Organização palestina acusa Israel de 'perseguir cidadãos brasileiros para fins políticos'
Pesquisadora jurídica da organização palestina de direitos humanos Al-Haq iguala 'negação sistemática' de Tel Aviv em permitir que brasileiros sejam repatriados de Gaza com sequestro de reféns pelo Hamas
Há mais de um mês aguardando permissão para sair da Faixa de Gaza, 34 brasileiros esperam pela abertura da fronteira com o Egito para serem repatriados ao Brasil. Com atualizações diárias dos cidadãos permitidos a deixaram a região de conflito, o grupo ficou fora de mais de seis listas, e quando finalmente obteve o aval, o país africano fechou a fronteira novamente. Na análise de Susan Power, pesquisadora jurídica da organização palestina de direitos humanos Al-Haq, essa ‘negação sistemática’ de Israel quanto à repatriação é uma “perseguição com fins políticos”
“Qual é a diferença, se é que existe alguma, entre tomar reféns e a detenção de cidadãos brasileiros por Israel na Faixa de Gaza sitiada?” questiona a representante da organização diante do que ela chama de “um ato coercitivo para pressionar o Brasil a não tomar medidas contra o apartheid de Israel”.
A denúncia da pesquisadora decorre da declaração do Ministério de Relações Exteriores da África do Sul, país que também tenta repatriar seus cidadãos de Gaza em uma queda de braço com o governo de Tel Aviv.
De acordo com o documento da chancelaria, divulgado em 4 de novembro, “Israel está escolhendo países que considera ‘amigáveis’ para permitir que seus cidadãos saiam primeiro” enquanto cidadãos de países como África do Sul, Irlanda, e Brasil, “considerados ‘hostis’ uma vez que adotaram uma posição firme contra o ataque contínuo do governo israelense, estão sendo empurrados para o final da lista”.

Hasam Rabee/Instagram
Hasam Rabee é um dos brasileiros que aguarda repatriação de Gaza
Nesta linha, Power advertiu que esse impedimento contínuo de Israel é uma forma de coagir os governos dos países a “não tomarem medidas adicionais para impedir o apartheid, os atos genocidas e os planos de colonização de Israel na Faixa de Gaza”.
A também professora de direito no Griffith College Dublin, na Irlanda, lembra que tal “negação sistemática do direito de deixar o território a cidadãos do Brasil, da Irlanda e da África do Sul viola claramente o artigo 35 da Quarta Convenção de Genebra”.
Cessar-fogo e corte de diplomacia
O contexto impele que o Brasil se posicione, defende Power, mesmo que “mais de dez mil palestinos mortos e 2,3 milhões forçados a passar fome em um caso exemplar de genocídio” não tenham sido suficientes até o momento.
“A única maneira de salvar efetivamente os cidadãos brasileiros e todas as pessoas em Gaza é pressionar efetivamente Israel a implementar um cessar-fogo imediato, inclusive por meio do corte de relações diplomáticas e laços militares com Israel”, insta a pesquisadora.
Power ainda menciona que Israel deve ser responsabilizado por crimes internacionais e atos ilícitos internacionais perante o Tribunal Penal Internacional e o Tribunal Internacional de Justiça.























