Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Em 10 de julho de 1584, um carpinteiro de Dôle, Balthazar Gerard, assassina o ‘estathuder’ – cargo político das antigas províncias do norte dos Países Baixos que envolve funções executivas. Ele era Guilherme d’Orange-Nassau, o Taciturno, regente das então Províncias Unidas e chefe dos calvinistas holandeses em guerra contra a Espanha.

Gerard, católico fanático, se deixou convencer pelos apelos ao tiranicídio lançado pelos jesuítas a serviço do rei da Espanha, Felipe II e conseguiu se infiltrar na ‘entourage’ de Guilherm. Ele o mata com um tiro de pistola em sua residência de Prinsenhof, em Delft.

“Deus tenha pena de mim e de meu pobre povo”, murmurou a vítima, moribunda. O assassino foi executado, mas sua família foi generosamente indenizada pelo rei espanhol. Deixaria êmulos nas pessoas de Jacques Clement, assassino do rei Henri III (1589) e de Ravaillac, assassino de Henri IV (1610).

Nascido em Dillenburg, não longe de Nassau, Alemanha, Guilherme I, príncipe de Orange, pôs-se à frente da revolta dos calvinistas holandeses após ter sido nomeado pelo rei da Espanha como ‘stathuder’ (regente) da Holanda. É a ele, alemão e católico de origem, homem honrado, justamente alcunhado de O Taciturno, que os Países Baixos devem sua independência.

Filho de Guilherme de Nassau e herdeiro do principado de Orange, ao sul da França, o príncipe Guilherme de Orange foi levado, dentro da fé católica, à corte de Charles V. Foi designado em 1559 por seu filho, Felipe II, regente das províncias da Holanda, Zelândia e Utrecht. As Dezessete Províncias, então sob o governo de Margarida de Parma e da “Consulta”, às ordens do cardeal Granvelle, passavam por violentas perseguições contra os protestantes.

Repressão cresce

Porém os “gueux” – apodo dado aos fidalgos de todas as confissões que denunciavam essas perseguições – manifestaram-se contra o governo até obter o afastamento de Granvelle. Com a chegada em 1566 de um novo regente, o duque da Alba, a repressão se intensifica. Em 5 de junho de 1568, os condes de Egmont e de Hornes são julgados pelo Tribunal dos Tumultos e decapitados em Bruxelas.

Guilherme de Orange, identificado como um dos chefes dos “gueux”, teve de fugir para a Alemanha. Converteu-se ao calvinismo, regressando aos Países Baixos à frente de 20 mil homens em março de 1572. Nomeado gerente dos Países Baixos pelos insurgentes, só conseguiria se impor sobre o litoral de Frise, da Zelândia e da Holanda.

Fruto da “Pacificação de Gand”, no outono de 1576, Guilherme, valendo-se de forte apoio popular, convence o Norte e o Sul a se unir contra os espanhóis. O novo regente espanhol, don Juan da Áustria, finge retirar as tropas estrangeiras, mas é para em seguida tomar Namur e atiçar as dissensões entre as províncias setentrionais e meridionais. Alexandre Farnese, filho de Margarida de Parma, o sucede e, em virtude de sua vitória em Gembloux, em 1578, confirma o domínio da Espanha sobre as províncias meridionais (atual Bélgica).

Chefe dos calvinistas holandeses, Guilherme "o Taciturno" foi responsável por impulsionar a independência dos Países Baixos

A cisão torna-se efetiva a partir de janeiro de 1579 com a União de Arras de um lado e a União de Utrecht, de outro. Todavia, Guilherme de Orange não se resigna a essa situação. Foi então que, fato raro na história das relações internacionais, Felipe II decide mandar assassiná-lo e oferece uma recompensa enorme a quem se dispusesse a executar seu desiderato.

A ameaça faz crescer a popularidade de Guilherme entre os seus. O ‘stathuder’ publica uma “Apologia” em 1580 em forma de requisitório contra Felipe II, que termina com a expressão “Eu manterei”. Estas palavras se tornariam a divisa da Casa de Orange-Nassau e dos Países Baixos, do mesmo modo que a cor laranja de seu principado provençal se tornaria a cor fetiche da Holanda e de sua equipe de futebol.

Queda do rei

Em maio de 1581, os Estados Gerais das Províncias Unidas do Norte proclamam a queda do rei da Espanha. À guisa de resposta, em 15 de maio de 1582, o assessor de um banqueiro de Antuérpia atira contra Guilherme de Orange. O atentado fracassa e o criminoso é linchado pela multidão. Em 10 de julho de 1584, foi a vez do carpinteiro Balthazar Gerard de tentar a sorte, no que foi bem-sucedido.

Maurício de Orange-Nassau, 17 anos, sucede a seu pai como regent das Províncias Unidas. Por fim, em 1609, o regente espanhol dos Países Baixos encerra a trégua de Doze Anos e reconhece a independência das Províncias Unidas do Norte (atual Holanda).

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