Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Na cúpula de emergência convocada em Doha, a Liga de Estados Árabes determinou nesta segunda-feira (15/09), por unanimidade, “total apoio” ao Catar, assim como a revisão de todos os laços diplomáticos e econômicos com Israel, após o ataque promovido por Tel Aviv contra um prédio residencial que abrigava membros do Hamas em seu território, na semana passada. 

Antes da publicação da declaração conjunta, a agência AFP teve acesso a um dos trechos do documento em que a cúpula pede “a todos os Estados que tomem todas as medidas legais e eficazes possíveis para impedir que Israel continue suas ações contra o povo palestino, inclusive revisando as relações diplomáticas e econômicas com ele e iniciando processos legais contra ele”.

Nesta segunda-feira, o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, abriu o encontro alertando contra a visão expansionista de Israel sobre a região árabe, criticando o país pela “agressão flagrante, traiçoeira, covarde” a Doha que, segundo ele, busca minar as negociações para acabar com o genocídio na Faixa de Gaza.

“A capital do meu país foi submetida a um ataque traiçoeiro contra uma residência que abrigava as famílias dos líderes do Hamas e sua delegação de negociação”, disse o emir do Catar sobre o atentado de 9 de setembro que matou seis pessoas, incluindo cinco palestinos membros do Hamas e um policial catari.

Doha, que é um aliado próximo dos Estados Unidos e abriga a maior base militar norte-americana na região, classificou o que Tel Aviv fez como “terrorismo de Estado”. O ataque supervisionado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu teve como alvo os líderes do Hamas que, no momento do incidente, estavam discutindo uma proposta de cessar-fogo em Gaza. 

De acordo com o xeque Tamim, as ações do regime sionista mostraram que Israel não tem interesse genuíno na consolidação de um tratado de paz e libertação de reféns. Para ele, Israel tenta propositalmente “frustrar as negociações” .

“Quem trabalha de forma diligente e sistemática para assassinar a parte com quem está negociando busca desestabilizar as negociações (…) para eles, as negociações não são mais do que parte da guerra”, destacou a autoridade.

Nesse sentido, o xeque Tamim defendeu a implementação de sanções contra o governo Netanyahu, ao dizer que “a comunidade internacional deve parar de aplicar ‘dois pesos e duas medidas’ [contra Netanyahu] e punir Israel por todos os crimes que cometeu”.

Cúpula de emergência em Doha, no Catar, condena formalmente Israel pela continuidade dos ataques a Gaza e violação do direito internacional
X/@TamimBinHamad

Isolamento econômico

Na mesma linha, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, sugeriu como penalidade a Israel o “isolamento econômico”.

“No setor econômico, Israel deveria ser deixado de lado”, disse o mandatário, reforçando que sua nação já interrompeu “todas as transações com os israelenses no último um ano e meio”. Nas últimas semanas, Ancara também anunciou ter fechado o seu espaço aéreo e seus portos a Tel Aviv.

“O verdadeiro objetivo do governo Netanyahu é continuar o massacre e o genocídio na Palestina e, sem qualquer discriminação, levar toda a região à instabilidade”, acrescentou Erdogan.

Em paralelo à cúpula de emergência, Netanyahu se pronunciou em uma conferência do Ministério das Finanças em Jerusalém, admitindo que Israel enfrenta um crescente isolamento econômico. 

“Precisaremos cada vez mais nos adaptar a uma economia com características autárquicas [sem comércio exterior]”, disse o premiê. “Sou um defensor do mercado livre, mas podemos nos encontrar em uma situação em que nossas indústrias de armas sejam bloqueadas. Precisaremos desenvolver indústrias de armas aqui – não apenas pesquisa e desenvolvimento, mas também a capacidade de produzir o que precisamos”.

O comentário de Netanyahu foi logo rebatido pelo líder da oposição israelense, Yair Lapid, que o classificou como “uma declaração maluca”. Segundo o opositor, o isolamento “não é um decreto do destino, é o produto de uma política errada e fracassada de Netanyahu e seu governo”.

‘OTAN’ da Liga Árabe

Por sua vez,  o Iraque afirmou que a Liga deveria criar um acordo semelhante ao da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), cooperada entre os Estados Unidos e países europeus, uma vez que o ataque do inimigo equivale a uma agressão contra todos os membros do grupo.

“Precisamos de uma resposta de segurança coletiva, no estilo da OTAN”, disse o primeiro-ministro iraquiano, Mohammed al-Sudani, citado pela emissora catari Al Jazeera, ao comentar o atentado israelense.

Durante uma coletiva no âmbito da cúpula, os estados do Golfo também pediram para que os EUA, aliados próximos, usem sua influência para conter Israel.

“Eles têm influência e influência sobre Israel, e é hora de essa influência ser usada”, disse o secretário-geral do Conselho de Cooperação do Golfo, Jasem Mohamed Al-Budaiwi.

Vale lembrar que nesta segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, e Netanyahu voltaram a se reunir em Tel Aviv com o alegado objetivo de “consertar divergências” no que diz respeito ao ataque ao Catar. Sobre o atentado, o presidente dos EUA, Donald Trump, manifestou “descontentamento”, apesar de uma apuração do portal Axios deste dia relatar que o republicano estava ciente da ofensiva, mas que “não disse não” e que Israel “comprou a versão” para “proteger a relação”.

Durante o encontro, Netanyahu reiterou que Trump é o “maior amigo” que sua nação já teve na Casa Branca, e que a visita de Rubio “é uma mensagem clara de que os EUA apoiam Israel”.

(*) Com Ansa