Quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
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Depois de nove anos de desgastantes negociações, o presidente argentino Carlos Menem aterrissa em 27 de outubro de 1998 no aeroporto de Heathrow, em Londres, pela primeira vez após a Guerra das Malvinas, sendo recebido pelo primeiro-ministro britânico Tony Blair. Menem e seu chanceler Guido di Tella confiavam que se poderia tratar do assunto Malvinas, ainda que os ingleses tenham insistido que o tema não integrava a agenda.

Carlos Menem tinha duas obsessões: que a bandeira argentina flamejasse de alguma maneira nas Ilhas Malvinas e ser o primeiro presidente a visitar Londres depois da guerra. Anteriormente, foi seu chanceler Domingo Cavallo o encarregado de acercar posições com o Reino Unido. Em outubro de 1989, em Madri, a Argentina por fim declarou oficialmente o término das hostilidades. Em 1990 foram reatadas formalmente as relações diplomáticas bilaterais, sob a fórmula do manto da soberania: nada do que se acordar ou se fizer afetará a reclamação individual dos dois países.

A chegada de Guido Di Tella à chancelaria em 1991 reformulou a relação com Londres, mas especialmente com os habitantes das Malvinas. Di Tella agregou criatividade e absurdos à política externa dos anos 1990 em relação às ilhas. Enviou cartas aos malvinenses, mandou-lhes pelo correio o livro “O Pequeno Príncipe” e ursinhos Winnie Pooh. Claro que não foi produto dessa estratégia de sedução aos ‘kelpers’ – nascidos nas Ilhas Malvinas – que a Argentina e o Reino Unido avançaram em outros temas, como um acordo petroleiro, que em 1955 legitimou o lançamento de uma licitação para a exploração petroleira nas Malvinas, a cargo dos ‘kelpers’.

[O ex-presidente argentino Carlos Menem]

Como prêmio pelas iniciativas, em 1998, Menem conseguiu pelo menos um de seus objetivos: se converteu no primeiro presidente argentino a visitar Londres depois da guerra.

Nesse ano, o governo de Tony Blair prendeu o ex-ditador chileno Augusto Pinochet em Londres, a pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón. Esse fato, e não a sedução aos ilhéus, foi determinante para quebrar a intransigência malvinense. Isso porque o Chile, como protesto pela detenção de Pinochet, suspendeu os vôos que se destinavam às Ilhas Malvinas e os ilhéus concordaram que o Reino Unido firmasse um acordo pelo qual se restabeleceram os vôos a partir do Chile, sob a condição que um deles aterrissasse mensalmente em Río Gallegos, na Argentina, além de também permitir o ingresso de cidadãos com passaporte argentino nas Malvinas, proibido desde 1982.

Líder argentino se encontrou com primeiro-ministro britânico Tony Blair em Londres

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A presidência de Fernando de la Rúa, sucessor de Menem, se propôs desde o início a desmantelar a política de sedução aos ‘kelpers’. O então chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini se concentrou em recanalizar a reclamação argentina nas Nações Unidas e tentou gerar um consenso na elaboração de uma política de Estado sobre a questão das Malvinas, que ficou suspensa diante da gravidade da crise político-institucional em que se viu mergulhado o governo de De la Rúa.

A chegada de Néstor Kirchner à Casa Rosada congelou ainda mais as relações com o Reino Unido. O presidente Kirchner, oriundo da província de Santa Cruz, se declarou “malvinense até a medula” já desde o seu discurso de posse em 25 de maio de 2003. E em seu primeiro encontro com o primeiro-ministro Tony Blair na Inglaterra, nos marcos da cúpula de mandatários progressistas em julho de 2003, surpreendeu-o com um pedido direto: pediu-lhe que falasse sobre a soberania das Malvinas. O líder trabalhista simplesmente ficou mudo.

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Prisioneiros argentinos durante Guerra das Malvinas, contra a Inglaterra

Desde aquele dia até hoje, e após a morte de Néstor e a eleição de Cristina Kirchner, a questão das Ilhas tem sido central na política externa argentina, tendo como diretriz a exigência pacífica ante as Nações Unidas, somando-se a isto o apoio do bloco regional latino-americano e outros foros internacionais.

Todo o vínculo com os ilhéus foi arquivado, especialmente durante esses mandatos de Cristina Kirchner. As relações bilaterais decresceram e os intercâmbios retóricos entre Londres e Buenos Aires, em especial com a chegada ao poder dos conservadores britânicos, foram crescentes e em geral acirrados.

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