Segurança, territórios e adesão à Otan: o que entraria em jogo no acordo entre Rússia e Ucrânia?
Trump fez reuniões separadas com Putin e Zelensky na última semana; agora líderes europeus apoiam encontro trilateral
Após encontros do presidente dos Estados Unidos Donald Trump com seus homólogos Vladimir Putin da Rússia e Volodymyr Zelensky da Ucrânia, a pauta da última semana, em terras norte-americanas e europeias, tem sido um eventual acordo de paz entre Rússia e Ucrânia.
No fim da semana passada, o republicano se reuniu com Putin no Alasca para discutir a guerra sem a presença de Zelensky. Já na última segunda-feira (18/08), a conversa ocorreu sem o russo, mas com a participação de líderes de outras potências europeias, entre elas França, Alemanha, Itália e Reino Unido.
Ainda mais após a reunião na Casa Branca na segunda-feira, cresceu entre líderes europeus o apoio a um possível encontro trilateral entre Putin, Zelensky e Trump, conforme analisado pela rede de notícias britânica BBC.
Entre os que demonstraram maior otimismo estão Emmanuel Macron, que disse à TV francesa que é “mais do que uma hipótese, é até mesmo a vontade coletiva”, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, que afirmou acreditar que o encontro poderia ocorrer nas próximas duas semanas e declarou que suas expectativas foram “superadas” pela reunião em Washington.
Algumas cidades já se ofereceram para sediar as discussões: Genebra, Budapeste e Istambul. Até agora, a Rússia não rejeitou a ideia, embora Putin tenha recusado uma proposta de negociação em maio.

Ainda mais após a reunião na Casa Branca na segunda-feira, cresceu entre líderes europeus o apoio a um possível encontro trilateral entre Putin, Zelensky e Trump
Volodymyr Zelensky/X
Qual a posição da Ucrânia?
Zelensky afirma que os detalhes da parte ucraniana do acordo serão elaborados e “formalizados por escrito” dentro do prazo de uma semana a 10 dias, segundo o jornal britânico Guardian.
Ainda conforme a publicação, é provável que cerca de 30 países, a chamada “coalizão dos dispostos” se envolvam. Até o momento, não está claro o quanto de envolvimento norte-americano o documento ucraniano receberá.
Um ponto que foi levantado tanto por Kyiv quanto pelos líderes europeus é prysutnist (presença, em ucraniano) — Zelensky quer tropas norte-americanas em solo ucraniano, como garantia de segurança. Trump, no entanto, já tem se afastado da ideia.
Agora, a questão que permanece entre os governos europeus é a de quem estará disposto a participar de uma missão de paz dentro da Ucrânia. Reino Unido e França já expressaram interesse em integrar uma “força de segurança”, enviando soldados para solo ucraniano. Macron confirmou, dizendo: “temos que ajudar a Ucrânia no terreno”.
A Ucrânia também demonstrou interesse em comprar US$ 90 bilhões em armas dos EUA e afirma que elas poderiam fazer parte da garantia de segurança. No entanto, de modo geral, Trump tem sido vago sobre a contribuição dos EUA.
Qual a posição da Rússia?
Segundo Trump, Putin teria concordado durante a cúpula no Alasca que a Ucrânia precisava de garantias de segurança. Steve Witkoff, enviado especial do republicano para missões de paz, afirma que tais garantias estariam fora do escopo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Para Witkoff, tropas norte-americanas em solo ucraniano seriam equivalentes a por em ação o artigo 5º; trata-se do princípio central da Otan, que estabelece que um ataque armado contra um ou mais membros da aliança na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque contra todos.
O Kremlin afirma que se opõe categoricamente à presença de tropas ocidentais na Ucrânia. E, portanto, é improvável que o governo russo aceite uma força externa de manutenção da paz como parte de qualquer acordo, e, muito menos, a adesão do país à Otan.
Os objetivos de guerra da Rússia permanecem inalterados e enquadrados em termos das necessidades existenciais de segurança do país. Putin exige a totalidade das províncias de Donetsk e Luhansk, incluindo territórios que a Rússia não conseguiu ocupar desde 2014.
O russo também quer a “desmilitarização e desnazificação” da Ucrânia – o que significa limites ao tamanho do exército de Kyiv, e poderia resultar, também, na destituição de Zelensky.
Qual a posição dos EUA?
Trump já deixou claro que, se depender dos Estados Unidos, a Ucrânia não integrará a Otan. Em entrevista à Fox News, o norte-americano disse que a Rússia “estava certa” em se opor à adesão da Ucrânia à Otan porque, segundo o presidente dos EUA, “não queremos um adversário na nossa fronteira”.
O pedido da Ucrânia “foi muito insultuoso” para a Rússia, acrescentou Trump. Durante a cúpula no Alasca na semana passada, Putin teria apresentado ao republicano uma oferta de paz que, mediante a retirada da Ucrânia da região de Donetsk, resultaria no congelamento das linhas de frente na Rússia em Zaporizhzhia e Kherson.
O presidente dos EUA prometeu coordenar uma operação de manutenção da paz liderada pela Europa na Ucrânia, mas também especificou que os países europeus deverão arcar com a maior parte do fardo. “Eles são a primeira linha de defesa porque estão lá. Mas nós os ajudaremos”, disse.
Além disso, Trump pareceu descartar a necessidade de qualquer cessar-fogo antes que as negociações para acabar com a guerra possam ocorrer. Anteriormente, esta era uma exigência fundamental da Ucrânia; “não sei se é necessário”, afirmou ele.
Líderes europeus, que são parte importante da discussão nesta semana, parecem resistir à ideia do norte-americano. A discordância mais forte foi a do chanceler alemão: “não consigo imaginar que a próxima reunião aconteça sem um cessar-fogo”, disse Merz. “Então, vamos trabalhar nisso e tentar pressionar a Rússia”, continuou.
Quando consultado sobre o assunto, Zelensky não voltou a reiterar os apelos anteriores, que pediam que um cessar-fogo fosse estabelecido.























