Na Malásia, Lula critica guerra em Gaza e inércia na criação do Estado palestino
Presidente brasileiro pode se reunir com Donald Trump para buscar solução na guerra tarifária
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, voltou a criticar neste sábado (25/10), em Kuala Lumpur, na Malásia, a continuidade da guerra em Gaza e a resistência mundial em criar um Estado palestino.
“As comunidades universitárias em todo o mundo têm elevado suas vozes contra a brutalidade do genocídio em Gaza e contra a inércia moral, que impede até hoje que o Estado Palestino seja criado. Quase sempre são os jovens que nos recordam que a paz é o valor mais precioso da humanidade”, discursou.
A declaração foi dada durante a cerimônia de recebimento do título de doutor Honoris Causa em Filosofia e Desenvolvimento Internacional do Sul Global, concedido pela Universidade Nacional da Malásia, em Putrajaya, capital administrativa da Malásia.
Já durante um evento com o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, em que celebrou parcerias com o país asiático, Lula criticou a guerra entre Ucrânia e Rússia e o conflito no Oriente Médio, que ele voltou a chamar de genocídio contra Palestina.
Segundo Lula, a falta de lideranças que possam conter guerras e fome é um problema mundial. “Na ausência de lideranças, tudo que é de pior pode acontecer”, avaliou o presidente.
“Quem é que se conforma com a duração da guerra entre a Ucrânia e a Rússia? Quem é que pode se conformar com um genocídio impetrado na Faixa de Gaza durante tanto tempo?”, questionou.
Lula argumentou que conflitos e desastres ambientais têm ocorrido por falta de instrumentos de governança global. ”Hoje, o Conselho de Segurança da ONU e a ONU não funcionam mais. Todas as guerras nos últimos tempos foram determinadas por gente que faz parte do Conselho de Segurança da ONU”, lamentou.
Ele apontou que as violências vão além da questão armada, mas também a utilização da fome como tortura. “Quando nós aceitamos isso como normal, nós não estamos sendo seres humanos”, criticou, acrescentando que instituições multilaterais “pararam de existir”.
Ao defender o multilateralismo e a necessidade de mudanças nos organismos internacionais, o presidente Lula destacou o papel do Sul Global no cenário internacional, pela justiça e pela superação das desigualdades.
“A defesa de uma ordem baseada no diálogo, na diplomacia e na igualdade soberana das nações, está no cerne da proposta brasileira de reforma das Nações Unidas e, sem maior representatividade, o Conselho de Segurança seguirá inoperante e incapaz de responder aos desafios do nosso tempo”.
No campo econômico, o presidente brasileiro considerou inaceitável que os países ricos tenham nove vezes mais poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI) do que o Sul Global, termo referente ao grupo de países da América Latina, da Ásia e da África, com histórico de colonialismo e que compartilham desigualdades econômicas e sociais.

Presidente Lula permanece na Malásia até a próxima terça-feira (28/10)
Ricardo Stuckert / PR
Lula acrescentou que o protecionismo e a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) impõem uma situação de assimetria insustentável para o Sul Global. “É a hora de interromper os mecanismos que sustentam há séculos o financiamento do mundo, desenvolvido às custas de economias emergentes em desenvolvimento.”
Para o mandatário, a estrutura financeira mundial deve direcionar recursos para o desenvolvimento sustentável das nações emergentes. “Não podemos vislumbrar um mundo diferente sem questionar um modelo neoliberal que aprofunda desigualdades: três mil bilionários ganharam U$ 6,5 trilhões (R$35,7 trilhões), desde 2015. Esta cifra supera o PIB nominal atual da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático] e do Brasil somados”.
O líder brasileiro ainda falou sobre o aumento de tarifas no comércio entre países, sem mencionar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que aumentou em 50% as tarifas de importação sobre produtos brasileiros no início de agosto.
Segundo Lula, a medida não pode ser adotada como mecanismo de coerção internacional. “Nações que não se dobram ao colonialismo e à dicotomia da Guerra Fria não se intimidarão diante de ameaças irresponsáveis”, disse
Lula também atacou a falta de responsabilidade dos países com o meio ambiente. “Como é que nós vamos evitar que o planeta possa ser destruído, se nós sabemos o que está destruindo o planeta e não tomamos atitude para evitar que ele seja destruído?”, questionou, afirmando que a COP30, em Belém, será “a COP da verdade”.
“Nós, lideres políticos, é que temos que tomar a decisão do que fazer. Chega um momento que a gente tem que pensar no planeta. E aí é que é preciso ter instrumentos de governança global. E isso é o que nos faz falta hoje”.
“Governar é fazer escolhas, é decidir de que lado você está. Para um governante, andar de cabeça erguida é mais importante que um Prêmio Nobel. Cuidar das pessoas mais humildes é quase uma missão bíblica”, declarou, em referência ao objetivo norte-americano de que Trump, recebesse um Nobel da Paz pela mediação na guerra da Ucrânia e em Gaza.
Parceria com Malásia
Na visita à Malásia, Lula disse que a parceria excede o interesse comercial entre os dois países. Há um movimento de exportações e importações na casa dos US$ 5,8 bilhões por ano (cerca de R$31 bilhões). Ele destacou os acordos de cooperação na área de ciência e tecnologia e lamentou que nenhum presidente brasileiro esteve no país nos últimos 30 anos.
A convite do Primeiro-Ministro Anwar Ibrahim, realizo a primeira visita que um presidente brasileiro faz à Malásia em 30 anos. Trago comigo ministros de Estado, para firmar novos acordos de cooperação, e empresários, para abrir novas possibilidades de comércio. E trago também… pic.twitter.com/G4b7LQBCL0
— Lula (@LulaOficial) October 25, 2025
“A relação do Brasil com a Malásia muda de patamar a partir de hoje. Eu não vim aqui apenas com o interesse de vender ou com o interesse de comprar. Nós temos possibilidade de mudar o mundo, de fazer com que as coisas sejam melhores”.
O presidente Lula permanece na Malásia até a próxima terça-feira (28/10), quando participará de encontro com empresários do país e da Asean, bloco que reúne países do Sudeste Asiático. Neste domingo (26/10), o mandatário brasileiro deve se reunir com Trump, para buscar uma solução para a questão das tarifas aos produtos brasileiros importados pelos norte-americanos.
(*) Com Agência Brasil























