Países reagem a plano de cessar-fogo dos EUA; confira repercussão
Catar, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Paquistão, Turquia, Arábia Saudita e Egito prometem colaborar na implementação de acordo; China, Índia revelam simpatia e países europeus manifestam apoio
O plano de 20 pontos anunciado nesta segunda-feira (29/09) pelo presidente norte-americano Donald Trump para encerrar a guerra em Gaza gerou uma onda de reações internacionais. Países árabes, muçulmanos e diversas potências ocidentais declararam simpatia ou apoio à iniciativa, vista como um possível caminho para o cessar-fogo e a reconstrução do território palestino.
A proposta, com adesão de Israel, inclui o cessar-fogo imediato, libertação de prisioneiros, retirada gradual de tropas israelenses, envio de força internacional temporária, desarmamento do Hamas e criação de uma autoridade de transição presidida por parceiros estrangeiros.
Segundo a Al Jazeera, a equipe de negociação do Hamas está estudando a proposta. Após o anúncio do plano, o alto funcionário da organização, Muhammad Mardawi, afirmou à agência catari que a proposta “se inclina para a perspectiva israelense” e “está perto do que Netanyahu insiste para continuar a guerra”. Mardawi acrescentou que o grupo palestino ainda não recebeu o plano “por escrito e de forma clara” para poder elaborar a sua resposta e que ele “deve estar nas mãos do Hamas e das organizações palestinas”.
Em comunicado divulgado pela agência Wafa, a Autoridade Palestina saudou os “esforços sinceros e incansáveis para acabar com a guerra em Gaza” e afirmou sua confiança na capacidade [de Trump] de encontrar um caminho para a paz”. A AP reiterou seu “compromisso compartilhado de trabalhar com os Estados Unidos, países regionais e parceiros para acabar com a guerra em Gaza por meio de um acordo abrangente que garanta a entrega de ajuda humanitária adequada a Gaza, a libertação de reféns e prisioneiros”.
A AP também pediu o “estabelecimento de mecanismos que protejam o povo palestino, garantam o respeito ao cessar-fogo e a segurança de ambas as partes, impeçam a anexação de terras e o deslocamento de palestinos, interrompam ações unilaterais que violam o direito internacional, liberem fundos fiscais palestinos, levem a uma retirada israelense total e unifiquem terras e instituições palestinas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental”.
Já a Jihad Islâmica Palestina (PIJ) rejeitou a iniciativa. Seu secretário-geral, Ziyad al-Nakhalah, qualificou o plano de “nada além de um acordo americano-israelense completo”. Ele enfatizou que a proposta reflete “a posição israelense em seus detalhes mais precisos”, constituindo “uma receita para a continuação da agressão contra o povo palestino”. Alertou ainda que a proposta equivale a “uma tentativa de impor novas realidades através dos EUA depois que a ocupação não conseguiu alcançá-las por meio de guerras sucessivas” e que se trata de “uma receita pronta para inflamar toda a região e alimentar novos conflitos”.
Mundo árabe
Em declaração conjunta, chanceleres de oito países – Catar, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Paquistão, Turquia, Arábia Saudita e Egito – saudaram a “liderança e os esforços sinceros” de Trump”. Eles se comprometeram a trabalhar de forma construtiva para implementar o acordo. “Os ministros saúdam o anúncio do Presidente Trump sobre sua proposta para acabar com a guerra, reconstruir Gaza, impedir o deslocamento do povo palestino e avançar em direção a uma paz abrangente, bem como seu anúncio de que não permitirá a anexação da Cisjordânia”, afirma a declaração.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan elogiou “os esforços e a liderança do presidente dos EUA, Donald Trump, com o objetivo de deter o derramamento de sangue em Gaza e alcançar um cessar-fogo”. Ele acrescentou que a Turquia continuará apoiando o processo diplomático para estabelecer “uma paz justa e duradoura aceitável para todas as partes”.
Em postagem na plataforma X, o primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, disse estar “convencido de que uma paz duradoura entre o povo palestino e Israel seria essencial para trazer estabilidade política e crescimento econômico para a região”. E acreditar “firmemente que o presidente Trump está totalmente preparado para ajudar de todas as maneiras necessárias para tornar esse entendimento extremamente importante e urgente uma realidade”. Ele também elogiou “o papel vital desempenhado pelo enviado especial Steve Witkoff para acabar com esta guerra”.

Países reagem a plano de cessar-fogo dos EUA; confira repercussão
Jaber Jehad Badwan / Wikipedia Commons
China, Índia, UE
O premiê da Índia, Narendra Modi, também saudou o acordo. Em sua avaliação, a proposta “abre o caminho para a paz, segurança e desenvolvimento sustentável de longo prazo para Israel, Palestina e região. Esperamos que todas as partes interessadas se unam em torno da iniciativa do presidente Trump e apoiem esse esforço para acabar com o conflito e estabelecer a paz”.
