Primeira-dama da Turquia pede a Melania Trump que defenda crianças palestinas
Em carta, Emine Erdogan apela por sensibilidade à homóloga dos EUA; 320 mil menores estão em estado grave de desnutrição em Gaza
A primeira-dama da Turquia, Emine Erdogan publicou uma carta neste sábado (23/08), pedindo à primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, que ela use a sua voz em defesa das crianças palestinas, assim como fez em relação aos menores da Ucrânia, informa o jornal turco Daily Sabah.
“A frase ‘bebê desconhecido’ escrita nos sudários de milhares de crianças de Gaza abre feridas irreparáveis em nossas consciências. Gaza se tornou um cemitério de crianças (…) Assim como você defendeu os direitos das crianças ucranianas, acredito que demonstrará a mesma sensibilidade pelas crianças de Gaza”, afirmou a primeira-dama turca.
“Como mãe, mulher e ser humano, espero que você cultive a mesma esperança pelas crianças de Gaza, que anseiam por paz e tranquilidade. É tarde demais para aqueles que perdemos, mas não para os milhões de crianças que sobrevivem”, afirmou.
320 mil crianças desnutridas
O apelo ocorre um dia após o Relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), sistema apoiado pelas Nações Unidas para monitoramento da fome, declarar oficialmente a fome em Gaza. O documento aponta que mais de 500 mil pessoas estão submetidas a ‘condições catastróficas de fome’.
Segundo o estudo, “até junho de 2026, espera-se que pelo menos 132.000 crianças menores de cinco anos sofram de desnutrição aguda — o dobro das estimativas do IPC de maio de 2025. Isso inclui mais de 41.000 casos graves de crianças com risco elevado de morte. Quase 55.500 gestantes e lactantes desnutridas também precisarão de resposta nutricional urgente”.
O diretor do hospital al-Shifa, Mohammed Abu Salmiya, afirmou que 320 mil crianças já estão em estado grave de desnutrição em Gaza; e que até mesmo os feridos internados sofrem pela falta de alimentos. Em declaração à agência catari Al Jazeera, ele advertiu que levará muito tempo para resolver as consequências da desnutrição.

Primeira-dama da Turquia pede a Melania Trump que defenda crianças palestinas
Shealah Craighead White House
Crise de sobrevivência infantil
O comissário-geral da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou em postagem na plataforma X que chegou a hora de Israel “parar de negar a fome que criou em Gaza”. “Todos aqueles que têm influência devem usá-la com determinação e senso de dever moral. Cada hora conta”, acrescentou.
Apesar de os armazéns da UNRWA na Jordânia e no Egito estarem cheios de alimentos e suprimentos suficientes para encher 6 mil caminhões, a entrada desses recursos em Gaza permanece bloqueada. Em comunicado, a agência da ONU pediu um “aumento massivo de ajuda”, capaz de inundar o território com mantimentos para frear a catástrofe em curso.
A UNICEF, por sua vez, declarou que há uma “verdadeira crise de sobrevivência infantil” na região. Enquanto o Médicos Sem Fronteiras descreveu a realidade da população da Cidade de Gaza como marcada por “fome, doença e morte”.
Grávidas e mães recentes
Bassam Zaqout, diretor da Sociedade de Assistência Médica, afirmou que o sistema hospitalar está em colapso: a taxa de ocupação chega a 300% diariamente, enquanto a maioria dos hospitais foi destruída ou está em funcionamento precário devido à ofensiva militar israelense.
Dan Stewart, chefe de notícias da Save the Children, alertou que a cidade de Deir el-Balah pode ser “empurrada para a fome” nas próximas semanas, com clínicas superlotadas de mães e bebês em estado de desnutrição severa.
Segundo ele, nem todas as crianças respondem ao tratamento, pois fora das clínicas as condições são insustentáveis. “Mais da metade das mulheres grávidas e mães recentes já estão desnutridas, consequência inevitável de meses sem comida”, alertou à Al Jazeera.
Nas últimas 24 horas, mais duas pessoas morreram de desnutrição, elevando para 273 o número de óbitos causados pela fome desde o início do cerco, incluindo 112 crianças.























