Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A comunidade internacional repudia nesta terça-feira (29/10) a decisão do Parlamento de Israel em proibir a entrada e operação da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), principal fornecedora de ajuda humanitária a civis em Gaza, em seu território e áreas sob seu controle.

Autoridade Nacional Palestina (ANP)

O presidente do Conselho Nacional Palestino, Rawhi Fattouh, pediu a expulsão de Israel das Nações Unidas caso o país não reverta o decreto contra a agência humanitária da última segunda-feira (28/10).

Fattouh enfatizou que a legislação “é uma clara violação” da Carta das Nações Unidas, pois faz parte das políticas de Israel visando a limpeza étnica dos palestinos. Segundo o represente palestino, ela “enraíza o racismo e reflete o extremismo do governo de direita israelense”.

O presidente do Conselho da ANP  enfatizou ainda que essas “políticas agressivas” não apenas colocam em risco os direitos dos refugiados, mas também estabelecem “um precedente preocupante que mina a legitimidade internacional e contraria as resoluções das Nações Unidas sobre a questão palestina”.

Reino Unido

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, um dos maiores parceiros militares de Israel, afirmou que o ato israelense “é extremamente preocupante”.

“Há o risco de comprometer a resposta humanitária internacional em Gaza. Precisamos de um cessar-fogo imediato e a libertação de reféns. Israel deve garantir que ajuda suficiente chegue aos civis”, instou o governante britânico, pressionado para suspender as colaborações militares com Israel.

França

O posicionamento francês veio por meio do Ministério das Relações Exteriores de Paris, ao “lamentar profundamente” a adoção do decreto pelo Knesset israelense.

A França orientou que a implementação da lei contra a UNRWA “teria consequências severas para a já catastrófica situação humanitária em Gaza e em todos os territórios palestinos ocupados, privando centenas de milhares de civis de ajuda essencial, incluindo abrigo, assistência médica, educação e alimentação”.

Ao lembrar os 70 anos de trabalho para o bem humanitário da agência da ONU na Cisjordânia, Jerusalém Oriental Gaza, Líbano, Jordânia e Síria, Paris reafirma seu apoio à UNRWA e afirma que vai continuar “a garantir a implementação das reformas necessárias para garantir sua neutralidade”, em meio ao conflito no enclave palestino.

Irlanda

O primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, classificou a aprovação do projeto de lei israelense como “desprezível e vergonhoso”, uma vez que “não há nenhuma alternativa” à agência humanitária para atuar na região, sugestão que deve partir do governo de Benjamin Netanyahu até a implementação da lei.

Com a suspensão da UNRWA, afirmou que “mais pessoas morrerão e mais crianças passarão fome”, assim instou a União Europeia a rever as relações comerciais com Israel.

A Irlanda passou a reconhecer o Estado Palestino em maio passado, juntamente com a Espanha e Noruega. Assim, os três países, em conjunto com a Eslovênia, emitiram um comunicado conjunto sobre o decreto contra a UNRWA.

“A UNRWA tem um mandato da Assembleia Geral das Nações Unidas. O trabalho da Agência é essencial e insubstituível para milhões de refugiados palestinos na região, e particularmente no contexto atual em Gaza. A legislação aprovada pelo Knesset estabelece um precedente muito sério para o trabalho das Nações Unidas e para todas as organizações do sistema multilateral”, declaram

Os países ainda afirmaram que “continuarão a trabalhar com os países doadores e anfitriões para garantir a viabilidade do trabalho da UNRWA e o seu papel humanitário”.

UNRWA/X
Israel proibiu trabalho da UNRWA em seu território e áreas sob seu controle

Turquia

Por meio do seu Ministério das Relações Exteriores, a Turquia considerou que as medidas tomadas pelo Parlamento israelense “violam claramente o direito internacional”.

“Ao atacar a UNRWA, Israel pretende destruir a solução de dois Estados e impedir o retorno dos refugiados palestinos à sua terra natal. Desde 1949, a UNRWA fornece assistência vital a milhões de refugiados palestinos, e suas atividades são cruciais para a estabilidade regional”, declarou o comunicado.

Ancara ainda instou a “obrigação legal e moral da comunidade internacional” em tomar uma “posição firme” contra tentativas de proibir a UNRWA, garantindo o continuamento de seu apoio político e financeiro à agência.

Bélgica, Suíça e Austrália

A ministra das Relações Exteriores da Bélgica instou as autoridades israelenses a permitirem que a UNRWA continue seu trabalho no enclave palestino, ressaltando que a agência é “crucial para a estabilidade regional”.

Já a Suíça declarou estar “muito preocupada” com as implicações humanitárias, políticas e jurídicas destas decisões”.

Por sua vez, a Austrália reconheceu que o trabalho da UNRWA “salva vidas”. Por isso, se opõe à decisão do Parlamento israelense, que tenta “restringir severamente o trabalho” da agência.

O governo australiano também lembrou que emitiu, no último domingo (27/10) um comunicado conjunto ao Canadá, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido para pedir ao Knesset de Israel que não prosseguisse com a legislação.

Jordânia, China e Rússia

O governo da Jordânia, vizinho a Israel e à Faixa de Gaza, também acusou a lei israelense de violar o direito internacional, além de ser uma “continuação dos esforços” para destruir a agência humanitária que presta atenção à população palestina.

A China, por meio de seu enviado às Nações Unidas, Fu Chong, chamou o decreto de “ultrajante”, opondo-se “firmemente” à decisão, segundo a Al Jazeera.

Já a Rússia descreveu a proibição da UNRWA como “terrível”, afirmando que o decreto piora a situação humanitária no enclave palestino.

Oposição israelense

A lei aprovada pelo Knesset foi rejeitada inclusive por autoridades israelense, como Alon Liel, ex-diplomata de Tel Aviv, o mais antigo entre os representantes do país no exterior.

À emissora Al Jazeera, Liel declarou que a votação “é um erro histórico”, “uma violação da carta da ONU”, e não oferece nenhuma alternativa para substituir o trabalho da UNRWA no enclave. “Não há ninguém para entrar e preencher a lacuna, então isso é trágico”, disse ele.

Segundo o diplomata e ex-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores de Tel Aviv, a sociedade israelense “sabe muito pouco sobre o que a UNRWA realmente faz”.