Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Entre os 20 pontos listados no plano de paz na Faixa de Gaza, costurado pelos Estados Unidos de Donald Trump e endossado por Tel Aviv, há um item que não consta no documento: a concessão da anistia ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Ele é indiciado por crimes de guerra e contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e acusado por genocídio pela Corte Internacional de Justiça (CIJ).  

Segundo o jornal britânico The Independent nesta terça-feira (30/09), Netanyahu “acrescentou mais algumas ressalvas ao programa de ‘reforma’ da Autoridade Palestina” que não estavam contempladas na proposta norte-americana, incluindo “acabar com a guerra jurídica contra Israel no TPI e na CIJ”, ou seja, exigindo a impunidade.

Antes da divulgação do plano, o jornal Israel Hayom relatou “preocupações” por parte do governo Netanyahu, que estava tentando garantir que “qualquer acordo para acabar com a guerra também resolva a onda de ações legais internacionais contra os soldados das IDF [Forças de Defesa de Israel]”. Além do premiê, seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, é alvo de mandado de prisão pelo TPI. 

No nono tópico do documento, se diz que a Autoridade Palestina (AP) só teria permissão para governar o território palestino após “concluir seu programa de reformas”. Enquanto isso, haveria um governo de transição temporário supervisionado por autoridades estrangeiras, incluindo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e figuras dos EUA.

Depois desse estágio, a AP teria o direito de administrar a chamada “Nova Gaza”, uma área “desmilitarizada”. Mas o ponto adicional não mencionado no texto é que isso somente se concretizaria com a condição de que também se anulem todos os processos legais contra Israel nas cortes.

O plano de paz segue sendo analisado pelo Hamas.

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca, em 29 de setembro de 2025
The White House

Firme oposição ao Estado palestino

Um dia após concordar com o plano de Trump durante encontro na Casa Branca, nesta terça-feira, Netanyahu voltou a declarar que se opõe “firmemente” à criação do Estado palestino e que seu exército continuará executando as operações militares na “maior parte” de Gaza. 

“Uma coisa foi claramente dita: nós vamos nos opor firmemente a um Estado palestino”, afirmou o premiê por meio de vídeo, apontando que o assunto “não está escrito no acordo” de cessar-fogo recentemente apresentado. 

Porém, a alegação de Netanyahu é falsa. O tópico 19 do documento diz que “à medida que avance a reurbanização de Gaza e se implemente fielmente o programa de reforma da Autoridade Palestina, poderiam finalmente ser criadas as condições para um caminho credível em direção à autodeterminação e à criação de um Estado palestino”.

“Vamos recuperar nossos reféns, enquanto as IDF permanecerão na maior parte da Faixa de Gaza. Disseram-nos para aceitar as condições do Hamas. Se o Exército se retirar, o Hamas pode se reforçar e controlar a Faixa. Não, não funciona assim”, salientou o premiê.

O plano de paz, que logo após sua publicação foi criticada por altos funcionários do Hamas sobre se “inclinar” à favor do regime sionista, prevê como pontos fundamentais a restituição dos prisioneiros israelenses, a rendição total do grupo palestino e a retirada gradual das IDF do enclave. 

Trump deu “três a quatro dias” para que o Hamas “aceite” a oferta norte-americana. Caso contrário, o republicano ameaçou apoiar Israel nos esforços para levar o massacre até o fim.