Venezuela apoia Grupo de Haia e propõe cúpula mundial pela paz
Em carta, Maduro denuncia o sequestro da justiça internacional frente ao genocídio em Gaza e aponta causa palestina como 'a batalha moral do nosso tempo'
O governo da Venezuela divulgou nesta terça-feira (15/07) uma carta do presidente Nicolás Maduro em apoio ao grupo de Haia, uma coalizão de países que tem como objetivo denunciar e acabar com o genocídio palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza.
A carta ressalta a importância da Reunião Ministerial Especial de Emergência promovida pela Colômbia e pela África do Sul no âmbito do Grupo de Haia, iniciada nesta terça-feira (15/07) em Bogotá. O encontro, afirma Maduro, representa uma resposta “moral e política” frente à passividade do mundo diante “do maior crime da história contemporânea: o genocídio em curso contra a Palestina”.
Na Carta, Maduro condena o genocídio do povo palestino e lembra que não se trata de uma tragédia recente, mas que remonta à ocupação sionista iniciada em 1948. Ao destacar que o regime de Netanyahu “tornou-se a maior ameaça à humanidade”, ele denuncia o sequestro da justiça internacional e reafirma o direito da Palestina “de existir, resistir e viver em liberdade, com um Estado soberano plenamente e com Jerusalém Oriental como sua capital”.
“Não há solução justa sem o fim imediato da ocupação, sem a anulação do regime de apartheid, sem a reparação total dos danos infligidos durante décadas”, afirma o líder venezuelano.
Maduro propõe uma Grande Cúpula Mundial pela Paz e contra a Guerra, para construir “uma solução coletiva e firme para deter o massacre, desarmar nuclearmente o regime israelense e forçá-lo a submeter-se ao sistema jurídico internacional”.
O documento também destaca o trabalho da relatora da ONU Francesca Albanese e reafirma o compromisso da Venezuela com a causa palestina, apontando-a como “a linha que separa justiça e barbárie” e a “batalha moral do nosso tempo”.

Em carta, Maduro denuncia o sequestro da justiça internacional frente ao genocídio em Gaza e aponta causa palestina como “batalha moral de nosso tempo”
Reprodução PSUV/X
Confira a íntegra da carta:
Suas Excelências
Gustavo Petro
Presidente da República da Colômbia, Bogotá.
Cyril Ramaphosa
Presidente da República da África do Sul, Pretória.
Aos povos do mundo
Aos movimentos em defesa dos direitos humanos
À consciência rebelde da humanidade
Ao heroico povo palestino
Às nações da Ásia Ocidental
Da República Bolivariana da Venezuela, acolhemos com esperança e respeito a convocação desta Reunião Ministerial Especial de Emergência, promovida pela República da Colômbia em conjunto com a República da África do Sul, no âmbito do Grupo de Haia, para abordar de forma urgente e coordenada as atrocidades que continuam a ser cometidas contra o Povo palestino. Esta reunião representa uma resposta moral e política essencial num momento em que toda a humanidade é confrontada pelo horror e pela impunidade.
Em nome do povo venezuelano, do Governo Bolivariano e de mim mesmo, levantamos nossas vozes firmemente, comovidos pelo sofrimento do povo palestino e profundamente indignados com a passividade do mundo diante do maior crime da história contemporânea: o genocídio em curso contra a Palestina.
Esta não é uma tragédia recente. Embora, desde outubro de 2023, tenhamos testemunhado uma fase particularmente cruel de extermínio, que deixou quase 60.000 mártires, 138.520 feridos e milhares de desaparecidos sob os escombros, este genocídio não começou há 21 meses; remonta a 1948, com o início da ocupação sionista, com a expulsão forçada do Povo palestino de suas terras e o estabelecimento de um regime colonial e criminoso que utilizou a expropriação, a repressão, o bloqueio e o terror como políticas de Estado.
