Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O ex-negociador israelense Daniel Levy analisou a proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza sugerida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como “muitas coisas”, mas “não um plano de paz”.

As declarações do analista político dos ex-primeiros-ministros de Israel Ehud Barak (1999-2001) e Yitzhak Rabin (1992-1195) foram feitas em entrevista ao Democracy Now.

Segundo Levy, que também é presidente do Projeto EUA/Oriente Médio, os 20 pontos do plano de Trump “são extremamente escassos em detalhes” para temas essenciais ao fim do conflito: fim da ofensiva israelense, cessar-fogo, libertação de reféns israelenses e à prisioneiros palestinos mantidos em Israel, retirada militar israelense de Gaza e entrada de assistência humanitária em larga escala.

Segundo o analista, as delegações de negociadores estão em Cairo, no Egito, justamente para detalhar tais pontos. “A pressão é para simplesmente — e ridiculamente — dizer: “Sabe de uma coisa? Confie na América. Todas essas coisas boas acontecerão”, declarou.

Levy chamou atenção para à proposta de governo de Trump para Gaza: “algum tipo de retorno bizarro à Companhia Holandesa das Índias Orientais [megacorporação pioneira na instituição do capitalismo no século 15], algum tipo de administração colonial, não palestina, liderada por Trump e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair”.

Levy classificou como “mentira” narrativa de Netanyahu de que acordo “só se tornou possível devido à sua crescente pressão militar”
Official White House Photo by Joyce N. Boghosian

Em sua análise, avaliou que o modelo poderia ser imposto na Cisjordânia, “onde atualmente há uma liderança nominal, ainda que profundamente não representativa e cooptada, da Autoridade Palestina (ANP)”.

Levy também criticou que “não há nada, além de algumas palavras descartáveis, sobre o que aconteceria eventualmente em termos de descolonização e desocupação de terras palestinas” na proposta.

O analista afirmou que o grupo palestino entende sua posição como resistência armada e que “não cabe” a ele “tomar decisões” sobre o futuro governo de Gaza. “O Hamas nunca insistiu em manter sua governança. De fato, mesmo antes de 7 de outubro de 2023, estava pronto para entregá-la aos órgãos palestinos relevantes”, acrescentou.

Para o especialista, a narrativa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de que o acordo disponível “só se tornou possível devido à crescente pressão militar que impôs à Cidade de Gaza” é mentira.

“Netanyahu obstruiu as negociações. A mudança de posição deve-se em grande parte ao fato de Trump parecer mais insistente agora”, disse.

Levy reconheceu os esforços dos mediadores para que “o fim do genocídio seja plausível”, mas também apontou para outros atores como as mobilizações sociais ao redor do mundo. “Era perceptível que Netanyahu sentia a necessidade de afirmar que Israel não está isolado, que o Hamas está isolado. É uma afirmação um tanto tola”, observou.

O analista ainda criticou que em meio às negociações, “civis palestinos continuam sendo mortos. Palestinos que buscam desesperadamente ajuda humanitária estão sendo mortos. E Israel continua a bombardear o Líbano, a maltratar e a deter ilegalmente aqueles que estavam na Flotilha rumo a Gaza”.

(*) Com Democracy Now