Negociações de Gaza: reféns vivos podem ser libertados imediatamente, anuncia Hamas
Reunidos no Cairo nesta segunda (06), autoridades israelenses, líderes do Hamas e mediadores discutem cessar-fogo do enclave
As negociações para a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos, bem como para uma trégua em Gaza, devem começar nesta segunda-feira, 6 de outubro, no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho. Estarão envolvidos autoridades israelenses, líderes do Hamas e mediadores egípcios, catarianos e americanos.
A delegação do Hamas é a primeira a chegar ao Egito, relata nosso correspondente no Cairo, Alexandre Buccianti. Ela é chefiada por Khalil Al-Hayya, que chegou ao Egito ontem à noite (05/10). Essas reuniões, agendadas para segunda-feira (06/10) em Sharm el-Sheikh, no Sinai (leste), são as primeiras com a presença do negociador-chefe do Hamas desde que Israel o atacou, juntamente com outros líderes do movimento islâmico, em Doha no mês passado. O movimento palestino relatou seis mortes na ocasião.
Khalil Al-Hayya falou ontem, domingo (05/10), no canal de televisão catariano Al-Araby, sua primeira aparição desde o ataque israelense. Nesta intervenção televisiva pré-gravada, ele não mencionou o plano americano para Gaza nem as negociações em andamento, destaca Alice Froussard, do serviço internacional da RFI. Ele mencionou a morte de seu filho, morto junto com outras cinco pessoas durante o ataque israelense sem precedentes que teve como alvo autoridades do Hamas em Doha no início de setembro.
“A perda do meu filho, dos meus companheiros, do diretor do meu escritório e dos jovens ao meu redor (representa) uma dor imensa”, disse ele. Neste vídeo divulgado no momento da abertura das negociações e com um tom um tanto provocativo para os israelenses, Khalil Al-Hayya pretende sobretudo tranquilizar os palestinos em Gaza, como se o negociador-chefe do Hamas exibisse uma expressão calma do poder político, preocupado com seu povo no enclave costeiro.
A delegação israelense deve chegar ainda hoje a Sharm el-Sheikh, uma cidade simbólica onde inúmeras negociações e conferências de paz no Oriente Médio já ocorreram. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se encontrou na noite de domingo com a delegação que seguia para o Egito para se preparar para as negociações, relata nossa correspondente em Jerusalém, Frédérique Misslin. Ron Dermer, o Ministro de Assuntos Estratégicos responsável pela situação dos reféns, lidera a equipe de negociação israelense. Ele está acompanhado por dois chefes de agências de inteligência, o Shin Bet e o Mossad.

As negociações para a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos, bem como para uma trégua em Gaza, devem começar nesta segunda-feira, 6 de outubro, no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho
WAFA
Em um nível estritamente político, Benjamin Netanyahu conseguiu manter sua extrema direita esperando até que os reféns sejam libertados. A reunião se concentrou nas fases do plano americano de vinte pontos (desarmamento do Hamas e retirada de Gaza). Para os ministros mais extremistas da coalizão governista, alguns dos pontos são inegociáveis e ameaçam derrubar o governo.
Nas negociações propriamente ditas, israelenses e Hamas estarão separados, mas serão vizinhos. Mediadores egípcios e catarianos circularão entre as delegações. Os americanos, incluindo o enviado do presidente dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, devem se juntar a eles na terça-feira. Na mesa de negociações está o plano de Trump, anunciado em 29 de setembro. Ele prevê um cessar-fogo, a libertação dos reféns em Gaza em até 72 horas, a retirada gradual do exército israelense de Gaza e o desarmamento do Hamas.
Discussões técnicas
O Hamas deve primeiro devolver cerca de vinte reféns que se acredita estarem vivos e os restos mortais daqueles que morreram em cativeiro. Segundo fontes do Hamas, os restos mortais dos reféns mortos estão sendo recolhidos. Essa operação levará tempo, um prazo acordado por Washington. O Hamas, no entanto, indicou que os reféns vivos podem ser libertados de uma só vez. As modalidades para todas essas operações precisam, portanto, ser definidas.
Sobre essas libertações, Washington voltou à carga ontem: Marco Rubio, o Secretário de Estado americano, pediu a Israel que suspenda o bombardeio de Gaza: “Não podemos libertar os reféns no meio dos ataques, então os ataques devem parar”, declarou.
Em troca dos cativos, 250 prisioneiros palestinos que cumprem penas de prisão perpétua serão libertados, juntamente com 1.700 moradores de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023. Sem dúvida, haverá discussões acirradas sobre os nomes nesta lista.
Por fim, será discutida a linha de retirada das tropas israelenses. Uma retirada anunciada como gradual. Segundo fontes do movimento islâmico, o Hamas recebeu garantias americanas, via Catar, de uma retirada israelense permanente de Gaza.
Expectativas dos habitantes de Gaza
No terreno, os moradores estão começando a perder a paciência. “Não sabemos mais o que fazer… ficar nas ruas, seguir em frente? Estamos perdidos”, confidenciaram moradores de Gaza como Ali, um deslocado, ao nosso correspondente em Gaza, Rami el-Meghari.
“Seja qual for o conteúdo dessas negociações, o que realmente esperamos aqui é finalmente ver o fim deste genocídio contra o povo palestino e poder retornar à vida que existia antes desta nova Nakba, iniciada após 7 de outubro. Isso seria bem-vindo e seria uma maneira real de salvar vidas e garantir a sobrevivência do povo palestino. Um acordo como esse deve ser alcançado a todo custo! Porque poria fim ao derramamento de sangue e à fome. Agora temos que ver… A solução está agora nas mãos dos mediadores. Acho que o Hamas deveria se afastar e deixar a Autoridade Palestina cuidar disso”.























