Influenciadores financiados por Israel gravam vídeos em Gaza e mentem que ‘não há fome’
Criadores de conteúdo dizem que Tel Aviv 'não bloqueia alimentos' e gritam contra funcionários da ONU
O jornal israelense Haaretz revelou na última quinta-feira (21/08) que o governo de Benjamin Netanyahu patrocinou uma turnê para 10 influenciadores com grande alcance em plataformas de mídia social, levando-os aos postos de distribuição de ajuda no enclave palestino – estes, coordenados pela controversa Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por Israel e pelos Estados Unidos.
A excursão, articulada pelo Ministério para Assuntos da Diáspora de Israel, faz parte de uma campanha sionista que tem como objetivo, segundo a pasta, “revelar a verdade” sobre as condições humanitárias do povo palestino, em meio a relatos de ataques a requerentes de ajuda e mortes por fome.
Entre os participantes, incluem-se Xaviaer DuRousseau, um jovem influenciador republicano que possui mais de um milhão de seguidores no Instagram, Facebook e TikTok; o druso israelense Marwan Jaber, de 16 anos, que tem quase 250 mil seguidores no Instagram; o norte-americano Jeremy Abramson, que mora em Israel, com mais de 450 mil seguidores no Instagram; a advogada declaradamente conservadora de Miami, Brooke Goldstein, que possui 150 mil seguidores no Facebook, X e Instagram; e os influenciadores israelenses Shiraz Shukrun e David Mayofis.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, até esta terça-feira (26/08), o número total de requerentes de ajuda mortos chegou a 2.140 desde 27 de maio, quando a GHF passou a operar no enclave. Já as fatalidades relacionadas à fome subiram para 303, incluindo 117 crianças. Nas publicações, os influenciadores financiados por Israel mentem que os palestinos não passam fome e endossam a narrativa sionista de suposto desvio de alimentos por parte do Hamas.
“Vocês podem me odiar por ir ver a verdade o quanto quiserem, isso não mudará os fatos. Israel NÃO é a razão pela qual muitos palestinos estão morrendo de fome”, escreveu DuRousseau em uma postagem. “Vocês, antissemitas do refeitório, querem fingir que se importam com a luta de Gaza, vão lá e se voluntariem para distribuir a comida!”
O jovem republicano também publicou uma foto de si vestido com equipamento militar de proteção, com a legenda “Israel NÃO está bloqueando a entrada de alimentos em Gaza”.
You guys can hate me for going to see the truth all you want, it won’t change the facts. Israel is NOT the reason many Palestinians are starving.
& Since you soup kitchen antisemites want to pretend to care about the Gazan struggle, go there and volunteer to distribute the food! https://t.co/9BRx88ZWWI pic.twitter.com/49Db1AjXR4
— Xaviaer DuRousseau (@XAVIAERD) August 20, 2025
Por sua vez, sem provas, a advogada Goldstein acusou que a entrega de comida, antes da implementação da GHF, estava sendo entregue pela pela Agência da ONU para Assistência a Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) “diretamente nas mãos dos terroristas do Hamas”, acrescentando que “o que a mídia está relatando sobre a situação [em Gaza] é absolutamente falso”.
Data from both the Israelis and the Gaza Humanitarian Foundation show a very sharp decline in the prices of basic goods in Gaza following the massive influx of humanitarian aid into the Gaza Strip. When food gets released into Gaza and given directly to the people, it disrupts… pic.twitter.com/7PVjjQCv3H
— Brooke Goldstein (@GoldsteinBrooke) August 18, 2025
O druso israelense Jaber gravou um vídeo gritando aos funcionários da ONU em Gaza: “que vergonha por não fazerem nada!”
ראיתי את האו״ם ואמרתי להם שייתבישו – I saw the UN and told them to be ashamed! @unitednations pic.twitter.com/BuD1WbcV05
— Marwan Jaber | מרואן גאבר | مروان جابر (@Marwanjaberr) August 20, 2025
No início deste mês, uma reportagem do Haaretz informou que o Ministério das Relações Exteriores de Israel canalizou dezenas de milhares de dólares para trazer influenciadores dos EUA para Israel. O jornal apurou que o financiamento flui através da organização pró-assentamentos Israel365, que tenta reforçar o apoio evangélico a Israel e que recebeu o contrato sem licitação devido à sua “posição única para transmitir uma postura pró-Israel que se alinha inteiramente com a agenda ‘MAGA’ [“Make America Great Again”, slogan de Trump] e America First”.
Ainda de acordo com o Haaretz, as turnês de influenciadores ocorrem comumente quando os jovens eleitores norte-americanos simpatizantes ao Partido Republicano se distanciam do apoio a Israel. Segundo uma pesquisa feita pela Pew Research Center, em março deste anos, apenas 48% dos republicanos com menos de 50 anos tinham uma visão positiva do regime sionista.























