Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A vereadora de Campinas, São Paulo, Mariana Conti (PSOL), integrará a Flotilha da Liberdade, ao lado do ativista Thiago Ávila e de outros 11 ativistas brasileiros. “É preciso multiplicar as ações de solidariedade para aprofundar a pressão pelo fim da limpeza étnica que Israel está implementando e ampliar todas as formas possíveis de apoio à causa palestina”, disse a Opera Mundi.

Essa nova embarcação ocorre após, em junho, o Exército de Israel interceptar e prender os integrantes do barco Madleen, que contou com Greta Thunberg e o brasileiro Ávila. Agora, é esperado um contingente de mais de 40 barcos com o intuito de quebrar o cerco israelense e criar um corredor humanitário para enclave palestino.

“Continuar com as embarcações significa reconhecer que o cerco que Israel vem promovendo em Gaza precisa ser quebrado imediatamente. É importante lembrar que a ocupação ilegal e o cerco que Israel promove contra Gaza não é de hoje”, afirmou.

É previsto que as embarcações cheguem à Faixa de Gaza em 13 de setembro. A primeira saída é neste domingo (31/08) de Barcelona, na Espanha. Outras serão na quinta-feira (04/09) de Túnis, na Tunísia, e locais que ainda não foram divulgados.

Leia a entrevista de Opera Mundi com Mariana Conti na íntegra:

Opera Mundi: como você se aproximou para embarcar nesta flotilha. Essa é sua primeira vez participando da embarcação?

Mariana Conti: acompanho e me solidarizo com a luta dos palestinos pelo direito de autodeterminação e por um Estado próprio desde que me reconheço militante. O meu compromisso é com as lutas anticoloniais e contra todas as formas de exploração e de opressão. Por isso acredito ser essencial, como militante socialista e figura pública vereadora pelo PSOL, colocar a minha plataforma política a serviço da denúncia do massacre televisionado que ocorre em Gaza e fortalecer a luta internacionalista pela Palestina livre e soberana. 

É preciso multiplicar as ações de solidariedade para aprofundar a pressão pelo fim da limpeza étnica que Israel está implementando e ampliar todas as formas possíveis de apoio à causa palestina. Por isso, quando vi o chamado de Thiago Ávila em suas redes sociais para nova Flotilha, me senti na obrigação moral e política de ser parte da experiência, me somando ativamente entre aqueles e aquelas que exigem o fim do cerco, do avanço imperialista de Israel que deseja anexar Gaza e a Cisjordânia, o imediato cessar fogo e a abertura urgente do corredor humanitário para levar ajuda à Gaza. 

Em junho, uma das embarcações, na qual estava Thiago Ávila, foi interceptada pelo Exército israelense. Agora, essa flotilha será maior. Como você avalia a importância de dar continuidade às embarcações rumo a Gaza?

Continuar com as embarcações significa reconhecer que o cerco que Israel vem promovendo em Gaza precisa ser quebrado imediatamente. O cerco, que foi intensificado durante o genocídio, é responsável por levar palestinos à morte por inanição, por exemplo. Tal situação, infelizmente, segue sendo tolerada pelos principais governos e Estados do mundo, mas suscita ao mesmo tempo uma grande onda de solidariedade dos povos de todo o mundo, como expressa essa missão humanitária da Flotilha.

Nessas novas embarcações há presença de personalidades conhecidas, como atores e parlamentares. Como que foi juntar essas personalidades para pressionar Israel? Nesse sentido, como vocês avaliam qual será a recepção de Israel, já que tem pessoas influentes, tanto do mundo da cultura e da política?

A coordenação internacional da Flotilha sempre fez este trabalho de buscar o apoio do maior número de pessoas possível, e isso inclui sensibilizar e aproximar figuras importantes da política, obviamente, mas também do mundo da cultura e das artes em geral. Flotilhas anteriores já contaram com presenças importantes de parlamentares e artistas. Inclusive na flotilha em que o barco Madleen foi ilegalmente sequestrado, estava também a eurodeputada francesa Rima Hassan, que ficou ilegalmente detida em Israel, assim como Thiago Ávila e tantos outros. A diferença é que, agora, a Global Sumud Flotilla está realizando um esforço internacional de solidariedade inédito, com mais de 300 pessoas envolvidas e 44 países representados. 

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Entre todo este contingente, encontram-se parlamentares, eurodeputados, artistas e influenciadores de esquerda. E isso é fundamental para ampliar o alcance da iniciativa e dar mais força política e de comunicação à flotilha. Mas o simples fato de serem mais de 40 embarcações e centenas de pessoas já torna a Global Sumud Flotilla um problema gigantesco para Israel, do ponto de vista de como lidar com este movimento. Interceptar um, dois ou três barcos chegando a Gaza é uma coisa. Sequestrar 40 barcos ou mais já se torna uma operação muito mais complexa, tanto do ponto de vista militar, quanto do ponto de vista político e da repercussão que isso pode gerar. Mas é claro que, do regime sionista, podemos esperar absolutamente tudo. 

