Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Milhares de ativistas judeus e árabes se reuniram em Tel Aviv nesta segunda-feira (01/07) sob o slogan “somente a paz pode trazer segurança”, para defender uma solução pacífica que coloque fim ao massacre cometido pelo exército israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza, no qual já foram assassinados mais de 38 mil civis.

O evento chamado “The Time Has Come” (“chegou a hora”) foi realizado no centro de convenções Menora Mivtachim Arena, em ato promovido por diversos setores da esquerda israelense, como o partido socialista Hadash e os movimentos Peace Now e Standing Together. Esses grupos concentram o que a imprensa local chama de “Campo da paz”, por defenderem uma solução negociada e pacífica para o conflito na Faixa de Gaza.

A conferência teve como objetivo lançar uma campanha em favor de um acordo de paz para colocar fim ao conflito em Gaza, baseado em três parâmetros: 1) a libertação tanto de reféns mantidos pelo Hamas quanto de palestinos presos em Israel; 2) o fim de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza e o apoio à reconstrução da região; e 3) o início de conversas junto a representantes da comunidade internacional para a solução de dois Estados, segundo os preceitos defendidos nos Anos 90 pelo então premiê israelense Ytzhak Rabin.

Campanha Free Palestine

Justamente, alguns dos momentos mais emotivos do evento foram as homenagens a Rabin e referências aos Acordos de Oslo, assinados por ele, pelo palestino Yasser Arafat, fundador e líder histórico da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e pelo então presidente norte-americano Bill Clinton, em 1993.

Vale lembrar que Rabin foi assassinado em 1995, quando ainda exercia o cargo de premiê de Israel, em um atentado a tiros promovido por Yigal Amir, um militante do movimento juvenil sionista Bnei Akiva.

A parlamentar israelense Naama Lazimi, do Partido Trabalhista Ha-Avoda, foi uma das principais palestrantes e fez um discurso recheado de referências a Rabin. Também disse, emocionada, que nasceu “em uma família que acredita na paz e que mantém a esperança em um futuro com coexistência pacífica entre os povos”.

“Sou parte de uma geração à qual foi prometido um futuro diferente” disse a congressista, antes de expressar sua preocupação pelos discursos que ouve de gerações mais jovens de israelenses, segundo ela “nitidamente mais extremistas do que seus pais e avós, porque nunca foram expostas a um projeto de convivência em paz entre israelenses e palestinos”.

O encontro também reuniu familiares de reféns do Hamas e de vítimas dos ataques realizados pelo grupo de resistência palestino em 7 de outubro de 2023.

Um deles foi Maoz Inon, cujos pais foram assassinados em sua casa no ano passado. Em seu discurso, Inon afirmou que “para enfrentar a dor do luto, embarquei em uma jornada para buscar paz e reconciliação. Entendi que somente juntos, com um projeto que defenda a paz tanto para judeus quanto para palestinos, poderemos criar um futuro onde não haverá mais vítimas em nenhum dos dois lados”.

Tomer Neuberg / Flash 90)
Parlamentar socialista Ofer Cassif foi um dos apoiadores do evento organizado pelos setores da esquerda israelense

Outros nomes importantes entre os palestrantes da noite foram o historiador Yuval Noah Harari e os políticos Ayman Odeh, presidente do Hadash, e Ofer Cassif, também membro do Hadash.

Em entrevista ao diário The Times of Israel, Cassif criticou o discurso do governo israelense, cujo argumento para justificar o massacre na Faixa de Gaza se baseia na necessidade de uma suposta “vitória total” contra o Hamas.

“Não há vitória total, é uma farsa. Eles (direita israelense) acham que esse é um jogo de soma zero, que Israel deve vencer e que isso exige a eliminação dos palestinos”, comentou Cassif.

Na conferência, o historiador Yuval Noah Harari se expressou através do seu discurso, no qual enfatizou que “a amarga verdade sobre o conflito israelense-palestino é que cada lado teme que o outro esteja tentando aniquilá-lo, e ambos os lados estão certos”.

“É verdade que já tentamos fazer a paz no passado e não fomos bem sucedidos. E daí? Também não tivemos sucesso pela via da guerra, e isso nos impede de tentar de novo e de novo, e de promover todas essas guerras que nos levaram a um abismo. Chegou a hora de fazermos a paz”, concluiu o acadêmico israelense.