Manifestantes protestam em SP contra visita de porta-voz das Forças de Defesa de Israel
Atividade ocorreu na noite desta segunda-feira (18/08) em frente ao Clube Hebraica, após escracho realizado na capital carioca na semana passada
Manifestantes realizaram, nesta segunda-feira (18/08), um escracho em frente ao Clube Hebraica, em São Paulo, contra a presença do porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Rafael Rozenszajn. Os participantes afirmaram que a vinda do representante militar ao Brasil é um absurdo diante do genocídio da população de Gaza e denunciam a visita como parte de uma campanha israelense para justificar crimes de guerra.
Integrantes de organizações e movimentos pró-Palestina, além de torcidas antifascistas de times de futebol de São Paulo, estiveram no local para compor o ato.
“É uma coisa ofensiva para o Brasil um criminoso de guerra ser homenageado e entrevistado. A gente não aceita que um Exército, em nome do direito de defesa, atire em crianças, mulheres grávidas e em hospitais”, disse uma das manifestantes ali presentes.
A vinda do porta-voz israelense tem uma razão estratégica, afirmou uma outra ativista. “Temos acompanhado a vinda dele ao Brasil. Entendemos que o Brasil é um país importante para as políticas de fomento de Israel no país, que tem como braços organizações como a CONIB [Confederação Israelita do Brasil] e a StandWithUs”, alertou.

Manifestantes em ato no Clube Hebraica em São Paulo
Patrícia de Matos / Opera Mundi
“Gaza é aqui, pode ser em qualquer lugar do mundo; é uma política colonial, de práticas desumanas e isso pode se voltar contra a gente. É sobre Gaza mas é também sobre o Brasil”, disse a manifestante.
Em agosto do ano passado, a técnica de enfermagem Daniela Rodrigues da Silva, de 47 anos, teve o braço quebrado por um segurança da Hebraica. Desta vez, as agressões não passaram imunes: um dos integrantes da organização da Hebraica ofendeu os manifestantes com palavras agressivas e provocações. Mesmo assim, os participantes do protesto encerraram a ação entoando palavras de ordem, como “Palestina livre já” e “Estado Israel, Estado assassino, e viva a luta do povo palestino”, em frente ao local.
Agenda no Brasil
Rafael Rozenszajn veio ao país para o lançamento de seu livro A Guerra de Narrativas, com eventos no Rio de Janeiro e na capital paulista. O lançamento em São Paulo foi na Hebraica, onde ocorreu o protesto. O militar tem concedido entrevistas a veículos como Folha de São Paulo e CNN, nas quais classificou como mentirosos os dados oficiais sobre a crise humanitária no território palestino.
Para outro manifestante presente no ato, as entrevistas do porta-voz da IDF a veículos brasileiros são inadequadas. “A mídia comercial fechou os olhos para o povo palestino (…) nunca se assassinou tantos jornalistas, foram mais de 300 jornalistas assassinados, mais do que na Primeira Guerra, do que na guerra do Vietnã. Nunca mataram tantos jornalistas quanto Netanyahu mata. São assassinatos deliberados, porque eles querem esconder o que está acontecendo com o povo palestino”.
A obra do militar israelense traz prefácio do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, e posfácio do presidente da CONIB, Cláudio Lottenberg. De acordo com a divulgação da entidade, o objetivo do livro é “descrever o cenário real do conflito, deixando claro que Israel enfrenta uma ameaça constante de grupos terroristas organizados”.
O ato em São Paulo não foi o primeiro. Na semana anterior, manifestantes também realizaram escracho no Rio de Janeiro, onde estava programada uma entrevista entre Rozenszajn e o Pedro Bial. O encontro com o jornalista não aconteceu, pois Bial alegou problemas de saúde. Segundo organizadores da manifestação, a desistência ocorreu após ação coordenada por ativistas nas redes sociais para denunciar a vinda do porta-voz das IDF como parte de uma campanha de propaganda do Estado de Israel no Brasil. Ao final, Rafael foi entrevistado por outra jornalista da Folha de São Paulo.

Atividade ocorreu em frente ao Clube Hebraica, após escracho realizado na capital carioca na semana passada
Patrícia de Matos / Opera Mundi
Campanha sionista
A visita do porta-voz israelense acontece em meio a uma ofensiva para conter manifestações críticas a Israel. No início deste mês, um professor de física do Colégio Bandeirantes foi demitido após compartilhar em sua rede privada conteúdo crítico ao genocídio em Gaza. Poucos dias depois, o Theatro Municipal de São Paulo rompeu contrato com a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), justificando o cancelamento pela participação de autores críticos às ações militares israelenses.
Entidades ligadas a Israel também ampliam sua atuação em espaços educacionais. A StandWithUs Brasil, por exemplo, mantém parceria com a Secretaria de Educação de São Paulo para atividades em escolas públicas para um suposto combate ao antissemitismo. Segundo especialistas, essas ações fazem parte de uma estratégia de legitimação das políticas israelenses junto à opinião pública.

Manifestantes protestam em SP contra visita de porta-voz das Forças de Defesa de Israel
Patrícia de Matos / Opera Mundi























