Domingo, 7 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

Wikimedia Commons
Negociador sem igual, o francês Jean Monnet, que se destacou entre muitos aspectos por ter fomentado o projeto embrionário da União Europeia e planejado o aprovisionamento de trigo e armas para os aliados durante as duas guerras mundiais, morre aos 90 anos em Bazoches-sur-Guyonne, perto de Paris, em 16 de março de 1979.

[Jean Monnet, à esquerda, ao lado do chanceler alemão Konrad Adenauer, em 1953]

Em sua carreira diplomática, tratou de assuntos espinhosos como a divisão da Silésia entre Polônia e Alemanha; o futuro da região de Sarre (entre França e Alemanha) ou ainda a recuperação econômica da Áustria. Quando da invasão da França pela Alemanha nazista, sugeriu a Churchill uma imediata fusão entre seu país e o Reino Unido, porém sua proposta chegou tarde demais.

Após a Libertação da França, cria um plano de modernização do país que levou seu nome, organizando inclusive um comissariado para supervisioná-lo. Propõe ao ministro Robert Schuman o projeto da Ceca (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), projeto que deu origem à atual União Europeia. Por essa razão e por incentivar a criação de um continente organizado no modelo federal norte-americano, recebeu o título honorífico de “Pai da Europa”.

Nascido em 9 de novembro de 1888 em Cognac (oeste da França), em uma família de negociantes de vinho, Monnet era produto da burguesia da província. Aos 16 anos, o pai o envia a Londres aos cuidados de seu agente local a fim de aprender o negócio. Aos 18 anos, parte para a cidade de Winnipeg, no Canadá.

Chega 1914 e a declaração de guerra. Valendo-se de relações familiares, o jovem de 26 anos consegue um encontro com o presidente do Conselho (cargo equivalente ao primeiro-ministro francês naquela época), René Viviani, cujo governo estava refugiado em Bordeaux.

Seduzido pela sua inteligência, Viviani o despacha a Londres, em missão precisamente encarregado de coordenar os recursos logísticos aos aliados. A partir de então Monnet jamais deixou de se ocupar de questões internacionais. Em novembro de 1916, no auge da I Guerra, monta uma comissão interaliada para os aprovisionamentos em trigo.

Após o armistício, torna-se assessor de Eric Drummond, secretário-geral da Liga das Nações, onde trata de questões críticas.

Deixando a organização em 1923, participa em San Francisco, EUA, da criação de um banco de investimentos norte-americano mas dele se afasta devido à crise de 1929. Critica a resistência dos Estados Unidos em reformar seu sistema bancário: ‘‘Os homens só aceitam a mudança premidos pela necessidade e só veem necessidade em meio à crise’’.

Põe-se então em Xangai a serviço do governo chinês de Tchang Kaï-chek. Logo chegam o nazismo e a guerra. Monnet vai a Washington negociar com os norte-americanos a construção em caráter de urgência de aviões de combate para as forças armadas francesas.

Aproxima-se do presidente Franklim Delano Roosevelt e do conselheiro Harry Hopkins, pondo-se a seu serviço para lançar o Programa da Vitória. Este tinha por objetivo sustentar o esforço de guerra britânico e preparar a indústria dos EUA para um gigantesco esforço de rearmamento sem esperar a entrada em guerra formal do país, apesar da oposição de setores isolacionistas.
 

Foi idealizador da Ceca e da UE e coordenou a reconstrução da França após a Libertação

NULL

NULL


Quando Hitler lança sua ofensiva de 10 de maio de 1940, Monnet sugere ao primeiro ministro Churchill uma medida de grande alcance destinada a levar esperança aos franceses e ingleses. Sua mensagem intitulada “Anglo-French Unity” propunha nada menos que uma fusão imediata dos dois países, com um só Parlamento e um só Exército.

Esta proposta , aparentemente excêntrica, tornaria os dois países solidamente solidários contra a Alemanha hitlerista. Impediria tratativas diretas da França com a Alemanha, com o risco de Hitler se apoderar da potente marinha de guerra francesa e, eventualmente, das colônias da África do Norte e do Oriente.

Na noite de 17 de junho de 1940, enquanto a França mergulhava na tragédia da derrota, Monnet recebe em seu domicílio londrino o general de Gaulle, que preparava uma mensagem de rádio histórica, o Apelo, que seria radiodifundido no dia seguinte. Como a maioria de seus compatriotas, o mercador de Cognac não estava seguro sobre o momento desenhado pelas visões de De Gaulle e a perspectiva de uma ruptura com o regime recém-tomado pelo marechal Philippe Pétain.

Selo alemão em homenagem a Monnet – WikiCommons
A pedido de Harry Hopkins, Monnet encontra-se com de Gaulle na Argélia em 1943. Faz parte do primeiro governo da França Livre e tenta, sem sucesso, reconciliar os generais De Gaulle e Henri Giraud.

Malgrado suas poucas afinidades com o comandante da França Livre, iria contribuir, ao seu lado, com os esforços pela reconstrução do país.

Libertada a França, Monnet monta um plano que permite a França relançar em tempo recorde a produção básica, com a sustentação financeira do plano Marshall.

Cria o Comissariado do Plano e torna-se seu primeiro presidente antes de reunir seus amigos de toda a parte em torno do projeto da Ceca. Sua visão podia se resumir nesta fórmula, tomada emprestada de suas memórias: “Nada é possível sem os homens ; nada é durável sem as instituições”.

Ao termo de seu mandato, em 1956, estimulou a criação de um comitê de ação Estados Unidos-Europa e levou adiante, até a morte seu empenho em favor da união.

Suas cinzas foram transferidas ao Panteão em 1988.

Também nesta data:
1521 – Fernão de Magalhães chega às Filipinas
1935 – Contrariando Tratado de Versailles, Alemanha restaura seu serviço militar
1968 – Tropas dos EUA cometem o massacre de My Lai
1988 – Cidade curda de Halabja é bombardeada por tropas iraquianas com armas químicas