Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Atualização às 13h10

O Reino Unido, a Austrália e o Canadá anunciaram neste domingo (21/09) o o reconhecimento do Estado da Palestina. A medida foi anunciada às vésperas da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, que ocorrerá entre 22 a 30 de setembro.

“Hoje, para reavivar a esperança de paz para os palestinos e israelenses, e uma solução de dois Estados, o Reino Unido reconhece formalmente o Estado da Palestina”, anunciou o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer (Partido Trabalhista), por meio da rede social X.

Em discurso, Starmer fez o anúncio “diante do crescente horror no Oriente Médio” e para “manter viva a possibilidade de paz e uma solução de dois Estados”. “Isso significa um Israel seguro e protegido ao lado de um Estado palestino viável. No momento, não temos nenhum dos dois”, acrescentou.

“A crise humanitária provocada em Gaza atinge novos níveis. O bombardeamento implacável e crescente do governo israelense. A ofensiva das últimas semanas, a fome e a devastação são absolutamente intoleráveis”, declarou, ao lembrar dos palestinos mortos na tentativa de receberem água e comida.

Durante o anúncio, Starmer lembrou que o Reino Unido evacuou o primeiro grupo de crianças palestinas doentes para serem tratadas no serviço de saúde britânico. “E continuamos a aumentar nosso apoio humanitário”, informou.

O mandatário britânico não deixou o Hamas de fora de seu discurso. Ao classificar os ataques de 7 de outubro de 2023, que deram início à mais recente ofensiva israelense em Gaza, como “bárbaros” e o grupo como “organização terrorista brutal”, Starmer exigiu a “libertação imediata” dos reféns capturados pela resistência palestina.

O premiê também defendeu que o reconhecimento do Estado palestino “não é uma recompensa para o Hamas”, estabelecendo que o grupo “não pode ter futuro, nem papel no governo ou na segurança” de Gaza.

“Já prescrevemos e sancionamos o Hamas. E iremos mais longe. Ordenei que fossem tomadas medidas para sancionar outras figuras do Hamas nas próximas semanas”, declarou, reconhecendo que a ajuda humanitária que chega no enclave “está chegando está longe de ser suficiente”.

“Apelamos novamente ao governo israelense para que suspenda as restrições inaceitáveis à fronteira, pare com essas táticas cruéis e permita a entrada da ajuda humanitária”, instou, exigindo também um cessar-fogo.

Starmer observou que o reconhecimento do Estado palestino para a existência de uma solução de dois Estados na região “é um plano prático para unir as pessoas em torno de uma visão comum e de uma série de medidas”, que incluem uma reforma na Autoridade Nacional Palestina (ANP), movimento reconhecido pela ONU que deveria administrar a Faixa de Gaza.

“Outras medidas, incluindo o estabelecimento de relações diplomáticas e a abertura de embaixadas, serão consideradas à medida que a Autoridade Palestina avançar em seus compromissos de reforma”, detalhou.

Em seu discurso, Starmer ainda abordou a questão da reconstrução de Gaza, dizendo que um “trabalho crucial” envolvendo toda a comunidade internacional já está em andamento.

“A liderança dos países da Liga Árabe e dos Estados Unidos é vital para essa tarefa. A Austrália continuará a trabalhar com nossos parceiros internacionais para ajudar a dar continuidade ao ato de reconhecimento de hoje e aproximar o Oriente Médio da paz e segurança duradouras que são a esperança e o direito de toda a humanidade”, concluiu.

Países anunciam reconhecimento antes de reunião na ONU, que começa na segunda-feira (22/09)
Lua Eva Blue/Wikicommons

Austrália defende Estado “independente e soberano” da Palestina

Do mesmo modo, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, também anunciou neste domingo Estado o reconhecimento formal do “independente e soberano da Palestina”.

“Ao fazê-lo, a Austrália reconhece as aspirações legítimas e de longa data do povo da Palestina de ter seu próprio Estado”, escreveu o governo australiano em um comunicado oficial.

De acordo com o documento, também assinado pela ministra australiana das Relações Exteriores, Penny Wong, “o reconhecimento da Palestina pela Austrália hoje, juntamente com o Canadá e o Reino Unido, faz parte de um esforço internacional coordenado para criar um novo impulso para uma solução de dois Estados, começando com um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns capturados nas atrocidades de 7 de outubro de 2023”.

O governo de Albanese defendeu que a solução de dois Estados “sempre foi o único caminho para a paz e a segurança duradouras para os povos israelense e palestino” e também mencionou os “requisitos claros” da comunidade internacional para a ANP: realização de eleições democráticas e a promulgação de reformas significativas nas áreas de finanças, governança e educação.

Como Starmer, Albanese rechaçou o Hamas em sua declarações, pontuando que a resistência “não deve ter nenhum papel na Palestina”.

Canadá diz que Israel trabalha para impedir Estado palestino

O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, lembrou que a solução de dois Estados é defendida pelo Canadá desde 1947 como forma de criar “um Estado da Palestina soberano, democrático e viável, construindo seu futuro em paz e segurança ao lado do Estado de Israel”.

Ao reconhecer o Estado da Palestina, o governo canadense lamentou que a medida não foi anunciada “como parte de uma solução negociada”, mas sim em meio “à ameaça generalizada do terrorismo do Hamas”, à “construção acelerada de assentamentos [israelenses] na Cisjordânia e à “contribuição do governo israelense para o desastre humanitário em Gaza”.

Carney exigiu que o Hamas “liberte todos os reféns, se desarme completamente e não tenha qualquer papel na futura governança da Palestina”, mas também acusou o governo de Israel de “trabalhar metodicamente para impedir a criação de um Estado palestino”.

“Israel tem seguido uma política implacável de expansão de assentamentos na Cisjordânia, o que é ilegal segundo o direito internacional. Seu ataque contínuo a Gaza matou dezenas de milhares de civis, deslocou mais de um milhão de pessoas e causou uma fome devastadora e evitável, em violação ao direito internacional. A política declarada do atual governo israelense é que “não haverá Estado palestino”, mencionou o comunicado.

“É neste contexto que o Canadá reconhece o Estado da Palestina e oferece nossa parceria na construção da promessa de um futuro pacífico tanto para o Estado da Palestina quanto para o Estado de Israel”, disse o primeiro-ministro.

Em semelhante declaração a Starmer, Carney afirmou que a medida “não legitima o terrorismo, não representa uma recompensa por ele, e não compromete de forma alguma o apoio inabalável do Canadá ao Estado de Israel, ao seu povo e à sua segurança”.

Além dos três países deste domingo, nove países já haviam feito movimento semelhante desde a intensificação do genícido em Gaza: Espanha, Irlanda, Noruega, Eslovênia, Bahamas, Jamaica, Barbados, Armênia e Trinidad e Tobago.

Outros países como Malta, Bélgica e Luxemburgo também devem formalizar o reconhecimento da Palestina durante a Assembleia da ONU.

Israel rechaça anúncio

Após o anúncio, Israel repudiou a medida por meio de seu Ministério das Relações Exteriores. “O reconhecimento nada mais é do que uma recompensa para o Hamas jihadista”.

O governo de extrema direita do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyhau, ainda afirmou que a medida “encoraja o Hamas por sua Irmandade Muçulmana afiliada no Reino Unido”.

“Os próprios líderes do Hamas admitem abertamente: esse reconhecimento é um resultado direto, o “fruto” do massacre de 7 de outubro. Não deixe que a ideologia jihadista dite sua política”, concluiu a nota.