Da China, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Guo Jiakun, declarou que o país “saúda e apoia todos os esforços conducentes para aliviar as tensões entre a Palestina e Israel.”
Na União Europeia, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou que “a situação em Gaza é intolerável” e que “as hostilidades devem acabar e todos os reféns devem ser libertados imediatamente”. Disse também que “os povos israelense e palestino merecem viver lado a lado, em paz e segurança, livre de violência e terrorismo” e que “uma solução de dois Estados continua sendo o único caminho viável para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio”.
Já a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que “a UE está pronta para contribuir” e que “as hostilidades devem terminar com o fornecimento de ajuda humanitária imediata à população em Gaza e com todos os reféns libertados imediatamente.”
Líderes europeus
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou esperar que “Israel se envolva resolutamente” na proposta. “O Hamas não tem escolha a não ser libertar imediatamente todos os reféns e seguir este plano. Esses elementos devem abrir caminho para discussões aprofundadas com todos os parceiros relevantes para construir uma paz duradoura na região, com base na solução de dois Estados e nos princípios endossados por 142 Estados membros da ONU, por iniciativa da França e da Arábia Saudita”, afirmou Macron.
Da Alemanha, o chanceler Johann Wadephul chamou a proposta de “oportunidade única para acabar com a guerra horrível”. E complementou: “finalmente, há esperança para israelenses e palestinos de que esta guerra possa acabar em breve. Esta oportunidade não deve ser desperdiçada. O Hamas deve aproveitá-la. Peço a todos aqueles que podem influenciar o Hamas a fazê-lo agora.”
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também se manifestou. “Pedimos a todos os lados que se unam e trabalhem com o governo dos EUA para finalizar este acordo e torná-lo realidade. O Hamas deve agora concordar com o plano e acabar com a miséria, depondo as armas e libertando todos os reféns restantes”, disse. Já o ex-premiê Tony Blair, nomeado por Trump para o “Conselho de Paz” para Gaza, disse que o plano é “ousado e inteligente” e capaz de trazer alívio imediato a Gaza e garantir segurança duradoura a Israel.
A premiê da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que a proposta “poderia marcar um ponto de virada, permitindo uma cessação permanente das hostilidades, a libertação imediata de todos os reféns e acesso humanitário total e seguro para a população civil”.
Já o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em declaração no X, afirmou: “devemos acabar com tanto sofrimento. É hora de cessar a violência, de a libertação imediata de todos os reféns e de fornecer ajuda humanitária à população civil. A solução de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e segurança, é a única possível”.
Nos Países Baixos, o chanceler David van Weel destacou ser “significativo que Israel tenha aceitado este plano. Isso continua sendo crucial para garantir a libertação dos reféns, aumentar drasticamente a quantidade de ajuda humanitária e alcançar uma paz duradoura no Oriente Médio. Estamos ansiosos para ver mais detalhes do plano. A Holanda continua comprometida em acabar com a guerra em Gaza”.
E o premiê da Austrália, Anthony Albanese, afirmou que seu país apoia firmemente a proposta: “a Austrália afirma o compromisso do plano de negar ao Hamas qualquer papel na futura governança de Gaza e pede ao Hamas que concorde com o plano, deponha as armas e liberte todos os reféns restantes.”
Reações em Israel
Em Israel, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, pediu a Netanyahu que rejeitasse a proposta: “o senhor não tem mandato para encerrar a guerra sem a derrota completa do Hamas”, salientou. Ele e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, ameaçaram sair da coalização do governo caso a guerra seja encerrada.
O líder da oposição, Yair Lapid, afirmou que “não há motivo para se alarmar com as ameaças vazias de Ben Gvir e Smotrich”. Em longa postagem na plataforma X, ele afirmou que “o plano de 20 pontos apresentado por Donald Trump ontem não é perfeito, mas é a melhor opção sobre a mesa”.
“No ano passado, conduzi toda uma série de reuniões e conversas com a equipe do presidente, com os estados do Golfo, com Tony Blair e sua equipe, com representantes palestinos e, claro, com Netanyahu e sua equipe. O plano que foi finalmente apresentado é muito semelhante em seus componentes ao que apresentei a eles há um ano”, salientou.
E se disse “convencido de que, em meio ao emaranhado de interesses e ao cronograma apertado que exige a situação dos sequestrados, o que o presidente Trump apresentou ontem é o único programa que tem programação”. Lapid avalia que “não faltam ‘buracos’ e perguntas”, mas considera que o método do presidente norte-americano funciona: “você define uma grande meta, constrói um cronograma e processa os detalhes à medida que avança”, apontou.
O parlamentar israelense, também da oposição, Benny Gantz elogiou a proposta como uma oportunidade de libertar os reféns israelenses. “Não podemos perder novamente a oportunidade de devolver nossos reféns, proteger nossa segurança e alcançar uma mudança estratégica que, mais tarde, também levará a uma normalização ampliada. Não permitiremos que politicagens mesquinhas prejudiquem o plano”, salientou.























