Reconhecer Estado palestino é condição para a paz, afirma premiê australiano
Anthony Albanese sinalizou que não recuará diante da pressão norte-americana e pretende conversar com Netanyahu nos próximos dias
Uma possível retaliação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não impedirá os avanços da Austrália em direção ao reconhecimento do Estado palestino, segundo afirmou o primeiro-ministro Anthony Albanese, que classificou a medida como uma pré-condição necessária para a paz.
Albanese busca uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda esta semana, mas minimizou as preocupações de que o alinhamento da Austrália com França, Canadá e Reino Unido no reconhecimento da Palestina possa prejudicar as relações com a Casa Branca em um momento delicado.
“Somos uma nação soberana”, declarou Albanese nesta segunda-feira (04/08). “A Austrália toma suas decisões como uma nação soberana.”
Na semana anterior, Trump havia intensificado sua guerra comercial crescente, elevando a tarifa sobre produtos canadenses de 25% para 35% e afirmando que o reconhecimento da Palestina dificultaria qualquer acordo comercial.
Albanese reiterou seu compromisso com a solução de dois Estados, uma meta histórica da política externa australiana. “Já disse ao primeiro-ministro Netanyahu anteriormente, e também publicamente por um longo período, que sou defensor de uma solução de dois Estados. Não haverá paz e segurança no Oriente Médio sem avanços nesse sentido.”
As conversas de Albanese com Netanyahu ocorrem após a histórica marcha pró-Palestina na Ponte da Baía de Sydney, no fim de semana, que reuniu cerca de 100 mil pessoas em protesto contra a fome e a violência em Gaza. O Grupo de Ação Palestina, responsável pela organização, estimou a presença de 300 mil manifestantes. Imagens do evento foram transmitidas para o mundo inteiro.
Albanese rejeitou os comentários do deputado trabalhista Ed Husic, que sugeriu que os políticos australianos “subestimaram o quanto os australianos se importam” com a conduta de Israel. Husic afirmou que gostaria que o governo federal reconhecesse imediatamente o Estado palestino — uma medida que o Partido Trabalhista sinalizou poder acontecer já no próximo mês, durante a Assembleia Geral da ONU.
“Acho que esse seria um sinal importante”, afirmou Husic nesta segunda-feira (04/08). “Mas cabe ao primeiro-ministro decidir, considerando diversos fatores, embora eu acredite que ele teria amplo apoio dos australianos se o fizesse agora.”
“A política australiana subestimou a força do sentimento popular sobre essa questão… Este é um momento de alerta.”

Primeiro-ministro Anthony Albanese reforça compromisso com a solução de dois Estados e afirma que a Austrália é uma nação soberana, mesmo diante de ameaças comerciais dos EUA
Anthony.Albanese.MP / Flickr
Albanese reconheceu que os australianos têm sentimentos intensos sobre a guerra. “Os australianos querem que as pessoas parem de se matar. Eles desejam paz e segurança. Mas também não querem ver conflitos aqui.”
Fontes informaram ao Guardian Australia que Albanese espera falar com Netanyahu assim que for possível agendar a ligação.
O primeiro-ministro reforçou sua posição de que o Hamas é uma organização terrorista e que não deve desempenhar nenhum papel em um futuro Estado palestino.
O ex-ministro das Relações Exteriores Bob Carr, que liderou a marcha sobre a ponte no domingo (03/08), declarou ao Guardian Australia: “Se o primeiro-ministro está ligando para Netanyahu para falar sobre solução de dois Estados, está perdendo tempo. Netanyahu é contra essa solução.”
Carr reiterou os apelos para que a Austrália sancione Israel e reconheça a Palestina. “Não entendo qual é a estratégia diplomática em ser o último país a reconhecer o Estado palestino. Por que passamos ao mundo a imagem de que somos um dos mais relutantes?”
O jornal The Australian, do grupo News Corp, informou nesta segunda-feira (04/08) que um manifestante levantou uma imagem do líder iraniano Ali Khamenei empunhando um rifle, atrás de manifestantes conhecidos, como Julian Assange, Bob Carr e o ex-jogador Craig Foster.
Husic comentou à Sky News que a imagem de Khamenei não representava o espírito do evento. “Estou aqui como membro do Parlamento, não como presidente da autoridade de controle de cartazes da Austrália.”
“Com tanta gente reunida, é impossível concordar com todos. E certamente algumas coisas vão parecer questionáveis para alguns — e eu entendo completamente.”
“Isso é democracia. Mas espero que isso não prejudique as imagens aéreas da Ponte da Baía, que mostraram milhares de pessoas pedindo o fim das hostilidades, especialmente pelos impactos sobre as crianças.”
Na segunda-feira (04/08), a ministra das Relações Exteriores, Penny Wong, anunciou o envio de mais US$ 20 milhões em ajuda humanitária para Gaza, a serem distribuídos por meio de organizações como Unicef, Programa Mundial de Alimentos da ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Na quinta-feira anterior, Wong havia se reunido com o embaixador de Israel na Austrália, Amir Maimon, para expressar preocupação com a conduta israelense em Gaza, pedindo respeito ao direito internacional e ampliação urgente do fornecimento de alimentos à população palestina.
A líder da oposição federal, Sussan Ley, reconheceu nesta segunda-feira que há fome em Gaza — depois de se recusar a responder diretamente sobre o tema na semana anterior. “Há fome e inanição em Gaza, e isso precisa ser enfrentado. Estou satisfeita em ver que o governo israelense está agindo nesse sentido.”























