Sábado, 6 de dezembro de 2025
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As autoridades gregas reforçaram a segurança em dois importantes portos, à medida que a crescente indignação global com o genocídio em Gaza se espalha pelas ruas, com manifestantes protestando contra um navio de cruzeiro que transportava cidadãos de Israel — um sinal do aprofundamento do isolamento internacional de Tel Aviv.

Reforços policiais foram enviados para os portos de Patras e Katakolo, no Peloponeso, após manifestações que eclodiram no início desta semana, quando o navio MS Crown Iris atracou na cidade grega de Kalamata. Em julho, israelenses a bordo da mesma embarcação foram impedidos de desembarcar na ilha de Syros depois que manifestantes pró-Palestina bloquearam o porto, forçando o navio a desviar para o Chipre.

“Não podíamos ficar calados”, disse Christina Lada, uma professora que participou do protesto em Kalamata, ao The Guardian.

“Apesar do cessar-fogo, Israel continua seus ataques em Gaza. Civis inocentes e desarmados estão sendo mortos”, enfatizou.

Do convés superior, israelenses — que supostamente eram ex-membros das Forças de Defesa Israelenses (IDF) — observavam sob proteção policial armada enquanto manifestantes pró-Palestina gritavam: “Vocês precisam da polícia, vocês não são bem-vindos na Grécia”.

Yannis Sifanakis, um ativista que organizou manifestações contra a guerra de Israel em Gaza em toda a Grécia, disse que os protestos foram motivados pela indignação com os acontecimentos no enclave palestino. “Os israelenses que apoiam as ações de seu governo não são bem-vindos aqui”, declarou ele, descrevendo a Grécia e o Mediterrâneo em geral como “um lar comum” unido pela geografia e pela história.

O analista de relações internacionais Constantine Filis, chefe do Instituto ACG de Assuntos Globais em Atenas, disse ao The Guardian que os laços históricos da Grécia com o mundo árabe amplificam a sensibilidade pública aos acontecimentos em Gaza.

Navio cruzeiro que transportava israelenses mudou sua rota devido as protestos pró-Palestina
X/Al Mayadeen

“Devido à proximidade geográfica e aos laços tradicionais com o mundo árabe, o grego é mais sensível ao que acontece em Gaza do que o europeu”, disse ele. “Mas Israel é muito mais importante para nós como aliado e parceiro do que para a maioria dos estados europeus”.

Interrompa qualquer colaboração com Israel

A Grécia tornou-se um importante destino para os israelenses, com mais de 600 mil chegadas registradas em 2024, número que deve aumentar em 2025. O florescimento do turismo reforça a parceria estratégica cada vez mais sólida entre Atenas e Tel Aviv desde 2010, que abrange cooperação econômica, militar e energética.

“A Grécia não vai arriscar suas relações com Israel”, disse Filis. “Mas, de uma perspectiva humanitária, precisamos ser mais inclusivos, mais equilibrados e mais determinados a demonstrar as injustiças cometidas por Israel em Gaza”.

A dimensão dos protestos deixou as autoridades israelenses apreensivas. Em agosto, o Ministério das Relações Exteriores de Israel alertou seus cidadãos para que mantivessem um perfil discreto durante as visitas, enquanto a mídia local descreveu Atenas, onde demonstrações pró-Palestina teriam ocorrido por toda a capital, como um “paraíso perdido”.

Entretanto, grupos pacifistas ampliaram suas reivindicações. No início deste mês, cerca de cinco mil manifestantes se reuniram em Creta para exigir o fechamento da base naval da Baía de Suda, uma instalação crucial da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) usada para reabastecer navios de guerra e aeronaves norte-americanas com destino a Israel desde o início do genocídio em Gaza.

“Houve vitórias”, disse Petros Constantinou, coordenador do movimento antirracista grego Keerfa. “Nossa principal reivindicação agora é o fim de qualquer colaboração com Israel”.