Venda de petróleo do Brasil a Israel cresceu 51% em 2024, mostra ANP
Dados apontam que exportações brasileiras a Tel Aviv aumentaram em meio à ofensiva em Gaza; pressão por boicote deve se intensificar, diz Jamil Chade
Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) revelam que, em 2024, o Brasil ampliou significativamente suas exportações de petróleo para Israel, exportando 2,98 milhões de barris de petróleo — um aumento de 51% em relação ao ano anterior. Esse volume representa cerca de 0,5% de todas as exportações brasileiras do produto no período.
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Os dados da ANP, divulgados neste sábado (12/07) pelo colunista Jamil Chade no UOL, mostram que Israel foi o 11º maior comprador de petróleo brasileiro nos primeiros cinco meses do ano. Os países que mais importam do Brasil são China (44%), Estados Unidos (13,7%) e Holanda (7,11%).
O crescimento ocorre em meio ao genocídio em Gaza e ao aumento da pressão por boicote ao Estado de Israel.
Na reportagem, Chade destaca que não há registros, entre 2015 e 2020, de exportações brasileiras a Tel Aviv, apontando que as vendas tiveram início em 2021, ainda sob o governo Jair Bolsonaro. No ano seguinte, atingiram 11 milhões de barris. Já em 2023, esse volume caiu para 1,9 milhão de barris. No entanto, após outubro de 2023, as exportações voltaram a subir, alcançando 2,98 milhões de barris em 2024.
“O dado, até então indisponível, confirma o Brasil como um dos principais fornecedores de petróleo aos israelenses durante a operação em Gaza, denunciada pelos tribunais internacionais como crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, diz a reportagem.

Dados divulgados pela ANP
Para o colunista, a companhia brasileira Petrobras afirmou que não vende petróleo para Israel desde outubro de 2023 e que “comercializa petróleo por meio de venda direta para refinadores estrangeiros e mantém controle de suas entregas até o destino”, resposta semelhante a dada à reportagem de Opera Mundi publicada nesta sexta-feira (11/07) sobre empresas que lucram com genocídio em Gaza.
Já a ANP, segundo Chade, afirmou não dispor de informações detalhadas sobre quais empresas realizaram as exportações citadas.
Relatório da ONU
Reportagem publicada nesta sexta por Opera Mundi mencionava a Petrobras como uma das empresas citadas no relatório “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, assinado pela jurista italiana Francesca Albanese, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os territórios palestinos ocupados por Israel.
A estatal brasileira foi mencionada no documento como uma das empresas que sustentam a “economia do genocídio”. Outras companhias do ramo petroleiro também estão presentes no documento. Com maior destaque, são citadas a BP (British Petroleum, britânica) e a Chevron (norte-americana), além da norte-americana Drummond Company, da suíça Glencore PLC e das israelenses Paz Retail and Energy e NewMed Energy.

Após outubro de 2023, exportações subiram, alcançando 2,9 milhões de barris em 2024
Reprodução / @idfonline
Nesta semana, antes da divulgação do relatório da ANP, a reportagem de Opera Mundi contatou a companhia brasileira. A empresa disse “não ser possível concluir que a Petrobras foi a fornecedora” de petróleo e combustível para o genocídio, porque o documento da ONU apenas cita “petróleo bruto de campos petrolíferos brasileiros”.
Pressão por boicote
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que reúne sindicatos dos trabalhadores do setor de petróleo no Brasil, emitiu nota nesta semana avaliando como correta a informação do relatório de Albanese, que aponta a exportação de óleo bruto de poços brasileiros “operados em parceria com a Petrobras”.
A federação defendeu a Opera Mundi que, diante dos fatos apontados no documento da ONU, “o governo brasileiro rompa relações comerciais com Israel, sobretudo no tema petróleo”.
Ao colunista Jamil Chade, Leandro Lanfredi, diretor do Sindipetro, disse que vai exigir transparência por parte da empresa. Segundo ele, a estatal “foi construída pela luta dos trabalhadores brasileiros” e que aumentar exportação “é participar deste crime que tanto revolta os trabalhadores e os povos de todo o mundo”.
A pressão pelo rompimento também aumentou após a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) apresentar, em 10 de julho, um requerimento ao ministro de Minas e Energia solicitando esclarecimentos sobre as exportações de petróleo e derivados para Israel desde o início da guerra. Para a parlamentar, os dados divulgados revelam uma situação “muito grave”.
“O aumento de 51% das exportações de combustível para Israel é relevante e muito grave, pois significa que, na prática, se intensificou a exportação de petróleo brasileiro justamente quando o genocídio também se intensificou em Gaza”, disse ela ao UOL.
Bomfim acrescentou que seu mandato já havia apresentado um Requerimento de Informação e agora irá ampliar a divulgação dos dados para os movimentos de solidariedade à Palestina. “É necessário intensificar a pressão para que se interrompa o fornecimento, bem como seguir a mobilização pelo rompimento imediato de relações comerciais e diplomáticas com Israel”, defendeu.
(*) Com colaboração de Duda Blumer.