E trabalhamos, sim, com cenários em que embarcações possam ser embargadas burocraticamente nos portos e sequer ter autorização para zarpar – como já ocorreu antes -, cenários de ataque violento, como também já houve, e cenários de sequestros ilegais dos barcos. Mas nosso objetivo, e o cenário pelo qual lutamos, é a chegada em Gaza e a abertura de um corredor humanitário. Esse é o sentido desta ação internacional não violenta e é por este objetivo que lutaremos até o final.

'Continuar com às embarcações significa reconhecer que o cerco que Israel vem promovendo em Gaza precisa ser quebrado imediatamente', declara a vereadora Mariana Conti

Vereadora Mariana Conti é uma das brasileiros integrantes da nova Flotilha da Liberdade
Arquivo pessoal Mariana Conti / @freedomflotillabr Instagram

Quais são os itens que vocês estão levando ao povo palestino? Gostaríamos também de entender, se for possível, qual será o percurso e o tempo de estimativa para tentar quebrar o cerco de Israel?

A flotilha leva alimentos, mantimentos básicos, medicamentos, fórmulas infantis e próteses. São itens essenciais de sobrevivência, que são negados diariamente por Israel à população de Gaza. 

A única ajuda “humanitária” que o regime sionista permite na Faixa de Gaza é aquela comandada por uma organização obscura chamada Fundação Humanitária de Gaza, criada por ex-militares e agências de inteligência dos Estados Unidos e de Israel, e cuja especialidade vem sendo massacrar palestinos que se amontoam em filas desesperadoras em busca de comida. É preciso denunciar a ação desta organização sinistra e abrir um verdadeiro corredor humanitário em Gaza, para levar aos palestinos um sinal de esperança de que o auxílio humanitário não cessará e, ao mundo, uma mensagem potente de que, quando governos e governantes falham em fazer a sua parte, a solidariedade internacional ativa faz a diferença. 

Sobre o percurso, a previsão é saírem dezenas de embarcações de Barcelona no dia 31 de agosto e, alguns dias depois, paramos na Itália e na Tunísia para nos juntarmos a mais barcos. A estimativa é que ainda na primeira quinzena de setembro possamos chegar a Gaza.

Após a interceptação da Flotilha em junho, como a missão está avaliando uma possível nova interceptação? Existe um protocolo claro para todos os participantes?

Acreditamos que é muito possível que Israel mais uma vez intercepte os barcos e prenda os ativistas e militantes presentes neles. Na verdade, é muito lamentável toda essa situação, e obviamente ficamos receosos com essa perspectiva, pois sabemos da crueldade do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu: é só acompanhar todas as barbaridades e atrocidades que eles têm cometido contra a população em Gaza para ver do que são capazes. 

É por conta da política criminosa e genocida do cerco que existe a missão pacifista Global Sumud Flotilha de ajuda humanitária. No entanto, mesmo assim, acreditamos que a missão é fundamental, para a denúncia mundial da situação de Gaza e da cumplicidade dos governos – especialmente dos Estados Unidos e Europa que financiam com armas, tecnologias e orçamento o Estado de Israel – quanto para levar ajuda aos palestinos que se encontram em situação de fome e desnutrição. 

Todos nós, que estaremos nas embarcações, passamos por um rigoroso treinamento em Barcelona, voltado a práticas não violentas, comunicação não violenta e linguagem corporal não violenta. Estamos muito bem orientados sobre o que fazer e como agir em caso de interceptação, sempre tendo como linha de ação a não violência. Se houver qualquer agressão e violência, será da parte de Israel, não da flotilha.

Há outros brasileiros participando dessa missão. Como você avalia a importância de ter representantes do Brasil na Flotilha?

São mais de 20 ativistas brasileiros integrando a missão global. Contar com representantes brasileiros demonstra que enfrentar o genocídio é uma responsabilidade das pessoas de todo o mundo, inclusive o Brasil, que carrega uma longa história de enfrentamento anticolonial. Dessa forma, segue sendo essencial pressionar o governo para romper definitivamente todas as relações econômicas, diplomáticas e etc. com Israel.

Qual sua visão em relação a intensificação do Estado de Israel contra Gaza no momento atual? Quais os caminhos que podem ser tomados para acabar com o conflito?

A intensificação representa no atual estágio do genocídio a tentativa de Israel levar às últimas consequências a já defendida “solução final”, que na prática significaria a aniquilação total do que ainda restou de vidas palestinas em Gaza, seguido ao saque capitalista completo do território. Mas essa tentativa de levar o genocídio às últimas consequências tem levantado resistência entre os povos de todo o mundo, inclusive entre os israelenses, que recentemente fizeram grandes manifestações contra a decisão de Netanyahu levar adiante o massacre

Os caminhos possíveis para o fim do conflito são difíceis de imaginar, mas, sem dúvida, passam pela solidariedade e pressão popular dos povos de todo o mundo, os únicos que mesmo a despeito de governos e Estados coniventes com o genocídio, podem se levantar contra a barbárie colonialista, levar ao isolamento total de Israel, e defender a dignidade humana de todos os povos oprimidos.