Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Durante visita a Israel, com o objetivo de reforçar o acordo de cessar-fogo em Gaza, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, criticou nesta quinta-feira (23/10) “duramente” a aprovação do parlamento israelense de anexar ilegalmente a Cisjordânia ocupada. O projeto de lei visa impor a soberania israelense, a medida é considerada uma violação flagrante do direito internacional.

“A Cisjordânia não será anexada por Israel. A política do governo Trump é que a Cisjordânia não será anexada por Israel. Essa continuaria sendo a nossa política, e se as pessoas quiserem votar simbolicamente, podem fazê-lo, mas certamente não ficamos felizes com isso”, disse ao se despedir no Aeroporto Ben Gurion.

Em comunicado, o Knesset afirmou na quarta-feira (22/10) que a proposta foi aprovada em leitura preliminar “para aplicar a soberania do Estado de Israel aos territórios da Judeia e Samaria (Cisjordânia)”. O texto agora será encaminhado ao Comitê de Relações Exteriores e Defesa do parlamento para novas deliberações.

Apesar da oposição do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e de seu partido, o Likud, os legisladores — em um plenário de 120 cadeiras — votaram por 25 a 24 na terça-feira (21/10) para aprovar o projeto. Esta foi a primeira de quatro votações necessárias para sua conversão em lei. A proposta foi apresentada por Avi Maoz, líder do partido de extrema-direita Noam, que não integra a coalizão governista.

Todos os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental são considerados ilegais perante o direito internacional. Mais de 700.000 israelenses vivem nessas terras, em situação de ilegalidade. Em 2024, o principal tribunal da ONU reafirmou a ilegalidade da ocupação de territórios palestinos e determinou que as forças sionistas devem retirar-se o mais rápido possível.

Em sintonia, o Secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou na quarta-feira (22/10) que o presidente Trump “deixou claro” que a votação no Knesset sobre a anexação “não era algo que apoiaríamos”. “Achamos que isso ameaça até mesmo o acordo de paz. Achamos que pode ser contraproducente”, acrescentou.

Promessa de Trump

Perguntado sobre o tema durante uma entrevista recente à revista Time, o próprio presidente norte-americano Donald Trump disse que “Israel perderia todo o seu apoio nos Estados Unidos se isso acontecer”.

O mandatário estadunidense também alegou que “isso (anexação da Cisjordânia por parte de Israel) não vai acontecer porque eu dei minha palavra aos países árabes (de que não aceitaria a medida)”.

Reações no Knesset

Em nota, o partido Likud descreveu a votação como “outra provocação da oposição com o objetivo de prejudicar nossas relações com os Estados Unidos”. “A verdadeira soberania não será alcançada por meio de uma lei chamativa para registro, mas por meio de trabalho adequado no terreno”, disse o comunicado.

Itamar Ben-Gvir, do partido Poder Judaico e ministro da Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, da facção Sionismo Religioso e ministro das Finanças — ambos integrantes da coalizão de Netanyahu —, votaram a favor do projeto.

O parlamento de Israel aprovou em primeira instância um projeto de lei para anexar a Cisjordânia ocupadaHadi Hijjawi / Wikipedia Commons

O parlamento de Israel aprovou em primeira instância um projeto de lei para anexar a Cisjordânia ocupada
Hadi Hijjawi / Wikipedia Commons / @netanyahu / X

“O povo falou”, declarou Smotrich em uma publicação no X. “Chegou a hora de aplicar a soberania total sobre todos os territórios da Judeia e Samaria — a herança dos nossos antepassados — e promover acordos de paz em troca da paz com os nossos vizinhos, a partir de uma posição de força”, afirmou, utilizando termos bíblicos para se referir à Cisjordânia.

A maioria dos parlamentares do Likud se absteve ou não compareceu à votação. No entanto, Yuli Edelstein desafiou Netanyahu e deu o voto decisivo a favor da proposta. “Neste exato momento, a soberania israelense em toda a nossa pátria é a ordem do dia”, escreveu ele em sua conta no X.

Membros da coalizão de Netanyahu pedem há anos que Israel anexe formalmente partes da Cisjordânia ocupada. O governo de Netanyahu vinha considerando a anexação como resposta ao reconhecimento de um Estado palestino por uma série de aliados ocidentais em setembro.

Em agosto, Israel já havia aprovado um grande projeto de assentamento entre Maale Adumim e Jerusalém, em uma área da Cisjordânia ocupada sobre a qual a comunidade internacional alertou que destruiria a viabilidade de um futuro Estado palestino.

Condenações Internacionais

O Ministério das Relações Exteriores da Palestina, o Hamas, o Catar, a Arábia Saudita e a Jordânia condenaram a votação. Em comunicado, o ministério palestino afirmou que “rejeita veementemente as tentativas do Knesset de anexar terras palestinas”. “Os territórios palestinos ocupados na Cisjordânia, incluindo Jerusalém e a Faixa de Gaza, constituem uma única unidade geográfica sobre a qual Israel não tem soberania”, acrescentou.

Segundo a emissora catari Al Jazeera, o Hamas declarou em um comunicado que os projetos de lei refletiam “a face feia da ocupação colonial”. “Afirmamos que as tentativas frenéticas da ocupação de anexar terras da Cisjordânia são inválidas e ilegítimas”, disse o grupo.

Por sua vez, o Ministério das Relações Exteriores do Catar condenou a medida nos “termos mais fortes”, classificando a votação como “uma flagrante violação dos direitos históricos do povo palestino e um desafio ao direito internacional”.

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita expressou a “rejeição completa do reino a todas as violações expansionistas e de assentamentos realizadas pelas autoridades de ocupação israelenses”, enquanto o Ministério das Relações Exteriores e Expatriados da Jordânia também condenou as votações do Knesset.

“Isso é considerado uma violação flagrante do direito internacional, um enfraquecimento da solução de dois Estados e uma infração ao direito inalienável do povo palestino à autodeterminação e ao estabelecimento de seu Estado independente e soberano com base nas fronteiras de 4 de junho de 1967, com Jerusalém ocupada como sua capital”, disse o comunicado no X.