O que vemos hoje em Gaza, Rafah, Nablus e em toda a Palestina não é um conflito entre iguais. É um plano sistemático para destruir um povo, erradicar sua identidade, apagar sua memória. É um crime contra a humanidade, sustentado pelo fluxo constante de armas, dinheiro, tecnologias de vigilância e proteção diplomática das potências ocidentais, que insistem em criar um enclave militar na Ásia Ocidental. O regime de Netanyahu, sob o controle de uma elite sionista que fez da guerra e do racismo uma doutrina de Estado, tornou-se a maior ameaça à humanidade.
Cada bomba que cai sobre um hospital, uma escola ou um lar palestino não só mata vidas inocentes, como também destrói os fundamentos da paz mundial, fere o direito internacional e ameaça o próprio futuro do sistema das Nações Unidas. Não há legitimidade nem ordem que resista a essa barbárie impune.
Lamentavelmente, as instituições criadas para proteger a humanidade claudicaram. O Tribunal Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional têm se comportado com vergonhosa lentidão, senão com absoluta complacência. Esses órgãos, que deveriam aplicar o direito internacional e proteger os povos sob ataque, foram colonizados por interesses ocidentais. Tornaram-se instrumentos de pressão contra os fracos, mas nunca contra os poderosos. A justiça internacional, hoje, está sequestrada.
Da Venezuela, denunciamos essa colonização institucional, essa hipocrisia estrutural, esse uso desigual e seletivo da lei. A arquitetura jurídica internacional não pode continuar a ser usada como instrumento de punição contra países soberanos do Sul Global, ao mesmo tempo em que concede privilégios de impunidade àqueles que cometem crimes contra a humanidade em grande escala.
Reafirmamos também que a Palestina tem o direito de existir, de resistir e de viver em liberdade, com um Estado plenamente soberano e Jerusalém Oriental como sua capital, em conformidade com as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Não há solução justa sem o fim imediato da ocupação, a abolição do regime do apartheid e a reparação integral dos danos causados ao longo de décadas.
Nesse sentido, propus a convocação de uma Grande Cúpula Mundial pela Paz e Contra a Guerra, com o objetivo de construir uma solução coletiva e firme que ponha fim ao massacre, desarme nuclearmente o regime israelense e o obrigue a se submeter ao sistema jurídico internacional.
Esta cúpula deve estruturar uma proposta de paz justa, eficaz e duradoura, nascida do povo e não das elites que lucram com a guerra.
Gostaríamos também de expressar nosso respeito e apoio ao trabalho corajoso da Relatora Especial das Nações Unidas, Francesca Albanese, sobre a situação dos direitos humanos nos Territórios Palestinos Ocupados. Seu recente relatório constitui um ato de dignidade e verdade, pelo qual ela tem sido atacada e ameaçada. A Venezuela expressa sua solidariedade ativa, bem como o reconhecimento digno de sua coragem e o apelo para que ela continue sua missão, apesar das sanções e da estigmatização que enfrenta. Sua voz é necessária. Sua verdade incomoda os poderosos, mas salvará os oprimidos.
De Caracas, afirmamos com plena convicção: a Causa Palestina não é uma questão regional ou religiosa. É a linha divisória entre a justiça e a barbárie. É a batalha moral do nosso tempo. Defender a Palestina é defender a própria humanidade. Permanecer em silêncio diante da Palestina é trair o espírito de todos os povos que lutaram por sua independência e dignidade.
Com a força do Libertador Simón Bolívar e com a clareza ética e política do Comandante Hugo Chávez, pela paz, pela justiça e pelo futuro da humanidade, reitero nossa inabalável determinação de fortalecer a luta até encontrarmos o caminho para uma paz duradoura na Palestina.
A Palestina não está sozinha. A Venezuela está e sempre estará ao seu lado. A Palestina viverá. A Palestina vencerá.
Excelentíssimos Senhores Presidentes, por favor, aceitem a expressão da minha mais elevada consideração.
Nicolás Maduro Moro
Presidente da República Bolivariana da Venezuela























