Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Microsoft anunciou estar conduzindo uma investigação interna sobre o uso de sua plataforma de nuvem Azure pela Unit 8200, uma agência de vigilância militar israelense, conforme o jornal britânico The Guardian informou neste sábado (09/10). Nesta semana, o veículo publicou um relatório que revelou que a unidade israelense tem armazenado milhões de chamadas telefônicas interceptadas de palestinos nos servidores da Microsoft na Europa.

O documento publicado, à princípio, na quarta-feira (06/08) teve parceria com a revista +972 Magazine e o site Local Call. A investigação feita pela imprensa levantou preocupações sobre a transparência de funcionários da equipe da Microsoft baseados em Israel e a cumplicidade com o genocídio que já deixa mais de 61 mil mortos.

Segundo o relatório, a Unit 8200 — comparável à Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos — utilizou um ambiente segregado dentro da plataforma de nuvem Azure para guardar gravações de ligações diárias vindas do território palestino. Fontes da agência israelense confirmaram à apuração que os dados foram usados para espionar palestinos e facilitar a preparação de ataques aéreos em Gaza e na Cisjordânia.

Preocupações sobre transparência

De acordo com o The Guardian, executivos da empresa norte-americana Microsoft questionam se equipes israelenses ocultaram detalhes sobre o envolvimento militar, uma vez que documentos vazados mostram que alguns dos funcionários que gerenciam projetos com a Unit 8200 têm ligações pessoais com a agência.

Em maio, a Microsoft afirmou não ter encontrado “evidências” de que o Azure foi usado para “atingir ou ferir pessoas” em Gaza.. Contudo, agora, a empresa revisa os dados armazenados e seu uso pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês).

Investigação revela que agência de vigilância militar israelense usou nuvem da Microsoft Azure para espionar palestinos
Wikimedia Commons/Coolcaesar

Contradições

Enquanto a Microsoft insiste que não tinha conhecimento do armazenamento de chamadas interceptadas, documentos internos mostram que executivos sabiam, desde 2021, que a Unit 8200 transfere dados sigilosos para o Azure. Já as IDF negaram qualquer parceria com a gigante norte-americana para “armazenamento ou processamento de dados”.

De acordo com a reportagem do The Guardian, sob o comando de Yossi Sariel, a agência de inteligência israelense expandiu a interceptação de comunicações palestinas e migrou dados sigilosos para a nuvem da Microsoft, usando a inteligência artificial para identificar o que considerou ser ameaça.

O veículo contou que quando Sariel assumiu a liderança da Unit 8200 em 2021, o israelense priorizou a parceria com a gigante norte-americana para armazenar milhões de chamadas telefônicas diárias de palestinos no Azure. A implementação de um sistema chamado de “mensagem ruidosa” escaneava textos em busca de termos considerados suspeitos e classificava ameaças potenciais usando um algoritmo.

Documentos internos mostram que, em julho deste ano, a Unit 8200 armazenou 11.500 terabytes de dados militares israelenses em servidores da Microsoft na Holanda e Irlanda — o equivalente a 200 milhões de horas de áudio. Apesar das negações públicas, registros indicam que executivos da empresa, incluindo o diretor executivo Satya Nadella, apoiaram o projeto, visto como uma oportunidade lucrativa.

Nos últimos meses, a empresa de tecnologia tem vivido uma onda crescente de protestos por parte de engenheiros e outros funcionários que denunciam que as IDF fazem uso dos serviços de IA e computação em nuvem da Microsoft para facilitar suas operações no território palestino.

O grupo pró-Palestina No Azure for Apartheid, formado por funcionários e ex-funcionários da Microsoft, exige que a empresa norte-americana corte laços com o exército israelense. Abdo Mohamed, que foi demitido em 2023, chegou a acusar Nadella de “lucrar com o sofrimento palestino”.