Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, comunicou na última terça-feira (06/05) que, mediante os cortes de financiamento pelo governo de Donald Trump, a instituição precisará não renovar ou rescindir os contratos de cerca de 180 pesquisadores, o que representa 20% dos beneficiados pelo programa encerrado.

Por meio de um comunicado publicado no site da universidade, a presidente interina da faculdade que fica em Nova Iorque, Claire Shipman, classificou o anúncio como “escolhas difíceis” em meio a “pressões fiscais significativas”.

“As crescentes restrições orçamentárias, combinadas com a incerteza relacionada aos níveis futuros de financiamento federal para pesquisa, incluindo as reduções propostas nos reembolsos de instalações e administração (ou seja, custos indiretos), exigem que façamos escolhas difíceis. Tivemos que tomar decisões deliberadas e ponderadas sobre a alocação de nossos recursos financeiros. Essas decisões também impactam nosso maior recurso: nossos funcionários. Entendemos que esta notícia será difícil”, relata Shipman.

A decisão que afeta os pesquisadores da Universidade de Columbia ocorre como resultado da avaliação da instituição de como “priorizar a atividade de pesquisa em vista dos cortes substanciais em mais de 300 bolsas plurianuais financiadas pelo governo federal”.

Antes de anunciar o corte, o documento intitulado “Preservando as capacidades críticas de pesquisa da Columbia” garantiu que a faculdade está “engajada em um esforço duplo relacionado às bolsas encerradas pelo governo federal”.

Shipman explicou que “o primeiro foco” da universidade é “restaurar as parcerias com agências governamentais que apoiam pesquisas críticas”. “Estamos trabalhando e nos planejando para todas as eventualidades, mas, enquanto isso, a pressão, financeira e sobre nossa missão de pesquisa, é intensa”, relatou

Por isso, a instituição desenvolveu um “plano de gerenciamento das pesquisas afetadas”, de modo que “cada pesquisador principal de uma bolsa encerrada que desenvolvesse um Plano de Ação de Pesquisa (PAR)” que permitiu à universidade continuar a financiar pesquisadores que antes eram apoiados pelo governo federal.

Apesar do esforço, a alternativa exige que a Columbia precise reduzir despesas com as bolsas antes pagas pela administração norte-americana e agora assumidas pela instituição. Na prática, “infraestrutura de pesquisa mais leve” são mantidas em algumas áreas, em outras “o nível de continuidade da pesquisa” é mantido. Mas “em alguns casos, escolas e departamentos estão encerrando suas atividades”.

Por outro lado, a presidente interina da Columbia alertou para que tais departamentos “permaneçam preparados para restabelecer as capacidades caso o apoio [do governo federal] seja restabelecido”.

Diante do cenário, a Columbia garantiu não tomar tais decisões “levianamente”. “Estamos profundamente comprometidos com o trabalho crítico de invenção, inovação e descoberta. A excelência do nosso portfólio de pesquisa é fundamental para a nossa identidade e estamos determinados a apoiá-lo”.

O comunicado também anunciou um “Fundo de Estabilização de Pesquisa” para evitar situações semelhantes no futuro: “esses recursos serão disponibilizados por meio de um processo de solicitação de bolsas internas a cientistas para apoiar seu trabalho por tempo limitado, enquanto buscam fontes alternativas de financiamento ou concluem os componentes de suas pesquisas para permitir a publicação dos resultados”, informa.

Por fim, Shipman concluiu o documento ao alertar que “nas próximas semanas e meses” novas medidas que “preservem a flexibilidade financeira” da Columbia serão anunciadas.

“Este é um momento profundamente desafiador para todo o ensino superior, e estamos tentando navegar por essa tremenda ambiguidade com precisão, que às vezes será imperfeita”, encerra, sem mencionar diretamente o governo Trump.

Ameaças do governo Trump contra universidades decorrem das manifestações pró-Palestina nos campus no último ano
Daniel Torok/White House

Harvard na mira do governo Trump

Apenas um dia antes da Universidade de Columbia anunciar a demissão dos cerca de 180 pesquisadores devido aos cortes governamentais, a Secretária de Educação do governo republicano, Linda McMahon, anunciou que não concederá novos subsídios à Universidade Harvard.

Por meio da rede social X, a funcionária afirmou que a universidade “falhou em cumprir com suas obrigações legais, seus deveres éticos, responsabilidades de transparência e qualquer aparência de rigor acadêmico”.

Em uma carta ao presidente da Universidade Harvard, Alan Garber, McMahon disse que a escola “zombou do sistema de ensino superior” por “continuar a se envolver em racismo flagrante em suas escolas de graduação e pós-graduação”, sem oferecer detalhes.

Visando congelar futuras bolsas, McMahon afirmou que Harvard “não será mais uma instituição financiada publicamente”.

O embate entre o governo norte-americano e a instituição ganhou força depois que a administração do republicano enviou uma carta a Harvard, no início de abril, exigindo reformas nas políticas de admissão da universidade, além de mudanças administrativas na instituição.

Em resposta, o presidente interino da faculdade, Alan Garber, afirmou que a universidade não cederia às pressões políticas, que dominavam condições políticas adicionais para “manter o relacionamento financeiro de Harvard com o governo federal”.

As exigências incluíam a eliminação dos programas de diversidade, equidade e inclusão de Harvard, a proibição de máscaras durante protestos no campus, a reforma da contratação e admissão com base no mérito e a redução do poder do corpo docente e dos administradores “que estão mais engajados no ativismo do que na pesquisa acadêmica”.

Poucas horas após a rejeição de Harvard, o governo de Trump suspendeu o repasse de bilhões de dólares em recursos, o que compromete diretamente as atividades de pesquisa científica e médica da instituição. Além do financiamento público, o mandatário norte-americano intensificou seu confronto com a universidade, ameaçando retirar sua isenção fiscal.

Trump contra as universidades?

Toda essa pressão de Trump contra as universidades, em especial Columbia e Harvard, faz parte de uma estratégia do republicano de usar o financiamento público como instrumento para moldar o comportamento das instituições, forçando-as a se alinhar à agenda política trumpista.

As ameaças do governo Trump contra as universidades norte-americanas decorrem em especial das manifestações pró-Palestina e contra a guerra na Faixa de Gaza no ano passado. A administração republicana avalia que as mobilizações foram movidas por suposto antissemitismo.

Assim, para a Casa Branca, as medidas são um trabalho do governo Trump para “tornar o ensino superior excelente novamente, acabando com o antissemitismo desenfreado e garantindo que os fundos dos contribuintes federais não financiem o apoio de Harvard à discriminação racial perigosa ou à violência motivada por racismo”.

(*) Com Brasil247, TeleSUR e informações do The News York Times