Negociações sobre primeiro acordo global contra poluição plástica acabam em novo fracasso
Divergências envolveram pontos como obrigatoriedade das metas, regulação de químicos perigosos e financiamento; debate envolveu 185 países
As negociações para alcançar um tratado histórico sobre o combate à poluição por plásticos terminaram nesta sexta-feira (15/08) sem consenso, após uma proposta de última hora fracassar em romper o impasse. “Cada dia sem um acordo ambicioso significa mais plástico nos oceanos, mais riscos à saúde e mais perda de biodiversidade”, diz Michel Santos, da WWF Brasil.
Negociadores de 185 países trabalharam durante a noite de quinta para sexta-feira na tentativa de encontrar um acordo comum entre nações que defendem ações ousadas, como a redução da produção de plástico, e países produtores de petróleo que querem que o tratado se concentre mais restritamente na gestão de resíduos.
“O resultado do INC 5.2 é frustrante para todos nós que queremos um tratado ambicioso contra a poluição plástica. Mas é importante dizer que esse impasse não foi causado por um único país. As divergências foram profundas e envolveram vários governos em pontos-chave, como metas obrigatórias, regulação de químicos perigosos e financiamento”, explicou à RFI Michel Santos, gerente de políticas públicas da WWF Brasil, após ter passado a noite em claro no plenário, em Genebra.
Após uma sessão de negociações a portas fechadas ser encerrada, os países se reuniram no salão principal da Assembleia do Palais des Nations da ONU para refletir sobre o impasse e considerar os próximos passos.
“Não teremos um tratado para acabar com a poluição plástica aqui em Genebra”, disse o negociador da Noruega, enquanto representantes dos países discursavam após uma noite de negociações.

As negociações para alcançar um tratado histórico sobre o combate à poluição por plásticos terminaram nesta sexta-feira (15) sem consenso
Wikimedia Commons/Amuzujoe
“Chega de concessões”
“O fracasso em Genebra não encerra a negociação. Agora, precisamos redobrar os esforços para que o próximo passo seja à altura da urgência da crise plástica. O mundo não podia aceitar um tratado diluído e incapaz de enfrentar a crise que nós vivemos da poluição plástica. O tempo para concessões acabou. Continuamos precisando de um tratado à altura da emergência que vivemos”, diz Michel Santos.
“Perdemos uma oportunidade histórica, mas precisamos continuar e agir com urgência. O planeta e as gerações presentes e futuras precisam desse tratado”, afirmou Cuba.
Palau, falando em nome de 39 pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS), expressou frustração por investir repetidamente recursos e pessoal nessas negociações e “voltar para casa sem progresso suficiente para mostrar ao nosso povo”.
“É injusto que os SIDS enfrentem o peso de mais uma crise ambiental global à qual pouco contribuímos.”
O representante da WWF, referência na questão do plástico, elogiou a participação do Brasil, mas fez ressalvas. “Negociadores brasileiros defenderam temas importantes como uma transição justa, um artigo exclusivo para saúde, a inclusão e o reconhecimento dos catadores e catadoras de material reciclável. Ainda que não tenha sido dito de forma mais clara em plenária, pelo que apuramos nos últimos instantes, Brasil, em reuniões fechadas, defendeu a inclusão de químicos perigosos no texto. É justo reconhecer esse empenho, mas também é legítimo cobrar mais transparência e firmeza pública.”
A RFI tentou falar com a delegação brasileira, mas não obteve respostas até o fechamento desta matéria.
A Coalizão de Alta Ambição, que inclui a União Europeia, Reino Unido, Canadá e diversos países africanos e latino-americanos, queria incluir no tratado medidas para reduzir a produção de plástico e eliminar gradualmente os produtos químicos tóxicos usados na fabricação.
Grupo do contra
Um grupo de países produtores de petróleo, autodenominado Grupo de Pensamento Alinhado — incluindo Arábia Saudita, Kuwait, Rússia, Irã e Malásia — defende que o tratado tenha um escopo muito mais limitado.
“Nossas opiniões não foram refletidas. Sem um escopo acordado, este processo não pode seguir no caminho certo e corre o risco de descarrilar”, disse o representante do Kuwait.
Mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas globalmente a cada ano, metade delas para itens descartáveis.
Embora 15% dos resíduos plásticos sejam coletados para reciclagem, apenas 9% são efetivamente reciclados.
Quase metade (46%) acaba em aterros sanitários, 17% são incinerados e 22% são mal gerenciados, tornando-se lixo espalhado pelo meio ambiente.























