Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Copa do Mundo do Catar terá nesta quarta-feira (30/11) mais uma partida com forte condimento político e histórico. Será o confronto entre Tunísia e França, pelo Grupo D da competição, que acontecerá no estádio Education City, em Al Rayyan.

Além da própria disputa esportiva, franceses e tunisianos devem levar ao campo e nas arquibancadas um passado recente marcado por mais de 70 anos de colonização e uma relação pós independência com altos e baixos.

A colonização da Tunísia por parte da França durou sete décadas e meia, entre 1881 e 1956. No entanto, esse domínio do país europeu sobre o território, que até meados do século XIX era do Império Otomano, só foi oficialmente estabelecido em 1884, três anos após o início da colonização.

Foi um dos resultados da Conferência de Berlim, onde se realizou a Partilha da África: sete países europeus (França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal e Bélgica) dividiram todo o continente africano em territórios a serem colonizador por eles. A Tunísia foi um dos territórios adquiridos por Paris naquele acordo, feito à revelia dos povos da região que foram os que arcaram com as consequências dos tratados.

Contudo, após a Segunda Guerra Mundial e o enfraquecimento das forças militares europeias, se iniciaram os processos independentistas na África, e a Tunísia foi um dos primeiros países a se libertar.

Entre os anos 50 e 80, as relações entre a Tunísia independente com seu antigo colonizador foram hostis. O país foi um dos principais apoiadores dos movimentos independentistas no território vizinho, a Argélia, que só conseguiria a sua libertação em 1962, após anos de sangrento conflito.

Seleção africana possui 10 atletas que nasceram em território francês, mas que preferem jogar pelo país dos seus antepassados

La Presse de Tunisie

Bandeiras de Tunísia e França em um varal, em Tunis, capital do país africano

Como represália, Paris cortou uma ajuda financeira anual de 33 milhões de francos, o que gerou diversos problemas econômicos no país africano, e uma onda migratória. A comunidade tunisiana na França, que já era grande desde os tempos da colonização, se tornou ainda maior.

Tal situação se refletirá em campo nesta quarta-feira, já que 10 atletas da seleção da Tunísia são nascidos na França.

Entre eles estão os meias Ellyes Skhiri e Aïssa Laïdouni, o lateral Hannibal Mejbri e o atacante Wahbi Khazri. Todos eles possuem famílias que são parte da discriminada comunidade tunisiana na França e preferiram, como atletas, representar o país dos seus antepassados, e não onde nasceram.

Ainda assim, vale destacar que as relações entre França e Tunísia nem sempre foi marcada por rusgas. A situação se alterou a partir de 1987, após o início da ditadura do general Zine El Abdine Ben Ali no país africano, já que o ditador era aliado de Paris.

Essa aproximação durou pouco mais de 20 anos, até a Revolução Tunisiana, iniciada em dezembro de 2010, e que foi a primeira revolta da chamada Primavera Árabe. Na ocasião, a França – então governada por Nicolás Sarkozy – decidiu não apoiar o movimento social que pedia a queda do seu aliado do poder, o que não evitou que o ditador decidisse renunciar, em 14 de janeiro daquele ano.