Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O vencedor do Prêmio Nobel da Paz argentino, Adolfo Pérez Esquivel, entrou com uma petição exigindo que o governo de Javier Milei cumpra as suas obrigações legais sob o Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu um mandado de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por crimes de guerra e contra a humanidade no âmbito do genocídio na Faixa de Gaza. A Argentina é um dos 123 países signatários do Estatuto de Roma. 

“Se ele vier aqui, convidado pelo presidente [Javier] Milei, logicamente, ele [Netanyahu] encontrará resistência. E esperamos que ele não venha ao país”, declarou Pérez nesta segunda-feira (29/09) em fala a repórteres locais. Segundo ele, o pedido formalizado já está nas mãos do tribunal federal e, desta forma, a nação latino-americana tem a obrigação de respeitar o direito internacional, que incluem as decisões do TPI

No mesmo dia que Pérez manifestou a sua posição, um porta-voz da embaixada argentina relatou ao jornal The Times of Israel que a visita planejada de Netanyahu ao país, depois de se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Washington, foi cancelada “devido a razões técnicas”. Antes, o site israelense Ynet havia informado que Milei teria solicitado que o premiê adiasse a viagem por “preocupações políticas”.

Nos últimos dias, Netanyahu testemunhou um crescente isolamento no cenário global, comportamento evidenciado na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, onde diversos países condenaram o genocídio israelense na Palestina. O tema dominou a 80ª edição do evento anual. 

A decisão argentina de não receber a autoridade israelense também ocorre em meio a uma crise política de Milei, que recentemente tem sofrido derrotas no Legislativo e crescente impopularidade envolvendo escândalos de corrupção em sua gestão. A Ynet apontou “as próximas eleições parlamentares da Argentina e a preocupação de que isso [visita de Netanyahu] possa prejudicar [Milei] politicamente em um momento em que sua posição enfraqueceu” como motivo do adiamento.

A viagem que não aconteceu também coincidiria com o fortalecimento da cooperação diplomática e militar entre Tel Aviv e Buenos Aires sob a presidência de Milei, este que foi condecorado com o Prêmio B’nai B’rith por seu “compromisso inabalável com Israel”. O rumo adotado pelo ultraliberal é contrário a países como Colômbia, Brasil e Espanha, que têm impedido envio de materiais de defesa ao Estado sionista e proferido discursos críticos contra a matança em Gaza.

Adolfo Perez Esquivel, escritor e vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1980
Ricardo Ceppi/Getty Images

À imprensa, o Nobel da Paz argentino reiterou o rechaço às ações militares de Israel que alvejam deliberadamente os civis, incluindo crianças. Ao mesmo tempo, criticou a cumplicidade do governo Milei com o regime sionista e os EUA, já que se recusa a cumprir a lei internacional e executar qualquer ordem de prisão contra Netanyahu. Para ele, trata-se de uma traição aos princípios democráticos.

“Os EUA apoiam Israel, mesmo com o veto na ONU”, afirmou, descrevendo a política norte-americana como o maior obstáculo à paz, já que os EUA permitem que Israel continue desafiando o direito internacional. Defendeu ainda que “a ONU tem que ser reformada e democratizada. Nós, os povos do mundo, queremos a paz. No entanto, vemos a situação atual. É extremamente perigoso”.

Adolfo Pérez Esquivel é uma figura reverenciada no movimento de direitos humanos da América Latina e ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 1980 por sua oposição e resistência à ditadura militar da Argentina, período em que foi preso e torturado pela máquina de repressão estatal.