Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Para os palestinos na Faixa de Gaza, desde a implementação do acordo de cessar-fogo, em 10 de outubro, o cenário de genocídio não mudou, uma vez que o Exército de Israel segue atacando a população local, via forças aéreas e terrestres, e mantém restrições rígidas à ajuda humanitária. Estes são os relatos colhidos pela emissora catari Al Jazeera que contrariam as recentes declarações proferidas por funcionários de alto escalão do governo norte-americano.

Nesta quarta-feira (22/10), o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, que teve uma reunião com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, projetou “positividade” no tratado costurado pelo mandatário Donald Trump. Já no dia anterior, o enviado especial de Washington para o Oriente Médio, Steve Witkoff, alegou que o plano de “paz” está “superando as expectativas”. As autoridades norte-americanas estão em Israel nesta semana para discutir os desdobramentos do acordo. 

O cessar-fogo já se mostrava enfraquecido nos últimos dias, com recorrentes acusações pelo lado israelense de que o Hamas estaria sabotando as cláusulas ainda em sua primeira fase, destinada principalmente à troca de reféns. No entanto, o grupo palestino reafirmava compromisso com o tratado, mas reconhecia dificuldade na operação de buscas devido à destruição no enclave, resultada dos intensos bombardeios israelenses ao longo de dois anos de genocídio televisionado. 

Foi no domingo (19/12) que o governo Netanyahu deu aval ao seu Exército para que atacasse Gaza com força total, alegando que o Hamas violou o acordo, porém, sem apresentar provas. Naquele dia, militares israelenses disseram que militantes, posteriormente associados por Tel Aviv como pertencentes ao grupo palestino, dispararam um míssil antitanque e tiros contra suas tropas na área de Rafah, no sul do enclave. Após a ofensiva em larga escala na Palestina, que matou 45 pessoas, Israel anunciou a retomada da trégua.

Mesmo depois que o cessar-fogo foi reimplementado, nos últimos dias, bombardeios israelenses persistiram em partes do enclave e, além disso, os civis palestinos continuaram lutando por necessidades básicas. De acordo com os relatos à Al Jazeera nesta quarta-feira, os hospitais locais receberam pelo menos 13 corpos nas últimas 24 horas após novos ataques israelenses. Desde 7 de outubro de 2023, o Ministério da Saúde de Gaza registrou pelo menos 68.229 mortes e 170.369 pessoas feridas.

Mohammad Al Matouq, uma criança de 18 meses da Cidade de Gaza, foi de 9 kg para 6 kg
Getty Images

Ajuda humanitária escassa

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas relatou que a entrada dos suprimentos básicos para Gaza segue muito aquém de sua meta diária de duas mil toneladas, uma vez que apenas duas passagens para o território palestino estão abertas: Karem Abu Salem, no sul, e al-Karara, no centro.

No fim de semana, Israel condicionou a abertura de Rafah, importante passagem humanitária entre o Egito e Gaza, à devolução completa de reféns por parte do Hamas –, porém, impedindo respaldo internacional ao grupo palestino, em meio ao impasse nas operações de busca.

Aproximadamente 750 toneladas métricas de alimentos estão entrando na Faixa de Gaza diariamente, de acordo com o órgão da ONU, o que é pouco quando proporcionalmente levamos em consideração à população local de quase 2,5 milhões de pessoas. “Para poder chegar a essa expansão, temos que usar todos os pontos de passagem de fronteira agora”, alertou o porta-voz Abeer Etefa, em uma coletiva em Genebra na terça-feira (21/10).

Em meio à contínua crise humanitária e operações militares israelenses, Netanyahu, após encontro com JD Vance, mencionou que já foram discutidos os planos para “o dia seguinte” em Gaza.

“Estamos apenas criando um dia inacreditável com uma visão completamente nova de como ter o governo civil, como ter a segurança lá, quem poderia fornecer essa segurança lá”, disse o premiê. “Não vai ser fácil, mas acho que é possível … Estamos realmente criando um plano de paz e uma infraestrutura aqui onde nada existia nem uma semana e um dia atrás”.

Ainda nesta quarta-feira, as autoridades palestinas confirmaram o recebimento dos restos mortais de mais 30 palestinos detidos por Israel, elevando o número total de corpos recebidos desde o cessar-fogo, em 10 de outubro, para 195. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, alguns apresentavam marcas de “tortura, espancamento, algemas e vendagem”