Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

Tendo como principal objetivo atingir a Geração Z dos Estados Unidos, recentemente, o governo de Israel fechou um contrato milionário com a ‘Clock Tower X LLC’, uma agência alinhada aos interesses da extrema direita que atua fornecendo comunicações estratégicas e serviços de mídia – incluindo design, execução e implantação de campanhas políticas e culturais – por meio das plataformas digitais, como TikTok, Instagram, YouTube, podcasts, entre outras.

Pelo valor negociado de US$ 6 milhões (mais de 31 milhões de reais, na cotação atual), quem estará responsável pelo trabalho conjunto com a gestão israelense é Brad Parscale, o ex-gerente de campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Um documento da Lei de Registro de Agentes Estrangeiros (FARA, na sigla em inglês) acessado pela reportagem mostra que Parscale cadastrou a empresa Clock Tower X em 18 de setembro de 2025. A FARA é administrada pelo Departamento de Justiça dos EUA e exige que entidades que atuam em nome de governos ou órgãos estrangeiros se registrem publicamente para aumentar a transparência nas atividades de lobby e de influência política. 

“O Registrante deverá fornecer comunicações estratégicas, planejamento e serviços de mídia em apoio ao engajamento da Havas pelo Estado de Israel para desenvolver e executar uma campanha nacional nos Estados Unidos para combater o antissemitismo”, diz o documento sobre o papel de Parscale. A “Havas Media Network” mencionada no trecho é uma empresa de mídia internacional que trabalha para a chancelaria israelense por meio da Agência de Publicidade do Governo de Israel. 

O documento acrescenta também como nome de referência Eran Shayovich, chefe de gabinete do Ministério das Relações Exteriores de Israel, que atualmente lidera o chamado “projeto 545”, uma campanha que prevê “ampliar os esforços de comunicação estratégica e diplomacia pública de Israel”.

Israel fecha parceria com agência norte-americana para disseminar conteúdo à favor do genocídio e tentar reverter desgaste de imagem
Wikimedia Commons/Jernej Furman

Na prática, como funciona?

De acordo com o Quincy Institute for Responsible Statecraft, um think tank norte-americano que defende a contenção na política externa, pelo menos 80% do conteúdo a ser produzido pela empresa contratada será “adaptado ao público da Geração Z em todas as plataformas, incluindo TikTok, Instagram, YouTube, podcasts e outros canais digitais e de transmissão relevantes”, tendo como meta mínima de alcance 50 milhões de impressões por mês.

Além disso, o think tank revela que a iniciativa inclui a criação de novos sites para influenciar modelos de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, “em nome de Israel”. Detalha ainda que, a Clock Tower X também usará uma plataforma para otimizar os mecanismos de pesquisa MarketBrew AI – um dispositivo de SEO que ajuda os clientes a se adaptarem aos algoritmos e permite a promoção do trabalho em páginas de buscas como Google e Bing, para “melhorar a visibilidade”.

“A Clock Tower integrará suas mensagens pró-Israel nas propriedades da Salem Media Network, um grupo de mídia cristão conservador que possui uma vasta rede de rádio e produz programas de alto nível, como o Hugh Hewitt Show, o Larry Elder Show e o Right View with Lara Trump. Em abril, a rede de mídia conservadora anunciou Donald Trump Jr. e Lara Trump como partes interessadas significativas na empresa”, acrescenta o Responsible Statecraft. Vale ressaltar que Parscale é também diretor de estratégia do Salem Media Group.

Trata-se de um mecanismo para amenizar a crescente rejeição norte-americana a Israel. Em julho, uma pesquisa Gallup apontou que cada vez mais a população dos EUA tem rechaçado o genocídio promovido por Tel Aviv na Faixa de Gaza. Segundo o levantamento, apenas 9% dos cidadãos norte-americanos com idades entre 18 e 34 anos apoiavam as ações militares do regime sionista no território palestino.

Na última segunda-feira (29/09), uma pesquisa do New York Times revelou que a opinião pública norte-americana a Israel sofreu uma reviravolta desde o início do massacre televisionado. Pela primeira vez desde 1998, o apoio aos palestinos foi maior do que com os israelenses: 34% disseram estar do lado de Israel e 35% da Palestina, enquanto 31% afirmaram apoiar ambos ou não saber responder. Após os ataques de 7 de outubro de 2023, a situação era inversa: 47% se diziam pró-Israel contra 20% pró-Palestina.