Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reiterou nesta sexta-feira (24/10) a oposição da Casa Branca à anexação israelense da Cisjordânia. Na sua avaliação, a recente votação realizada no Parlamento do Knesset, em Israel, que aprovou a legislação em leitura preliminar, ameaça o plano costurado pelos Estados Unidos para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

“Todo mundo tem que entender que se algo assim [anexação] acontecesse agora, muitos dos países que estão envolvidos no trabalho [acordo de cessar-fogo] provavelmente não vão querer mais se envolver nisso”, alertou Rubio, que classificou o plano em vigor de “único”. “É uma ameaça ao processo de paz, e todo mundo sabe disso.”

Embora o principal diplomata do governo de Donald Trump tenha reforçado o rechaço à proposta de anexação – que previa seguir para o Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset, mas ficou paralisada após pressão dos EUA – alegando aumentar as chances do rompimento do plano, relatos de palestinos que moram na Cisjordânia obtidos por Opera Mundi mencionam que o cessar-fogo, na realidade, “nunca aconteceu” na região.

“Nada mudou depois do cessar-fogo! Mesmas restrições, mesmas barreiras, mesmos pontos de encontro e mesmo regime no sul da Cisjordânia. Eles ainda evacuam pessoas dos campos e destroem suas casas. E estão tentando dividir a Cisjordânia em três áreas, além de expandir os assentamentos. Os colonos continuam atacando as pessoas, especialmente no interior”, informou um palestino à reportagem.

A posição de Rubio foi dada em coletiva na sede do Centro de Coordenação Civil-Militar dos EUA, diretamente da cidade israelense de Kiryat Gat. A fala à imprensa marca a conclusão da agenda no país, que teve como objetivo supervisionar o andamento do processo do cessar-fogo, ratificado e implementado em 10 de outubro. Segundo Rubio, se faz cada vez mais presente a influência norte-americana em Israel, com o aumento no número de membros dos serviços diplomáticos e de segurança.

Ainda na coletiva, o secretário de Trump considerou a necessidade de consolidar acordos adicionais de normalização entre o regime sionista e os países árabes após o cessar-fogo. Em referência aos tratados dessa natureza firmados em 2020 entre Israel e a comunidade regional, Rubio defendeu “o maior número possível de membros dos Acordos de Abraão”, mas não mencionou quais nações em específico. Para ele, a implementação da trégua abre caminho para que isso ocorra.

Marco Rubio realizou uma coletiva na sede do Centro de Coordenação Civil-Militar dos EUA, em Israel
X/Secretary Marco Rubio

Quem governará Gaza?

De acordo com o secretário norte-americano, a Autoridade Palestina está fora da hipótese de quem governará a Faixa de Gaza após o cessar-fogo, ao mencionar “preocupações sobre a Autoridade Palestina como ela está hoje”. “Isso ainda está para ser determinado, se é que algum papel”, complementou.

“[Gaza] não pode ser um lugar governado por qualquer um que queira usá-la como plataforma de lançamento para ataques contra Israel. Se for, então haverá outra guerra… Nunca haverá paz enquanto houver uma área ou um território que esteja sendo usado como plataforma de lançamento para ameaçar a segurança de Israel. Todo mundo entende isso, e todo mundo que assinou este acordo entende isso”, defendeu.

Para ele, a futura governança do território “será algo que terá que ser trabalhado coletivamente com Israel, com os Estados-nação parceiros”, sendo necessário o consenso “de todos”.

Em determinado momento, o representante foi questionado se, em caso de possível violação do Hamas, Israel poderia retomar os ataques contra os palestinos de forma independente, sem precisar necessariamente do aval norte-americano. Rubio evitou o assunto e apenas sustentou que o plano de cessar-fogo que vigora tem amplo apoio regional e que inexiste outra alternativa a não ser unicamente este projeto.

“Eu não acho que isso tenha a ver com permissão ou qualquer coisa dessa natureza. Estamos todos comprometidos em fazer esse plano funcionar. Não há plano B. Este é o melhor plano. É o único plano. É um que achamos que pode ter sucesso. É um que acreditamos estar no caminho do sucesso”, disse.

Em relação à fase de desarmamento do Hamas, o diplomata enfatizou que em possível caso de recusa do grupo palestino em cumprir tal cláusula, se tratará de uma violação, alguma medida deverá ser tomada. “Não vou entrar nos mecanismos pelos quais isso será feito”, acrescentou. 

Sobre a segurança de Gaza, por meio da implantação das forças internacionais a serem estabilizadas na área, Rubio reconheceu que ainda não se alcançou uma definição. Entretanto, enfatizou que as tropas serão de países “com os quais Israel também se sinta confortável”.

“Obviamente, ao montar essa força, terá que ser países com os quais Israel também se sinta confortável. Há muitos países que estão expressando interesse agora”, disse, sem detalhar quais.

UNRWA fora do cessar-fogo

Ignorando a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial das Nações Unidas (ONU), desta quarta-feira (22/10), que considera uma violação do direito internacional a proibição de Israel aos programas de auxílio fornecidos pelo órgão e suas entidades em Gaza e na Cisjordânia ocupada, Rubio insistiu que a Agência da ONU para Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês) “não vai desempenhar nenhum papel” na entrega de ajuda sob o plano de cessar-fogo. Em sua fala, ainda voltou a chamar a agência de “uma subsidiária do Hamas”.

“A ONU está aqui […] estamos vendo o trabalho que eles estão fazendo, o Programa Mundial de Alimentos. Há também ONGs sem fins lucrativos, organizações de assistência humanitária envolvidas nisso, Samaritan’s Purse. É um conglomerado de cerca de 8 a 12 grupos que estão aqui”, disse. “Estamos dispostos a trabalhar com eles se puderem fazer funcionar. Mas não a UNRWA. A UNRWA tornou-se uma subsidiária do Hamas”.

Na quarta-feira (22/10), a CIJ concluiu por unanimidade que o Estado israelense, estando no lugar de uma “potência ocupante” nos territórios palestinos, tem a obrigação de facilitar a entrada de ajuda humanitária no enclave para aliviar o sofrimento dos palestinos.

Na sessão, foi destacado o caso envolvendo a UNRWA. Esta agência da ONU, em específico, foi proibida de operar em Israel após o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusar que funcionários do órgão teriam tido envolvimento na articulação do ataque de 7 de outubro de 2023. Contudo, a teoria foi negada pela CIJ devido à inexistência de provas.

“O tribunal conclui que Israel não fundamentou suas alegações de que uma parte significativa dos funcionários da UNRWA são ‘membros do Hamas ou de outras facções terroristas’”, disse o tribunal, que também classificou a UNRWA um órgão “imparcial” e indispensável para a prestação de ajuda aos palestinos.