Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Uma possível retaliação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não impedirá os avanços da Austrália em direção ao reconhecimento do Estado palestino, segundo afirmou o primeiro-ministro Anthony Albanese, que classificou a medida como uma pré-condição necessária para a paz.

Albanese busca uma conversa telefônica com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda esta semana, mas minimizou as preocupações de que o alinhamento da Austrália com França, Canadá e Reino Unido no reconhecimento da Palestina possa prejudicar as relações com a Casa Branca em um momento delicado.

“Somos uma nação soberana”, declarou Albanese nesta segunda-feira (04/08). “A Austrália toma suas decisões como uma nação soberana.”

Na semana anterior, Trump havia intensificado sua guerra comercial crescente, elevando a tarifa sobre produtos canadenses de 25% para 35% e afirmando que o reconhecimento da Palestina dificultaria qualquer acordo comercial.

Albanese reiterou seu compromisso com a solução de dois Estados, uma meta histórica da política externa australiana. “Já disse ao primeiro-ministro Netanyahu anteriormente, e também publicamente por um longo período, que sou defensor de uma solução de dois Estados. Não haverá paz e segurança no Oriente Médio sem avanços nesse sentido.”

As conversas de Albanese com Netanyahu ocorrem após a histórica marcha pró-Palestina na Ponte da Baía de Sydney, no fim de semana, que reuniu cerca de 100 mil pessoas em protesto contra a fome e a violência em Gaza. O Grupo de Ação Palestina, responsável pela organização, estimou a presença de 300 mil manifestantes. Imagens do evento foram transmitidas para o mundo inteiro.

Albanese rejeitou os comentários do deputado trabalhista Ed Husic, que sugeriu que os políticos australianos “subestimaram o quanto os australianos se importam” com a conduta de Israel. Husic afirmou que gostaria que o governo federal reconhecesse imediatamente o Estado palestino — uma medida que o Partido Trabalhista sinalizou poder acontecer já no próximo mês, durante a Assembleia Geral da ONU.

“Acho que esse seria um sinal importante”, afirmou Husic nesta segunda-feira (04/08). “Mas cabe ao primeiro-ministro decidir, considerando diversos fatores, embora eu acredite que ele teria amplo apoio dos australianos se o fizesse agora.”

“A política australiana subestimou a força do sentimento popular sobre essa questão… Este é um momento de alerta.”

Primeiro-ministro Anthony Albanese reforça compromisso com a solução de dois Estados e afirma que a Austrália é uma nação soberana, mesmo diante de ameaças comerciais dos EUA

Primeiro-ministro Anthony Albanese reforça compromisso com a solução de dois Estados e afirma que a Austrália é uma nação soberana, mesmo diante de ameaças comerciais dos EUA
Anthony.Albanese.MP / Flickr

Albanese reconheceu que os australianos têm sentimentos intensos sobre a guerra. “Os australianos querem que as pessoas parem de se matar. Eles desejam paz e segurança. Mas também não querem ver conflitos aqui.”

Fontes informaram ao Guardian Australia que Albanese espera falar com Netanyahu assim que for possível agendar a ligação.

O primeiro-ministro reforçou sua posição de que o Hamas é uma organização terrorista e que não deve desempenhar nenhum papel em um futuro Estado palestino.

O ex-ministro das Relações Exteriores Bob Carr, que liderou a marcha sobre a ponte no domingo (03/08), declarou ao Guardian Australia: “Se o primeiro-ministro está ligando para Netanyahu para falar sobre solução de dois Estados, está perdendo tempo. Netanyahu é contra essa solução.”

Carr reiterou os apelos para que a Austrália sancione Israel e reconheça a Palestina. “Não entendo qual é a estratégia diplomática em ser o último país a reconhecer o Estado palestino. Por que passamos ao mundo a imagem de que somos um dos mais relutantes?”

O jornal The Australian, do grupo News Corp, informou nesta segunda-feira (04/08) que um manifestante levantou uma imagem do líder iraniano Ali Khamenei empunhando um rifle, atrás de manifestantes conhecidos, como Julian Assange, Bob Carr e o ex-jogador Craig Foster.

Husic comentou à Sky News que a imagem de Khamenei não representava o espírito do evento. “Estou aqui como membro do Parlamento, não como presidente da autoridade de controle de cartazes da Austrália.”

“Com tanta gente reunida, é impossível concordar com todos. E certamente algumas coisas vão parecer questionáveis para alguns — e eu entendo completamente.”

“Isso é democracia. Mas espero que isso não prejudique as imagens aéreas da Ponte da Baía, que mostraram milhares de pessoas pedindo o fim das hostilidades, especialmente pelos impactos sobre as crianças.”

Na segunda-feira (04/08), a ministra das Relações Exteriores, Penny Wong, anunciou o envio de mais US$ 20 milhões em ajuda humanitária para Gaza, a serem distribuídos por meio de organizações como Unicef, Programa Mundial de Alimentos da ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Na quinta-feira anterior, Wong havia se reunido com o embaixador de Israel na Austrália, Amir Maimon, para expressar preocupação com a conduta israelense em Gaza, pedindo respeito ao direito internacional e ampliação urgente do fornecimento de alimentos à população palestina.

A líder da oposição federal, Sussan Ley, reconheceu nesta segunda-feira que há fome em Gaza — depois de se recusar a responder diretamente sobre o tema na semana anterior. “Há fome e inanição em Gaza, e isso precisa ser enfrentado. Estou satisfeita em ver que o governo israelense está agindo nesse sentido.”