Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um tribunal em Londres que examina a possível cumplicidade do governo do Reino Unido, assumido pelo primeiro-ministro Keir Starmer, no genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza, coletou entre quinta (04/09) e sexta-feira (05/09) denúncias de médicos, trabalhadores humanitários e especialistas jurídicos que atuam no enclave desde 7 de outubro de 2023. Entre os relatos, “prática de tiro ao alvo” a genitais de adolescentes.

O médico britânico Nick Maynard, que trabalhou no Hospital Nasser, em Khan Younis, notou que os soldados israelenses tendem a mirar “partes específicas do corpo de crianças palestinas”, principalmente nas regiões como cabeça, pescoço e abdômen. Em uma das ocasiões, o profissional de saúde e seus colegas trataram “quatro adolescentes” que foram encaminhados ao pronto-socorro após serem “baleados nos testículos”.

“O padrão de ataque a partes específicas do corpo é algo que todos reconhecemos em nossas especialidades e reforçado pelos depoimentos dos médicos do pronto-socorro que atenderam todos esses pacientes”, disse Maynard. “É um padrão muito claro que só poderia ser explicado pelo que descrevo como prática de tiro ao alvo por parte dos soldados israelenses”.

Ainda de acordo com o médico, as evidências de práticas de tiro ao alvo “são claras”, uma vez que, em apenas um dia, 19 adolescentes chegaram a ser internados, todos apresentando balas na cabeça ou no pescoço. Segundo Maynard, não há dúvidas de que Israel promova  “genocídio e limpeza étnica” em Gaza.

Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no Corredor Netzer, em Gaza
Maayan Toaf

Ministros podem ser processados por cumplicidade a Israel

O tribunal em Church House, na cidade de Westminster, foi aberto pelo ex-líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, um ativista de longa data da causa palestina. Nele, também esteve presente a relatora especial das Nações Unidas (ONU) para a Palestina, Francesca Albanese, que foi sancionada pelos Estados Unidos, o principal país aliado do regime sionista, devido a críticas às práticas genocidas no enclave.

Albanese rejeitou os políticos britânicos de continuarem autorizando os laços econômicos e comerciais com Israel. Segundo ela, tais posturas atingiram o “limite criminal” para a cumplicidade com crimes de guerra. Vale lembrar que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu é acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por cometimento de ações que configuram genocídio.

“Este descumprimento das obrigações internacionais por si só poderia ser suficiente para estabelecer um caso de cumplicidade criminal nas ações de Israel. Condutas como a atual e o apoio moral [a Israel] foram considerados como atendendo ao limite criminal para cumplicidade de indivíduos perante tribunais internacionais. Funcionários governamentais podem ser responsabilizados individualmente se forem considerados cúmplices de crimes”, destacou Albanese.

Por sua vez, a diretora executiva da Médicos Sem Fronteiras (MSF), Natalie Roberts, relatou ao tribunal que a organização enviou cartas a ex-primeiros-ministros britânicos, além de ministros das Relações Exteriores, tanto atuais quanto anteriores, solicitando que o Reino Unido “tome medidas para prevenir e punir crimes contra a humanidade e genocídio, em conformidade com seus compromissos internacionais”.

Contudo, com a ausência de “respostas substantivas”, Roberts concluiu que “o governo do Reino Unido não quer reconhecer o que temos a dizer e o que temos visto [em Gaza]”.

Já o diretor da Campanha de Solidariedade Palestina, Ben Jamal, destacou que o genocídio promovido por Israel “não poderia e não seria sustentado sem o apoio ativo e cumplicidade dos governos ocidentais”.

“Sabemos que a cumplicidade do governo britânico em apoiar este regime de opressão remonta a mais de 100 anos. A história desta opressão remonta ao envolvimento britânico no establishment sionista há 78 anos. A política britânica em relação aos palestinos desde então tem sido marcada pela recusa em reconhecer a dinâmica fundamental da dominação racista”, afirmou Jamal.

Dada a falta de ação por parte do governo britânico, o deputado socialista por Leeds East, Richard Burgon, anunciou no tribunal que, na semana seguinte, apresentará um projeto de lei que prevê sanções a Israel. 

“Formarei um novo grupo de trabalho parlamentar para sanções a Israel”, assegurou.

Em 29 de julho, o premiê Keir Starmer anunciou que o Reino Unido reconheceria a Palestina como um Estado, mas apenas sob uma condição: Israel deveria assinar um tratado de cessar-fogo em Gaza e ampliar “significativamente” a entrada de ajuda humanitária na região.