Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No dia 3 de março de 1924, os deputados turcos votam pela abolição do califado no país. A jovem república turca torna-se, assim, o primeiro Estado oficialmente laico do mundo muçulmano.


 

Alguns meses antes, o general Moustafá Kémal, fortalecido pelos êxitos militares diante dos gregos e armênios que tentavam desmembrar a Turquia otomana, faz com quea Assembleia Nacional, reunida em Ancara, proclame a República Turca.

Ele mesmo torna-se o primeiro presidente. Logo em seguida, empreende uma marcha rumo à laicização da sociedade e toma a precaução de proclamar o islamismo como religião nacional. Seu objetivo era de modernizar o país e, mais além, dar aos turcos uma identidade nacional distante da influência árabe.

Em 1925, impõe o uso do quepe com pala em lugar do tradicional fez, barrete cônico vermelho – uma medida simbólica destinada a ocidentalizar os usos e costumes turcos e, consequentemente, o desprendimento de sua herança islâmica. Proibiria também as vestimentas tradicionais como o véu e as calças bufantes.

Em Istambul, a grandiosa Santa Sofia de mesquita é transformada em museu, enquanto que, em Ancara, o Ghazi, guerreiro turco de alto escalão que lutou contra os infiéis, faz reviver o passado pré-islâmico do país, notadamente a história dos Hititas, habitantes indo-europeus contemporâneos ao faraó Ramsés II e a Moisés.

Moustafa Kémal introduziu o calendário gregoriano em 1926, o alfabeto latino em lugar do árabe em 1928 e o sistema métrico ocidental em 1931.

Instituiu o descanso no domingo, instaurou a igualdade dos sexos, proibiu a poligamia e concedeu direito de voto às mulheres em 1934. Tomou emprestado da Suiça seu código civil, da Itália o código penal e da Alemanha o código comercial.

Por fim, depois de ter despojado o antigo sultão de suas prerrogativas políticas, Kémal arremata com a liquidação da herança otomana, abolindo o califado.

Esta função religiosa fazia do sultão otomano o chefe espiritual de todos os muçulmanos e sucessor dos primeiros seguidores do profeta Maomé. O desaparecimento do califa após 14 séculos foi acolhido com indiferença na Turquia bem como no restante do mundo muçulmano.

Como prova de gratidão, a Assembleia Nacional conferiu oficialmente ao presidente o epíteto de Ataturk, o Pai dos Turcos.

General Moustafá Kémal encabeçaria o processo de ocidentalização do país

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Kémal Ataturk morre em plena popularidade no dia 10 de novembro de 1938, aos 57 anos, vítima  de uma cirrose nascida das noitadas regadas a muita bebida. Seu mausoléu em Ancara e sua obra a serviço do nacionalismo turco são guardados com zêlo pelo exército.

No limiar do século XXI, o laicismo instaurado por Kémal não consegue resistir a reislamização da sociedade turca. O retorno do véu, sob forma ainda mais estrita que antes, constitui um símbolo.

É preciso dizer que o laicismo nunca teve na Turquia o sentido que prevalece nos países ocidentais. O próprio Kémal Ataturk teve o cuidado de conservar o status do Islã como religião nacional. Hoje, ainda, a conversão de um turco muçulmano a outra religião ou a proclamação de seu ateísmo são passíveis dos rigores da lei.

*Max Altman (1937-2016), advogado e jornalista, foi titular da coluna Hoje na História da fundação do site, em 2008, até o final de 2014, tendo escrito a maior parte dos textos publicados na seção. Entre 2014 e 2016, escreveu séries especiais e manteve o blog Sueltos em Opera Mundi.

Também nesse dia:

1952 – Suprema Corte dos EUA veta professores comunistas nas escolas

1875 – Estreia em Paris a ópera Carmen, de Bizet

1918 – O Tratado de Brest-Litovsk é concluído 

1585 – “Oedipus Rex” de Sófocles é a primeira peça teatral encenada num teatro coberto