Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O diplomata e atual assessor especial da Presidência brasileira para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou que a proposta de Donald Trump para a Faixa de Gaza, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, é “insuficiente” para reconhecer o Estado palestino.

“Diversos Estados que votaram a favor da resolução não deixaram de apontar sua insuficiência quanto ao pronto e inequívoco reconhecimento do Estado palestino”, afirmou em declaração exclusiva a Opera Mundi.

Apesar da crítica, Amorim disse acreditar “que uma resolução que contribua para conter a matança deve ser considerada positiva”, ressaltando que a maioria dos países árabes e muçulmanos apoiaram a proposta do presidente dos Estados Unidos.

“Pessoalmente, acredito que uma resolução que contribua para conter a matança deve ser considerada positiva. De modo geral, países árabes e muçulmanos a apoiaram. Vale notar que diversos Estados que votaram a favor da resolução não deixaram de apontar sua insuficiência quanto ao pronto e inequívoco reconhecimento do Estado palestino”, disse.

Por outro lado, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, afirmou que a aprovação levará “a uma grande operação de apagamento das provas do genocídio” cometido por Israel. À reportagem, ele denunciou o plano, que, segundo sua avaliação, será uma “reconstrução monopolizada”.

Com a criação de um “conselho de paz”, que terá amplos poderes de governança e um conselho com mandato até o final de 2027, Rabah disse que “seguramente haverá um processo de despalestinização de Gaza”. Para o presidente da Fepal, a aprovação reflete “um processo claro de descartar todas as resoluções da ONU, mas especialmente as diretamente relacionadas à Palestina”.

Segundo ele, a medida abre caminho para que convenções contra o colonialismo, apartheid e genocídio sejam “descartadas como aplicáveis” e previu que os próximos passos podem ser os EUA não reconhecendo a Corte Internacional de Justiça e o Tribunal Penal Internacional e suas decisões, impedindo o julgamento do governo de Israel por genocídio e a prisão do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e demais autoridades do país.

“Os EUA Impedirão a investigação do genocídio. A possível reconstrução de Gaza será para dar lucro aos EUA e seus parceiros, inclusive para o regime israelense. O genocídio dará lucro”, disse.

Rabah ainda criticou a falta de detalhamento e a exclusão de assuntos como o levante do bloqueio israelense no enclave palestinos, a retirada das tropas israelenses do plano proposto por Trump e aprovado pela ONU e a violência na Cisjordânia. Além disso, defendeu que o plano aprovado pelo Conselho de Segurança não traz estabilidade para a região. “Só haverá paz na Palestina desmantelando a origem do caos, o regime segregacionista israelense”.

Para Fepal, reconstrução de Gaza pelos EUA apagará provas do genocídio
IRNA/Fotos Públicas

Autoridade Palestina mantém cooperação com Estado genocida

Já Soraya Misleh, jornalista e coordenadora da Frente Palestina, considerou ser “vergonhoso” que a proposta tenha sido aprovada. Também lembrou as diversas vezes que os EUA usaram seu poder de veto para impedir o cessar-fogo em Gaza em meio ao genocídio. Ela também criticou o apoio concedido pela Autoridade Nacional Palestina (AP) ao plano de Trump aprovado.

Em sua análise, a ONU validou uma “tutela internacional para Gaza, sob a chefia de Trump e, como tem sido ao longo da história, sem consultar os habitantes nativos”.

A coordenadora da Frente Palestina ainda lembrou que a decisão foi tomada “no mês em que se completam 78 anos do crime cometido em sessão especial da Assembleia Geral da ONU, no dia 29 de novembro de 1947, de recomendação de partilha da Palestina, também sem consulta aos habitantes nativos”.

Portanto, “esta aprovação explicita a cumplicidade da ONU com a contínua Nakba, catástrofe palestina que já dura mais de 77 anos. Em 1947 a ONU deu sinal verde para a limpeza étnica e genocídio do povo palestino e agora assistimos a uma reedição desse sinal verde em relação a Gaza, refletindo o racismo característico em relação ao povo palestino, que mais uma vez é alijado do seu destino”.

Por fim, exigiu a ampliação da mobilização e solidariedade internacional para que “o Estado racista e colonial de Israel” seja isolado internacionalmente.

Opera Mundi procurou a Confederação Israelita do Brasil (CONIB), mas a entidade não respondeu à solicitação de posicionamento até o fechamento desta reportagem.