Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, declarou nesta quinta-feira (14/08) que pretende aprovar a construção de mais três mil assentamentos ilegais na Cisjordânia para “enterrar a ideia de um Estado palestino”.

“Os planos de construção cancelam a ideia de um estado palestino e dão continuidade aos muitos passos que estamos tomando em campo como parte do plano de soberania de fato”, declarou o ministro de extrema direita do governo de Benjamin Netanyahu.

Smotrich detalhou que as licitações seriam para a área no território ocupado que Israel identifica como E1, que conectaria Jerusalém ao território que Tel Aviv chama de Ma’ale Adumim.

“Após décadas de pressão e congelamentos internacionais, estamos rompendo acordos e ligando Ma’ale Adumim a Jerusalém. Isso é o sionismo em sua melhor forma, construindo, colonizando e fortalecendo nossa soberania na Terra de Israel”, acrescentou sobre o projeto congelado há anos devido a pressão internacional.

O ministro extremista afirmou ainda que o primeiro-ministro Netanyahu apoia seu plano. “Ele me apoia em tudo que diz respeito à Judeia e Samaria, e está me deixando criar a revolução”.

“Hoje, qualquer pessoa no mundo que tente reconhecer um Estado palestino receberá uma resposta nossa em campo. Hoje, estamos escrevendo um capítulo histórico na história da redenção do povo de Israel em sua terra”, declarou, em meio a onda de reconhecimento do Estado Palestino entre diversos países.

Smotrich disse também que o plano é “aplicar a soberania israelense, remover para sempre da agenda a ideia de dividir a terra e garantir que até setembro os líderes hipócritas da Europa não tenham nada a reconhecer”.

Agradecendo o apoio dos Estados Unidos, Smotrich disse que as autoridades norte-americanas entendem “que um estado palestino colocaria em risco a existência de Israel” e que a Cisjordânia é “uma parte inseparável da terra prometida por Deus”.

Apesar das declarações do ministro, nem Netanyahu nem as autoridades dos EUA comentaram sobre os novos assentamentos.

Assentamentos anunciados por Smotrich seriam realizados na área E1, que conectaria Jerusalém ao território que Tel Aviv chama de Ma’ale Adumim
WebsThatSell/Flickr

Já o prefeito de Ma’ale Adumim, Guy Yifrach, disse que o novo bairro frustraria um “estrangulamento” buscado por palestinos via “construções ilegais”. Segundo o jornal Times of Israel, a medida expandiria o assentamento de Ma’ale Adumim em cerca de 33% e conectaria áreas residenciais à zona industrial a leste.

Na prática, especialistas e organismos internacionais alertam que tal ligação dividiria a Cisjordânia em blocos norte e sul, esgarçando a possibilidade de uma metrópole palestina contínua de Jerusalém Oriental a Belém e Ramallah — um requisito básico para um Estado viável.

Autoridade Palestina denuncia “continuação do genocídio”

O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) condenou a emissão das novas licitações por Israel na Cisjordânia. Em comunicado, a pasta disse que a construção colonial na área E1 faz parte do plano de Israel para “minar a possibilidade de estabelecer um Estado palestino, minar sua unidade geográfica e demográfica e perpetuar a divisão da Cisjordânia em áreas isoladas, submersas em um ambiente colonial para facilitar sua eventual anexação”.

O documento descreveu as licitações como uma extensão dos crimes de genocídio, deslocamento e anexação, e um eco das declarações de Netanyahu sobre o que ele chamou de “Grande Israel”.

A ANP ainda pediu “uma intervenção internacional genuína e sanções para forçar a ocupação a interromper seus planos, cumprir o consenso internacional sobre a resolução da questão palestina, interromper o genocídio, o deslocamento e a anexação, permitir que os palestinos conquistem seu direito à autodeterminação e permitir que a Palestina estenda sua jurisdição sobre todo o território ocupado desde 1967, incluindo Jerusalém Oriental”.

O porta-voz presidencial palestino, Nabil Abu Rudeineh, também rejeitou as declarações de Smotrich e denunciou que o plano é “a continuação da guerra genocida na Faixa de Gaza”. O representante da ANP alertou que a escalada da violência dos colonos só levará a mais tensão e instabilidade no enclave palestino.

Abu Rudeineh acrescentou que todas as atividades de assentamento na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e toda a Faixa de Gaza, são ilegais segundo o direito internacional, particularmente a Resolução 2334 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

O porta-voz responsabilizou o governo israelense, e a cumplicidade dos Estados Unidos, observando que o anúncio do assentamento ocorreu em paralelo às declarações de Netanyahu sobre a chamada “Visão do Grande Israel”.

Sob a lente do direito internacional, o plano de Smotrich não é um ato administrativo neutro: ele se insere em uma política de colonização ilegal que desestrutura o território palestino, viola normas imperativas e agrava um contexto em que a CIJ já identificou risco de genocídio e impôs medidas vinculantes para preveni-lo

Segundo a emissora Al Jazeera, o plano de Smotrich ainda precisa de aprovação, que deve ser realizada na próxima semana.

(*) Com Brasil247, Middle East Eye, Wafa e informações de Times of Israel