Tropas israelenses concluem retirada de Gaza; Hamas tem 72 horas para libertar reféns vivos
Milhares de famílias deslocadas retornam para o sul do enclave, enquanto Forças de Defesa de Israel ameaçam matar palestinos que se aproximem das zonas de fronteira
O Exército de Israel concluiu nesta sexta-feira (10/10) a retirada de suas tropas da Faixa de Gaza para a chamada “linha amarela”, um perímetro que varia entre 1,5 e 5 quilômetros a partir das fronteiras do enclave e que corresponde a 53% do território. A retirada faz parte do acordo de cessar-fogo com o Hamas, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que foi oficialmente aprovado na noite anterior.
Desta forma, o grupo palestino terá agora 72 horas, ou seja, até a manhã de segunda-feira (13/10), para libertar os 20 prisioneiros israelenses ainda vivos.
“As forças das IDF [Forças de Defesa de Israel] se posicionaram nas últimas linhas de deslocamento, em conformidade com o acordo de cessar-fogo e para o retorno dos sequestrados”, confirmou o Exército de Israel, em comunicado, porém, alertando que “continuarão a operar para eliminar qualquer ameaça imediata”.
Com a retirada, milhares de famílias palestinas que haviam sido forçadas a se deslocar para o sul do enclave começaram a voltar para a Cidade de Gaza, no norte. Contudo, Israel alertou a população para não se aproximar de pontos de concentração de tropas, bem como da passagem de fronteira de Rafah e do Corredor Filadélfia, na fronteira com o Egito. As IDF “recomendaram” ainda que pescadores e banhistas “não entrem no mar nos próximos dias”.
“Aproximar-se de zonas militares coloca em risco a vida de vocês”, alertaram.
Ataques em meio à retirada
O esquema de retirada se iniciou logo após o governo israelense, em votação, aprovar o cessar-fogo com o Hamas. Enquanto as tropas se movimentavam, ataques aéreos e de artilharia continuaram em diferentes regiões de Gaza. Helicópteros de ataque e tanques israelenses realizaram novas ofensivas no norte da Cidade de Gaza, ponto onde muitos dos palestinos retornam, e em Khan Younis, no sul.
Segundo a agência Wafa, nesta manhã bombardeios israelenses atingiram a área de Al-Katiba, no centro de Khan Younis, com vários disparos de artilharia, coincidindo com o voo de drones sobre a cidade. Testemunhas relataram explosões durante toda a noite e a destruição de edifícios residenciais.
Na Cidade de Gaza, equipes médicas recuperaram os corpos de 35 palestinos de vários locais da Faixa de Gaza nesta sexta-feira. Entre as vítimas, 19 foram encontradas em diferentes bairros da Cidade de Gaza, com pelo menos nove pessoas mortas em um ataque aéreo israelense na noite de ontem, no bairro de al-Sabra. Também houve uma vítima de tiros israelenses no bairro de Sheikh Radwan, ao norte da cidade.
O correspondente da Al Jazeera, Tareq Abu Azzoum, informou uma intensa movimentação de drones israelenses desde o amanhecer e a presença de navios de guerra próximos à costa, bloqueando o retorno dos civis. “Muitos moradores se reúnem perto do Corredor Netzarim esperando o momento de voltar para casa, mas o som dos drones e as explosões não cessaram”, relatou.

Tropas israelenses iniciam retirada; ataques são registrados em Khan Younis
Agência Wafa
Próximos passos
De acordo com a Rádio do Exército de Israel, o governo permitirá a entrada de até 600 caminhões diários com alimentos, combustível, gás de cozinha e medicamentos, organizados pela ONU e por instituições internacionais. A circulação será feita pelas estradas Salah al-Din e al-Rashid, ligando o sul ao norte da Faixa de Gaza.
Autoridades norte-americanas confirmaram que o Comando Central dos EUA (CENTCOM) criará uma força-tarefa de 200 soldados para monitorar o cumprimento do cessar-fogo, sem entrar em Gaza. O grupo, chamado Centro de Coordenação Civil-Militar (CMCC), atuará em parceria com Egito, Catar, Turquia e possivelmente os Emirados Árabes Unidos, para supervisionar o envio de ajuda humanitária e evitar confrontos durante a retirada israelense.
A passagem de Rafah também será reaberta, permitindo o retorno de palestinos que deixaram o enclave durante a guerra. O deslocamento será supervisionado pela União Europeia, em coordenação com as autoridades egípcias e israelenses. O relatório indica que o retorno só começará após um acordo final sobre os mecanismos de controle fronteiriço.
(*) Com Ansa























