Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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O verão mais quente da história, termômetros que disparam, incêndios inesperados, inundações devastadoras: a Europa viveu uma avalanche de eventos meteorológicos extremos em 2021 que assinalam a necessidade de agir contra o aquecimento global, declara o relatório anual sobre o clima europeu, divulgado nesta sexta-feira (22/04).

Desde a era pré-industrial, o planeta ganhou entre 1,1°C e 1,2°C, mas a Europa está se aquecendo mais rapidamente com um aumento médio de temperatura de +2°C, observa o serviço europeu sobre mudanças climáticas Copernicus (C3S).

Um aquecimento que já está multiplicando eventos climáticos extremos em todo o mundo, sem poupar a Europa.

“2021 foi um ano de extremos, incluindo o verão mais quente na Europa, ondas de calor no Mediterrâneo, inundações e falta de vento, mostrando que entender o clima e os extremos climáticos é cada vez mais importante para os principais setores da sociedade”, comentou em um comunicado Carlo Buontempo, diretor da Copernicus.

Mesmo que o ano inteiro não se enquadre entre os dez mais quentes do continente, o relatório confirma que o verão de 2021 foi o mais quente já registrado na Europa, 1°C acima da média dos últimos 30 anos.

O verão particularmente quente foi marcado por ondas de calor particularmente intensas que duraram várias semanas, com o termômetro atingindo 48,8°C na Sicília, um novo recorde europeu (que ainda não foi aprovado oficialmente) ou 47°C na Espanha, novo recorde nacional .

A Europa também foi palco de calor acompanhado de seca persistente, sobretudo no Mediterrâneo, criando condições propícias a incêndios, principalmente na Itália, Grécia e Turquia.

Uma área total de 800 mil hectares virou fumaça em julho e agosto, tornando essa temporada de incêndios uma das mais intensas da Europa em 30 anos.  

Ondas de calor no mediterrâneo, inundações e falta de vento marcaram extremos climáticos no continente

Pixabay

A calota polar da Groenlândia, por sua vez, derreteu como nunca antes, registrando sua menor extensão já medida, 72% abaixo do normal

Geleira da Groenlândia em seu ponto mais baixo

Por outro lado, após chuvas recordes em 14 de julho de 2021, a Alemanha e a Bélgica foram devastadas por inundações que deixaram mais de 200 mortos e bilhões de euros em danos. Um episódio cuja probabilidade aumentou de 20% a 900% devido ao aquecimento global, segundo pesquisadores da World Weather Attribution.

E um episódio de geada tardia na primavera, quando a natureza já havia brotado, danificou várias videiras e árvores frutíferas, da França ao norte da Grécia.

Por enquanto, a marca mais clara das mudanças climáticas na Europa é a intensificação das ondas de calor. Mas, segundo os cientistas, outros eventos extremos seguirão a mesma trajetória. “Esperamos que eles aumentem no futuro”, alerta Freja Vamborg, principal autora do relatório.

Esse inventário do clima europeu também mostra o aquecimento ainda mais rápido do Ártico, com uma média de +3°C em relação à era pré-industrial.

Se 2021 não é um ano recorde para o Ártico, a temperatura registrada foi 0,4°C acima do normal e os incêndios devastaram a região, em particular o leste da Sibéria, liberando 16 milhões de toneladas de carbono (4º maior volume desde o início das medições em 2003).

A calota polar da Groenlândia, por sua vez, derreteu como nunca antes, registrando sua menor extensão já medida, 72% abaixo do normal. Sob a influência de temperaturas acima do normal e ventos do sul, as geleiras derreteram em grande parte durante o verão, deixando o leste da Groenlândia praticamente sem gelo até o final da temporada.

“Os cientistas, em particular do IPCC (especialistas em clima da ONU), nos alertaram que o tempo está se esgotando para limitar o aquecimento a +1,5°C”, o objetivo mais ambicioso do acordo de Paris, comentou Mauro Facchini, Diretor de Observação da Terra da Comissão Europeia.

Em seu último relatório publicado no início de abril, o IPCC enfatizou que a economia tinha de ser completamente restruturada e as emissões limitadas em menos de três anos para se preservar um mundo “habitável”.

O relatório Copernicus “reforça a necessidade de agir diante de eventos climáticos extremos que já acontecem na Europa”, insistiu Mauro Facchini.