Israel ataca Catar para eliminar lideranças do Hamas
Governo catari acusa regime sionista por agressão ilegal e é apoiado por países da região; filho de principal negociador de paz, Khalil al-Hayya, está entre mortos
Matéria atualizada às 14h50, 09 de setembro de 2025
Após relatos de explosões em Doha, o Exército de Israel anunciou ter lançado um ataque aéreo nesta terça-feira (09/09) visando “lideranças do Hamas”. Momentos depois, as autoridades do Catar publicaram um comunicado condenando “nos termos mais fortes” a ofensiva do regime sionista, destacando ter atingido prédios residenciais de sua capital, onde vários membros do escritório político do Hamas estão abrigados.
Segundo uma fonte do grupo palestino ouvido pela emissora catari Al Jazeera, as lideranças do movimento foram alvejadas quando discutiam a proposta de cessar-fogo em Gaza apresentada pelos Estados Unidos. A chancelaria catari disse que um membro das forças de segurança do país foi morto e “outros” ficaram feridos. Já o membro sênior do Hamas, Suhail al-Hindi, disse à Al Jazeera que a liderança do grupo nas negociações de paz, Khalil al-Hayya, sobreviveu ao ataque, mas que o filho de al-Hayya, Humam, e um de seus principais assessores acabaram assassinados. Até o momento, não há números oficiais de mortos e feridos. As investigações seguem em curso.
Ao confirmar o ataque, o Exército israelense detalhou ter sido uma ação coordenada com a agência de segurança interna Shin Bet, que teve supervisão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu; o ministro da Defesa, Israel Katz; o chefe interino do Shin Bet, Mem; o chefe da Diretoria de Inteligência das Forças de Defesa, major-general Shlomi Binder; entre outros. O órgão ainda disse que se tratou de uma ofensiva contra “membros não identificados do Hamas” que lideraram as atividades do grupo “por anos”.
O episódio ocorre dias depois que o chefe do Exército israelense, Eyal Zamir, ameaçou assassinar líderes do Hamas que vivem no exterior, e horas depois que o ministro das Relações Exteriores do regime sionista, Gideon Saar, disse que o governo de Netanyahu aceitou uma proposta de cessar-fogo em Gaza oferecida pelos EUA.

Israel assume ataque aéreo contra prédios residenciais em Doha, no Catar
X/Muslim
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al-Ansari, disse por meio de comunicado que o país “condena nos termos mais fortes” o “ataque criminoso” israelense. A pasta enfatizou que as forças de segurança, a Defesa Civil e as autoridades competentes começaram, de imediato, a apurar o incidente e a tomar as medidas necessárias para garantir a segurança civil.
“Este ataque criminoso constitui uma violação flagrante de todas as leis e normas internacionais e uma séria ameaça à segurança dos catarianos e residentes do Catar”, diz a nota. “O Estado do Catar afirma que não tolerará esse comportamento imprudente de Israel e sua contínua interferência na segurança regional”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baqaei, classificou o ataque como uma violação “perigosa” do direito internacional. “Esta ação extremamente perigosa e criminosa é uma violação grosseira de todas as regras e regulamentos internacionais, uma violação da soberania nacional e integridade territorial do Catar”, disse.
Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita informou que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, ligou para o emir do Catar, xeque Tamim Al Thani, oferecendo “total apoio” e expressando “condenação ao flagrante ataque israelense ao Estado irmão do Catar, que constitui um ato criminoso e uma violação flagrante das leis e normas internacionais”.
O governo dos EUA não fez comentários imediatos após o noticiamento do ataque. A principio, a Al Jazeera consultou fontes militares norte-americanas baseadas na região, que afirmaram não terem tido ciência da ação. Já veículos israelenses, como The Times of Israel, diziam, por outro lado, que o presidente Donald Trump tinha conhecimento prévio do plano. A mídia destacava, ainda, que dois dias atrás, o republicano emitiu um “último aviso” ao Hamas sobre “as consequências de não aceitar” um tratado de cessar-fogo.
Horas depois, um funcionário da Casa Branca disse à Al Jazeera que Washington “foi informado da operação contra funcionários do Hamas no Catar”.
Total autoria de Israel
O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, publicou um comunicado assumindo totalmente a autoria do ataque, mas sem mencionar que ele foi executado em Doha.
“A ação de hoje contra os principais chefes terroristas do Hamas foi uma operação israelense totalmente independente”, disse o órgão. “Israel iniciou, Israel conduziu e Israel assume total responsabilidade”.
Mais tarde, o gabinete, juntamente com o Ministério da Defesa do país, emitiu uma nota revelando que a ofensiva foi decidida após os tiros ocorridos no dia anterior, em Jerusalém.
“Hoje ao meio-dia, diante de uma oportunidade operacional e após consultas com todas as autoridades de segurança, o premiê Netanyahu e o ministro da Defesa, [Israel] Katz, decidiram implementar as instruções dadas ontem à noite após o ataque em Jerusalém”, afirmou o texto.
Hamas e Hezbollah condenam ataque
O oficial do Hamas, Suhail al-Hindi, disse que o ataque em Doha teve como alvo principal o Hamas e o Catar, mas que ele simboliza uma agressão contra todos os árabes, muçulmanos e pessoas livres em todo o mundo.
“O mundo livre deve rejeitar este crime hediondo – a tentativa de matar aqueles que discutem o fim da guerra em Gaza”, disse o alto funcionário do grupo palestino à Al Jazeera. “Condenações e declarações não são suficientes”.
Por sua vez, o Hezbollah classificou a ação de Israel como um “crime covarde”, enfatizando que o regime sionista mostra sua “persistência” em violar a soberania de outras nações “quando e como quiser”.
“Este crime covarde só prova a maldade e a falta de vergonha da entidade sionista, que está revelando ao mundo um novo nível de criminalidade e seu desrespeito por todas as leis e normas internacionais”, disse o movimento de resistência libanês. O Hezbollah também pediu aos países árabes e muçulmanos que pressionem os EUA “por todos os meios” a suspender seu apoio incondicional a Israel.























