‘Rússia nunca teve como objetivo tomar territórios na Ucrânia’, afirma Kremlin
Após reunião em Washington, líderes europeus destacam urgência de um cessar-fogo e comentam proposta de cúpula trilateral
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, declarou nesta terça-feira (19/08) que Moscou nunca estabeleceu como meta a tomada de territórios como a Crimeia, o Donbass ou a região de Novorossiya.
“Quero enfatizar mais uma vez que nunca falamos sobre a tomada de nenhum território. Nem a Crimeia, nem o Donbass, nem a Novorossiya como territórios jamais foram nosso objetivo”, afirmou Lavrov em entrevista ao canal Rossiya-24.
Ele ressaltou que o foco de Moscou é defender o povo russo que “viveu nessas terras por séculos, que as descobriu, derramou sangue por elas, fundou cidades como Odessa e Nikolayev, além de portos, fábricas e indústrias”.
Entre as exigências de Moscou para um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia está a renúncia de Kiev à adesão à OTAN, a desmilitarização do país e o reconhecimento das “realidades territoriais atuais”, incluindo a anexação da Crimeia e das quatro regiões que votaram em 2022 pela integração à Federação Russa.
As declarações de Lavrov ocorrem um dia após o encontro em Washington entre o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, líderes europeus e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nesta segunda-feira (18/08), o presidente norte-americano telefonou para o presidente russo Vladimir Putin para informá-lo sobre os avanços das negociações. Eles se encontraram no Alasca na última sexta-feira (15/08).
Reunião trilateral
Segundo o assessor presidencial russo Yury Ushakov, a ligação durou 40 minutos e reforçou a disposição dos dois presidentes em incluir Kiev nas negociações. “Na conclusão das reuniões, liguei para o presidente Putin e comecei os preparativos para uma reunião, em local a ser determinado, entre o presidente Putin e o presidente Zelenskyy”, escreveu Trump em sua plataforma Truth Social.
Segundo a agência russa Tass, Putin disse que estava aberto à “ideia” de conversas diretas com a Ucrânia enquanto falava por telefone com Trump. O chanceler alemão, Friedrich Merz, que participou da reunião em Washington confirmou o encontro. “O presidente americano falou com o presidente russo por telefone e concordou que haveria uma reunião entre o presidente russo e o presidente ucraniano nas próximas duas semanas”, afirmou Merz.
Zelensky, por sua vez, declarou que Kiev está disposta a participar da proposta. “É um bom sinal sobre a reunião trilateral. Eu acho isso muito bom”.

Trump e Putin durante reunião no Alasca na última sexta-feira (15/08)
© Assessoria de Imprensa do Kremlin
Líderes europeus
Além de Starmer e Merz, participaram da reunião o presidente Emmanuel Macron (França), os primeiros-ministros Alexander Stubb (Finlândia) e Giorgia Meloni (Itália), a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte.
The Guardian informa que Merz reforçou a urgência de uma interrupção dos combates antes da próxima rodada de negociações. “Todos nós gostaríamos de ver um cessar-fogo”, disse, acrescentando que não consegue imaginar uma reunião entre Putin e Zelensky sem essa condição. “É necessário pressionar a Rússia”, disse, acrescentando que a Coalizão dos Dispostos realizará uma videoconferência em 19 de agosto, seguida de uma reunião do Conselho Europeu.
Starmer adotou um tom de confiança quanto ao avanço das negociações. Ele disse acreditar que a cooperação entre os Estados Unidos e as nações europeias pode garantir “um progresso real” nas garantias de segurança oferecidas a Kiev. Para o premiê, o próximo passo razoável seria a realização da reunião trilateral.
Já Macron destacou que o foco das conversas foi oferecer segurança de longo prazo à Ucrânia. “O primeiro é claramente um exército ucraniano confiável para os próximos anos e décadas”, disse. Ele também apoiou a ideia de uma trégua inicial como uma “necessidade” e sugeriu Genebra como sede para uma eventual cúpula. “Um país neutro, talvez a Suíça – estou pressionando por Genebra – ou outro país.”
Meloni, por sua vez, enfatizou que qualquer acordo de paz dependerá de mecanismos sólidos de proteção para Kiev. “Falaremos sobre muitos tópicos importantes. A primeira é a garantia de segurança, como ter certeza de que isso não acontecerá novamente, que é a pré-condição de todo tipo de paz”, afirmou.
‘Cooperação continua’
Segundo The Guardian, após o encontro a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou os líderes dos grupos políticos europeus sobre as negociações em Washington. “Em Washington DC. As negociações avançaram sobre fortes garantias de segurança para a Ucrânia, o fim do derramamento de sangue, as sanções e o retorno das crianças sequestradas. Nosso trabalho e estreita cooperação continuam”, disse.
O ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro da Polônia, Władysław Kosiniak-Kamysz, destacou o papel de Varsóvia como eixo estratégico para a logística de apoio à Ucrânia. “As últimas horas e dias mostram como este momento é crucial para o mundo e para a Europa – e o governo está ativo”, disse. Ele reiterou o objetivo da Polônia de trabalhar por uma trégua “que ofereça uma chance de durabilidade e resultados justos”.
O primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson, reforçou a posição de Estocolmo nas redes sociais: “a pressão sobre a Rússia deve aumentar, e enfatizo isso em todas as conversas”. Ele lembrou que a Suécia é o quinto maior doador da Ucrânia e que o desfecho da guerra terá impacto direto sobre sua própria segurança.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev também se manifestou, ironizando os resultados da reunião em Washington. Em postagem no X, ele disse que a “Coalizão anti-russa não conseguiu superar Trump em seu próprio território” e questionou como Zelensky apresentaria concessões territoriais ao voltar para Kiev.
Já o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, em entrevista à Fox News, disse que não houve debate sobre concessões territoriais na reunião e assegurou que o fornecimento de armas pelos Estados Unidos à Ucrânia continuará, financiado por “parceiros da OTAN na Europa”.























