Manifestantes interrompem Volta da Espanha para protestar contra Israel: ‘não é guerra, é genocídio’
Na tarde deste domingo milhares de pessoas invadiram as ruas de Madri e impediram a final da competição, uma das mais importantes do ciclismo mundial
Com bandeiras e cartazes pró-Palestina, milhares de manifestantes ocuparam as ruas de Madri neste domingo (14/09) derrubando barreiras e interrompendo a etapa final da tradicional Volta da Espanha, uma das competições mais importantes do ciclismo mundial, para denunciar o genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza.
O protesto teve início na região de Atocha, perto da principal estação de trem da cidade, e em poucos segundos uma maré humana invadiu as vias que estavam reservadas para o evento esportivo. A multidão avançou em direção à região de Cibeles, nas proximidades do prédio da prefeitura de Madri, onde seria realizada a cerimônia de entrega das medalhas.
Na última etapa, quando ainda faltavam 43 quilômetros para a chegada do grupo que liderava a disputa, a direção da competição decidiu anular a prova por conta das grandes manifestações em vários pontos da cidade.
“Vim protestar pelo genocídio que Israel está cometendo em Gaza. Não podemos permitir que esse país participe de nenhum evento, nem esportivo nem cultural. Acho perfeito que esta competição tenha sido suspendida. É uma vergonha que a minha cidade acolha uma equipe que está patrocinada por um homem que apoia esse genocídio”, disse à reportagem de Opera Mundi uma manifestante madrilenha de 55 anos.
Dezenas de barreiras de metal ficaram amontoadas nas principais avenidas onde estava previsto que os ciclistas passassem e milhares de ativistas ficaram sentados no meio das ruas durante várias horas.
Milhares de manifestantes interrompem Volta da Espanha para protestar contra presença da equipe israelense Premier Tech, com bandeiras palestinas e gritos de “não é uma guerra, é um genocídio”. Em breve, matéria completa, com relato da nossa correspondente de Madri @viagemcult. pic.twitter.com/imJxhHP50Z
— Opera Mundi (@operamundi) September 14, 2025
Premier Tech
Durante toda a Volta da Espanha, que começou no dia 23 de agosto na França, o principal alvo das diversas manifestações foi a equipe de Israel, a Premier Tech.
A cada nova etapa, centenas de pessoas com bandeiras da Palestina e cartazes contra o genocídio realizavam atos defendendo a exclusão da Premier Tech.
Em algumas dessas etapas, os organizadores do evento decidiram encurtar as provas, para evitar os protestos, que foram convocados principalmente perto das linhas de chegada.
Durante várias etapas o grupo de Israel recebeu forte pressão dos manifestantes; algumas pessoas chegaram até a invadir a pista de corrida o que acabou provocando a lesão de um ciclista espanhol que abandonou a competição após uma queda.

Manifestantes erguem bandeiras da Palestina após invadirem local da chegada da Volta da Espanha
Lucila Runnacles / Opera Mundi
Sportwashing
A equipe israelense Premier Tech, cujo proprietário é o empresário canadense Sylvan Adams, não abandonou a prova. Porém, a pressão popular conseguiu algumas coisas; na metade da competição a equipe retirou o nome do país dos uniformes dos ciclistas e dos carros e anunciou que nos próximos torneios só usará as siglas (IPT) para evitar novos confrontos.
O proprietário da equipe israelense, que se autodefine como “um embaixador de Israel no mundo” e é muito próximo ao premiê Benjamin Netanyahu, é acusado por ativistas de “sportwashing”, uma estratégia para tentar melhorar a imagem pública de Israel através do esporte.
“É claro que o que Israel faz é sportwashing. Uma das prioridades do Estado de Israel para suavizar a sua imagem é participar de diversos eventos culturais e esportivos”, disse à Opera Mundi, Ricci Galiano, porta-voz do grupo Acampamento Palestino.
Nesta Volta da Espanha (a 80ª edição), 23 equipes de diversos países e 184 atletas participaram do torneio. Oito ciclistas de várias nacionalidades competiram pela equipe israelense, mas só um deles é de Israel.
Apesar da última etapa ter sido anulada, o grande vencedor da prestigiada prova foi o dinamarquês Jonas Vingegaard.

Barreiras utilizadas pela organização do evento foram derrubadas pelos manifestantes em Madri
Lucila Runnacles / Opera Mundi
Policiamento reforçado
Depois do início em território francês, a competição também passou por Andorra e seguiu pela Espanha, onde aconteceram o maior número de manifestações pró-Palestina.
Antes do cancelamento da final, na manhã deste domingo o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez expressou sua admiração pelos manifestantes e disse que sente orgulho do povo espanhol.
A declaração reflete a postura do governo local, que tem se posicionado a favor da causa palestina há vários meses. Em maio de 2024, o país anunciou oficialmente o reconhecimento do Estado da Palestina.
Já o prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, representante do conservador Partido Popular (PP) se manifestou através das redes sociais dizendo que “a violência venceu o esporte” e que responsabiliza o premiê Sánchez pelos confrontos na capital espanhola.
As autoridades de Madri reforçaram o policiamento para esta etapa final, mas não o suficiente para conter os manifestantes que apoiam o povo palestino.
Mais de dois mil policiais participaram do plano especial de segurança organizado para esta competição, o que se traduziu no maior esquema policial realizado no país desde a Cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em junho de 2022.
Ao final da tarde, as autoridades locais informaram que duas pessoas foram detidas durante as manifestações, e que 22 policiais ficaram feridos.























