreno. Palavras não podem descrever a profundidade da perda que estou sentindo neste momento”, escreveu sua filha Kakuya Shakur, em rede social.

“Quero agradecer por suas orações amorosas que continuam a me ancorar na força de que preciso neste momento. Meu espírito está transbordando em uníssono com todos vocês que estão sofrendo comigo neste momento.”

Assata Shakur em 1981
Wikimedia Commons/Trenton Times

Quem foi Assata Shakur?

Shakur nasceu no distrito de Queens, em Nova York, em uma família negra da classe operária. Ela passou parte da infância na casa dos avós em Wilmington, Carolina do Norte e, após concluir o ensino primário, voltou para a cidade natal, onde viveu com sua mãe, a professora Doris Johnson, e seu padrasto. Como resultado de conflitos familiares, passou um tempo com sua tia, Evelyn Williams, uma militante do movimento dos direitos civis dos negros, quem a incentivou a retomar os estudos em meio a afastamento escolar.

Shakur ingressou na Faculdade Comunitária do Distrito de Manhattan e posteriormente se transferiu para o City College de Nova York (CCNY), onde iniciou sua militância, dedicando-se aos estudos do marxismo e do socialismo, além de participar em manifestações do movimento negro. O engajamento nas pautas sociais ocorreu em um período marcado pela intensificação da luta antissegregacionista.

Em 1966 foi fundado o Partido dos Panteras Negras, com uma postura de maior confrontação à repressão policial e em defesa dos direitos da população negra. Shakur ingressou na agremiação e se tornou uma dirigente da organização no Harlem, onde ajudou a implementar programas de alfabetização, clínicas comunitárias e um projeto que fornecia nutrição adequada para estudantes negros de bairros pobres.

No início dos anos 70, Shakur se uniu aos dissidentes que participaram da fundação do Exército de Libertação Negra (BLA), uma organização revolucionária que pregava a luta armada e o uso de táticas de guerrilha urbana inspiradas por movimentos anticoloniais como a Frente Nacional para a Libertação do Vietnã. Foi após a adesão ao BLA que a ativista adotou o nome Assata Shakur, que significa uma “guerreira agradecida”.

Engajada em uma série de ações armadas, em 1972, Shakur acabou sendo identificada pelo FBI como a chefe da célula do movimento em Nova York.

A revolucionária foi um dos alvos diretos do COINTELPRO, um programa secreto de contrainteligência conduzido pelo FBI entre as décadas de 50 e 70 que tinha como objetivo desarticular e eliminar organizações ou indivíduos considerados “subversivos” pelo governo dos Estados Unidos.

Shakur chegou a ser acusada injustamente em dez processos criminais, a maioria arquivados por falta de provas. O único que resultou em condenação foi pelo suposto assassinato de um policial, Werner Foerster, durante uma abordagem em 1973. As evidências indicavam que ela foi baleada com as mãos levantadas e não havia resíduo de pólvora em suas mãos. Mesmo assim, com um julgamento irregular e manipulação de provas, foi condenada à prisão perpétua, onde sofreu isolamento em cárcere e torturas físicas e psicológicas. 

Em 1979, ela foi libertada em uma operação organizada pelo Exército de Libertação Negra e pela Organização Comunista 19 de Maio, após quatro ativistas disfarçados de visitantes renderem os agentes penitenciários. Shakur entrou na lista dos mais procurados pelo FBI, sendo a primeira mulher a ser incluída na categoria em 2013. Entretanto, com o apoio de organizações de esquerda e do movimento negro., ficou como foragida nos Estados Unidos por quase cinco anos. 

Em 1984, Shakur exilou-se em Cuba, onde recebeu asilo político de Fidel Castro.

(*) Colaborou Estevam Silva, na coluna Pensar a História.