Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou nesta terça-feira (29/07) que o consumo de alimentos e os indicadores nutricionais da população palestina na Faixa de Gaza “atingiram seus piores níveis desde o início do conflito”, em outubro de 2023.

Ao resgatar os dados do Alerta de Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que “dois dos três limiares de fome já foram ultrapassados em partes do território”.

Para além dos dados do IPC, o PAM informa que o consumo de alimentos, que é o primeiro indicador central da fome, “despencou em Gaza desde a última atualização dos dados em maio de 2025”.

“Mais de uma em cada três pessoas (39%) agora passa dias seguidos sem comer. Mais de 500.000 pessoas – quase um quarto da população de Gaza [de dois milhões de pessoas] – estão enfrentando condições semelhantes à fome, enquanto a população restante enfrenta níveis emergenciais de fome”, informa.

Em relação ao segundo indicador central da fome, desnutrição aguda, a ONU relata que a taxa aumentou “sem precedentes”. “Na Cidade de Gaza, os níveis de desnutrição entre crianças menores de cinco anos quadruplicaram em dois meses, atingindo 16,5%. Isso sinaliza uma deterioração crítica do estado nutricional e um aumento acentuado no risco de morte por fome e desnutrição”.

Já o terceiro indicador é desnutrição aguda e os relatos de mortes relacionadas à inanição, o que também tem acontecido com frequência em Gaza. Contudo, o PAM diz não conseguir registrar os dados das mortes por desnutrição, “pois os sistemas de saúde, já dizimados por quase três anos de conflito, estão entrando em colapso”.

Os indicadores são relevados em outros dados semelhantes: só em julho de 2025, mais de 320.000 crianças, número correspondente à população total com menos de cinco anos em Gaza, estavam em risco de desnutrição aguda. Dentre desta realidade, há outras milhares sofrendo de desnutrição aguda grave, a forma mais mortal de desnutrição, de acordo com o PAM.

Além disso, em junho, 6.500 crianças foram internadas para tratamento de desnutrição, também o maior número desde o início do conflito. Já julho está registrando um número ainda maior, com 5.000 crianças internadas apenas nas duas primeiras semanas.

“Com menos de 15% dos serviços essenciais de tratamento nutricional funcionando atualmente, o risco de mortes relacionadas à desnutrição entre bebês e crianças pequenas é maior do que nunca”, alerta também a nota.

Em julho, mais de 320.000 crianças estavam em risco de desnutrição aguda na Faixa de Gaza
UNICEF Palestine

“Não há falta de alimentos, há bloqueio”

O comunicado ainda explica que os conflitos implacáveis, o colapso de serviços essenciais e severas limitações na entrega e distribuição de assistência humanitária impostas à ONU são os motivos pelas “condições catastróficas de segurança alimentar para centenas de milhares de pessoas em toda a Faixa de Gaza”.

De acordo com o Diretor-Geral da FAO, QU Dongyu, os palestinos estão morrendo de fome “não porque não há alimentos disponíveis, mas porque o acesso está bloqueado, os sistemas agroalimentares locais entraram em colapso e as famílias não conseguem mais sustentar nem mesmo os meios de subsistência mais básicos”.

A nota das Nações Unidas detalha que para as crianças a situação é ainda mais grave. Além de não terem acesso à água potável, não há substitutos do leite materno ou alimentação terapêutica para os doentes.

“O tempo está se esgotando para montar uma resposta humanitária em larga escala”, apela o PAM, afirmando que a reabertura parcial das travessias permitida por Israel é apenas “uma gota” do que os palestinos precisam mensalmente.

De acordo com a ONU, são necessárias mais de 62.000 toneladas de ajuda vital todos os meses para cobrir as necessidades básicas de assistência alimentar e nutricional humanitária em Gaza.

“Precisamos de acesso humanitário imediato, seguro e irrestrito em toda a Faixa de Gaza para ampliar a distribuição de alimentos, nutrição, água e medicamentos essenciais. Sem isso, mães e pais continuarão enfrentando o pior pesadelo de qualquer pai, impotentes para salvar uma criança faminta de uma condição que podemos prevenir”, ressalta.

O comunicado afirma que a retomada das importações comerciais de alimentos também “é fundamental para fornecer diversidade alimentar com frutas, vegetais frescos, laticínios e proteínas, como carne e peixe”.

Ao afirmar acolher “com satisfação” os “novos compromissos recentes para melhorar as condições operacionais das organizações humanitárias”, a ONU disse esperar que tais medidas “permitam um aumento na assistência alimentar e nutricional urgentemente necessária para alcançar as pessoas famintas sem mais atrasos”.

Por fim, o comunicado apelou por cessar-fogo “imediato e sustentado”, a libertação dos reféns, “necessidade urgente de fazer o tráfego comercial fluir para Gaza”, proteção de civis e trabalhadores humanitários, e investimento na recuperação dos sistemas alimentares locais, “incluindo a revitalização de padarias, mercados e reabilitação da agricultura”.