Manifestação em Roma reúne um milhão de pessoas em favor da Palestina
Multidão exigiu fim do genocídio na Faixa de Gaza e que premiê Giorgia Meloni rompa relações governo de Israel
“Somos um milhão”, anunciou do carro de som um dos organizadores, arrancando aplausos e gritos de “Palestina livre” da multidão reunida neste sábado (04/10) na Praça San Giovanni, em Roma, para protestar contra o genocídio cometido pelas forças de Israel na Faixa de Gaza.
O número surpreendeu até a própria polícia: pela manhã, o Ministério do Interior estimava a presença de 20 mil pessoas, mas ao longo da tarde o cortejo tomou as ruas da capital italiana com proporções inéditas.
Em Roma, o ato começou às 14h30 em Porta San Paolo, onde uma enorme bandeira palestina abriu a marcha. O cortejo seguiu lentamente pelo centro da capital, passando pelo viale Aventino, o Coliseu e a via Merulana, até chegar a San Giovanni.
As faixas pediam o “fim da cumplicidade com Israel. Contra a ocupação e o genocídio. Com a resistência palestina”. Outros cartazes traziam os rostos de Giorgia Meloni, Antonio Tajani e Matteo Salvini, com a inscrição “cúmplices do genocídio”. Durante o percurso, ecoavam os gritos de “Renúncia do governo Meloni”.
Mais de 1,5 mil policiais, entre carabinieri e guardas municipais que foram mobilizados para garantir a segurança, junto com dezenas de blindados posicionados em pontos sensíveis da cidade. Estações de metrô foram vigiadas e várias ruas interditadas.
A multidão pró-Palestina voltou a ocupar Roma em uma manifestação nacional convocada pelo Movimento dos Estudantes Palestinos e pela União Democrática Árabe-Palestina, à qual aderiram centrais como a União Sindical de Base (USB) e a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL).
Também estiveram presentes coletivos estudantis e universitários, associações culturais e milhares de cidadãos que, segundo os organizadores, “não podem mais permanecer indiferentes ao genocídio do povo palestino”.

Trabalhadores italianos exigem rompimento de relações do governo italiano com Tel Aviv
CGIL Nazionale
‘Humanidade vem primeiro’
Entre os manifestantes estava Odila dal Santo, 79 anos, professora aposentada que vive em Schio, uma pequena cidade do Vêneto. Há vinte anos, ela esteve em Gaza, pouco depois da retirada de Israel.
“Fiz muitas fotos que documentam a destruição, Gaza estava rasa ao chão. Naqueles anos também era muito difícil. Eu acreditei na solução de dois Estados, mas não acredito mais. Israel nunca deixará a Palestina em paz”, afirmou Odila.
A professora completou dizendo que “agora vemos um despertar de consciência da sociedade civil, finalmente despertamos. A humanidade vem primeiro”.
“Não é uma questão de ser de direita ou de esquerda, aqui falamos de crianças e mulheres que são mortas todos os dias, de um povo que está sendo exterminado”, refletiu.
Detentos em favor da Flotilha
A manifestação é o ponto alto de várias semanas de mobilizações em solidariedade ao povo palestino. Na sexta-feira (03/10), uma greve geral atingiu mais de cem cidades e mobilizou cerca de dois milhões de pessoas em todo o país.
A adesão à paralisação do dia anterior foi tão ampla que até detentos da penitenciária da Dozza, em Bolonha, se juntaram ao protesto e decidiram não trabalhar, abrindo mão de um raro momento de liberdade e do salário diário.
Em carta coletiva, os presos escreveram a seguinte mensagem: “para nós, presos, trabalhar é um momento de liberdade dentro do contexto carcerário em que vivemos. Apesar disso, renunciamos a um dia de liberdade e ao nosso pagamento”.
“Esta decisão foi tomada para manifestar toda a nossa indignação pelo genocídio em curso e para apoiar as pessoas da Flotilha, presas com a única culpa de serem embaixadoras da humanidade. Este é o mínimo que podemos fazer para agradecer a todos os cidadãos que, todos os dias, lutam pelos direitos dos detentos”, disseram os detentos em seu manifesto.

Professora aposentada Odila dal Santo durante protesto pró-Palestina na Itália
Janaína César
Controvérsia com caso líbio
A onda de protestos acontece em meio à polêmica sobre a repatriaçao dos ativistas da Global Sumud Flotilla (GSF) sequestrados e presos ilegalmente pelo governo de Israel. O governo Meloni declarou que prestará assistência consular aos italianos que foram detidos ilegalmente, mas não pretende pagar os custos de repatriação.
A decisão contrasta com a postura do mesmo governo em janeiro deste ano, quando utilizou um voo de Estado para repatriar Njeem Osama Elmasry, também conhecido como Almasri, chefe da polícia judiciária da Líbia.
Elmasry havia sido preso em Turim em 19 de janeiro sob um mandado emitido pela Corte Penal Internacional, acusado de homicídios, torturas, estupros e outros crimes graves contra a humanidade. Apesar das acusações, o governo Meloni organizou e custeou seu retorno imediato a Trípoli,o que gerou forte escândalo político e críticas internacionais.
Enquanto isso, a porta-voz italiana da Flotilha, Maria Elena Delia, anunciou a apresentação de uma denúncia à Procuradoria de Roma contra a “detenção ilegal dos ativistas”.
O ato pró-Palestina em Roma consolida uma onda de mobilizações que tomou toda a Itália. De norte a sul, estudantes, trabalhadores e famílias com crianças marcharam pedindo o fim do “genocídio em Gaza” e sanções contra Israel. “Roma hoje representa toda a Itália”, afirmaram os organizadores.























