Soldados que violentaram palestino em prisão de Israel tentam reverter acusação
Reservista israelense diz que processo é 'injusto' e que 'não deu tempo de explicar'; vídeo de 2024 mostra abusos contra detento na unidade Sde Teiman
Usando máscaras pretas para esconderem suas identidades perante a Suprema Corte de Israel, os soldados israelenses que estupraram um detento palestino na prisão de segurança máxima Sde Teiman, no sul de Israel, próximo à Faixa de Gaza, defenderam publicamente seus crimes – apesar das imagens gravadas e amplamente divulgadas pela imprensa global. Os militares alegaram que estão sendo processados injustamente e prometeram “lutar por justiça”.
“Em vez de abraços, recebemos acusações e, em vez de agradecimentos, houve silêncio”, disse um dos acusados em coletiva. “Você nos julgou diante das câmeras e já decidiu quem era o culpado. Não nos deu tempo de explicar. […] Não ficaremos calados. Continuaremos lutando por justiça e por nossas famílias. Você pode até ter tentado nos comprometer, mas esqueceu que somos uma força de cem homens”.
A coletiva aconteceu no domingo (02/11) e foi recentemente repercutida após a prisão da major-general Yifat Tomer-Yerushalmi. O caso está relacionado a um incidente ocorrido em julho de 2024, em um vídeo vazado pela mídia local com o aval da ex-procuradora-geral e advogada militar das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), que foi presa no dia anterior.
Na ocasião, imagens de câmeras de segurança mostraram um grupo de prisioneiros palestinos deitados no chão da base militar de Sde Teiman, com os olhos vendados. Cinco reservistas então selecionam uma das vítimas e a levam para um canto da instalação para violentá-la. O homem sofreu “sinais de abuso grave”, tendo inclusive um intestino rompido e trauma retal grave.

Os soldados israelenses que estupraram um prisioneiro palestino em Sde Teiman compareceram a uma coletiva de imprensa com seus advogados, usando máscaras
X/Eye on Palestine
Nesta terça-feira (04/11), o ministro da Justiça, Yariv Levin, nomeou o procurador-geral interino, Asher Kula, para chefiar a investigação sobre Tomer-Yerushalmi. A ex-procuradora é, segundo o jornal Times of Israel, suspeita de fraude e quebra de confiança, abuso de cargo, obstrução da justiça e divulgação ilegal de material.
O portal Middle East Eye (MEE) destaca que a major-general “passou toda a sua carreira defendendo os militares israelenses”, mas que, após o vazamento do vídeo, tornou-se alvo dos políticos de extrema direita. Por exemplo, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, criticou a advogada, dizendo que ela agiu contra soldados israelenses e “colaborou em vazamentos com libelos de sangue contra o Estado de Israel”.
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que o vazamento do vídeo “causou enormes danos à reputação de Israel, do Exército e de nossos soldados” e ordenou para que uma “investigação independente e imparcial” seja realizada sobre o ocorrido. Segundo ele, trata-se “talvez o ataque de relações públicas mais sério que Israel sofreu desde a sua fundação”.























