Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, classificou o plano de deslocamento forçado dos palestinos da Faixa de Gaza sugerido pelo mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, como “um crime sério, que no final das contas vai falhar”.

Em entrevista ao podcast britânico The Rest is Politics, apresentado pelo ex-ministro dos Tribunais e da Justiça do Reino Unido, Rory Stewart, e o escritor Alastair Campbell, al-Sharaa rejeitou as recentes afirmações do republicano sobre o enclave palestino. O episódio foi publicado na última segunda-feira (09/02).

“Nenhum poder pode forçar o deslocamento de pessoas. Muitos países tentaram fazer isso e todos eles falharam. Não seria sábio, nem moral ou politicamente certo para Trump se esforçar para que os palestinos deixem sua terra”, opinou.

O governante responsável pela Síria após a queda do governo de Bashar al-Assad ressaltou ainda que desde 7 de outubro de 2023 os palestinos em Gaza “estão sofrendo com dores, mortes e destruição e mesmo assim se recusaram a deixar suas terras”.

“A lição palestina que todas as gerações aprenderam é a importância de se fixar na sua terra”, declarou ainda, comparando os planos de deslocamento em massa do magnata norte-americano na Palestina com a expulsão de imigrantes que seu governo tem aplicado nos Estados Unidos.

Na última semana, diante da visita do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aos Estados Unidos, Trump indicou intenções de expropriação imobiliária de Gaza, ao descrever o enclave palestino como “Riviera do Oriente Médio”.

O presidente insiste, desde então, na ideia de transferir compulsoriamente a população palestina de Gaza para a Jordânia e Egito, apesar da rejeição de ambos os países, em particular, e da comunidade internacional.

Trump chegou a admitir que os palestinos não poderiam retornar a Gaza após eventual reconstrução, contrariando seu direito legítimo sob a lei internacional e resoluções das Nações Unidas.

Resistência palestina reage

Além das declarações, Trump ameaçou “abrir as portas do inferno” e cancelar a trégua entre Israel e o grupo palestino Hamas caso o movimento não liberte todos os israelenses presos na Faixa de Gaza até o próximo sábado (15/02).

A posição de Trump provocou reação no Hamas. À AFP, Sami Abu Zuhri, alto dirigente do movimento, afirmou que a linguagem agressiva do republicano dificulta ainda mais a já frágil trégua em Gaza, estabelecida em 19 de janeiro.

“O discurso de ameaças não tem valor algum e complica ainda mais as coisas”, declarou na última terça-feira (11/02). Zuhri também lembrou que o acordo de cessar-fogo deve ser respeitado por ambas as partes. “Esta é a única maneira de devolver os prisioneiros”, enfatizou.

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“Não seria sábio, nem moral ou politicamente certo para Trump se esforçar para que os palestinos deixem sua terra”, afirmou Ahmed al-Sharaa

Segundo a emissora catari Al Jazeera, o Hamas ainda agradeceu a Jordânia e o Egito por sua rejeição em aceitar o deslocamento forçado dos palestinos.

“Apreciamos as posições de nossos irmãos árabes e de todos os países do mundo que expressaram sua rejeição aos planos de deslocar nosso povo ou liquidar seus direitos nacionais”, acrescentou o grupo em uma declaração.

As declarações de Trump também provocaram reação em outro movimento de resistência palestino, as Forças Nacionais Palestinas e Islâmicas em Gaza.

Em mensagem, afirmaram que “os planos de deslocamento da Faixa de Gaza não se limitarão a deslocar os palestinos da Cisjordânia”, uma vez que seu povo “que fez sacrifícios ao longo de décadas, não deixará sua terra natal e permanecerá enraizado em sua terra”.

“As declarações de Trump são uma declaração de guerra que visa arrancar nosso povo da Faixa de Gaza. Os planos de deslocamento representam uma limpeza étnica e resistiremos a eles com todas as nossas forças”, declararam em comunicado, apelando aos países árabes por “medidas práticas” contra os planos do mandatário republicano.

Já o Ministério das Relações Exteriores da Palestina, administrado pela Autoridade Palestina – governo reconhecido pelas Nações Unidas como responsável pelo enclave – chamou os comentários da Jordânia, juntamente com as reações do Egito, Arábia Saudita, de “corajosos e fraternos”.

Em comunicado, ainda disse que Gaza precisa de um “plano sólido que conte com o consenso palestino, árabe e internacional e que seja implementado com a contribuição de instituições internacionais e parceiras”.

Como está a trégua?

Na última segunda-feira (10/02), Hamas adiou indefinidamente a liberação de mais reféns – um dos principais pontos do acordo – devido às violações do cessar-fogo por parte de Israel.

Segundo o movimento de resistência, Tel Aviv atrasou o retorno dos civis deslocados para diferentes locais na Faixa de Gaza e não tem permitido a entrada de toda ajuda humanitária negociada.

Em meio à troca de acusações entre Israel e o Hamas sobre o descumprimento do acordo de trégua, a emissora estatal do Egito Al-Qahera News indicou que mediadores do país e do Catar “estão envolvidos em esforços diplomáticos de alto nível para tentar salvar o cessar-fogo em Gaza”.

Segundo a Al Jazeera, uma delegação do Hamas, liderada pelo negociador-chefe Khalil al-Hayya, está nesta quarta-feira (12/02) na capital egípcia, Cairo, para debater a implementação do acordo de trégua.

(*) Com Monitor do Oriente Médio e informações da Al Jazeera