Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O brasileiro Alex Júnior Bispo da Silva, que combate pelo exército russo na Ucrânia, foi dado como desaparecido em maio na região de Donetsk. A Opera Mundi, a mãe Jenelci Bispo Alves informou que foi comunicada através de um e-mail enviado pela Embaixada brasileira em Moscou.

O jovem de 35 anos, natural de Goiânia, foi para a Rússia em 22 de fevereiro deste ano após assinar um contrato com o exército russo. Segundo Jenelci, ele residia na França há seis anos, onde trabalhava com obras. Também afirma que o filho nunca teve pretensão de seguir carreira militar e que ela só soube do alistamento quando ele já estava na Rússia.

“Ele veio aqui no Brasil em agosto e começou a falar sobre esses negócios de guerra, sabe? Eu brincava com ele, dizendo para largar de ideia besta, mas não achava que faria isso”, desabafou.

Alex tem duas filhas que também vivem na Europa. De acordo com a sua mãe, ele teria desaparecido em 15 de maio, mas a notícia só chegou em 27 do mesmo mês. Ela fala que a dificuldade com o idioma tem sido uma grande barreira. Além disso, afirma que o suporte das autoridades é pouco e que tudo se tornou burocrático, já que não há informações sobre o batalhão em que ele servia.

“Uma advogada brasileira que foi a Moscou tentou nos ajudar, mas disse que não pegaria o caso porque a comunicação com a Embaixada é muito ruim. Ela chegou a fazer um comunicado por não conseguir obter informações precisas, mas não sabemos o que aconteceu depois. Acho que só vou conseguir encontrar meu filho se for para a Rússia”, explicou.

Brasileiro Alex Júnior, o último ao lado direito, junto a outros combatentes
Arquivo familiar

Desaparecidos

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), pelo menos 48,7 mil pessoas estão desaparecidas desde fevereiro de 2022, quando o conflito entre Rússia e Ucrânia se intensificou. Além dos muitos feridos e vítimas fatais, milhares de civis foram obrigados a abandonarem as suas casas, o que evidencia os impactos humanitários e catastróficos da guerra entre os dois países.

Patrick Griffiths, porta-voz do CICV, disse que esses números abrangem tanto civis quanto militares de ambos os lados, já que não há nenhum tipo de informação sobre o paradeiro desses indivíduos.

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“Esse número vem de pessoas que nos procuram em busca de alguém. Pode ser um marido procurando sua esposa, uma irmã buscando por um irmão, um pai sobre o filho, um civil ou soldado lutando nas linhas de frente”, declarou em entrevista à Agência Brasil.

Conforme o CICV, o número de desaparecidos tem aumentado desde o começo do conflito. Em dezembro de 2024, por exemplo, a quantidade de pessoas desaparecidas atingia 43 mil. Apesar disso, a organização humanitária internacional conseguiu localizar o paradeiro de pelo menos 12.500 indivíduos.

“Através do nosso trabalho e da nossa possibilidade de conversar com pessoas na Rússia e na Ucrânia, conseguimos fornecer alguma resposta para as famílias. Não é sempre a resposta que eles esperavam, ou seja, o ente querido foi confirmado como prisioneiro de guerra em um dos dois países ou foi tragicamente morto. Então, nem sempre termina como as famílias esperam, mesmo assim é uma conclusão [para a busca]”, informou Griffiths.

Alex Júnior viajou à Rússia em fevereiro deste ano e se tornou combatente do exército desse país, na guerra conra a Ucrânia
Arquivo familiar

O que diz a Embaixada

No último contato com a família, a Embaixada do Brasil em Moscou informou que o Ministério da Defesa russo confirma o status de Alex como desaparecido e que, “infelizmente, não há número de telefone para contato direto com o Centro de Recebimento, Tratamento e Envio de Falecidos”, localizado na cidade de Rostov, próximo à fronteira com a região do Donbass.

As autoridades russas forneceram um advogado que representa Jenelci na Rússia, ajudando na solicitação de mais informações junto ao Ministério e à Fundação Defensores da Pátria, organização do Estado que oferece assistência aos veteranos da Operação Militar Especial (SVO) e aos familiares de militares mortos.

“Estou tentando ser forte. É difícil falar sem chorar. É uma situação muito complicada, porque a gente liga e ninguém atende. Só quero saber onde meu filho está, se foi capturado, se está vivo ou ferido. Até quando ficaremos sem respostas? Isso tudo é muito cruel”, lamentou.

Em resposta a Opera Mundi, o Ministério das Relações Exteriores confirmou conhecimento do caso envolvendo brasileiro em Moscou e mantém contato com a família. De acordo com o órgão, a ausência de informações detalhadas se deve ao respeito à privacidade do indivíduo e às disposições da Lei de Acesso à Informação.